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Críticas

Cineplayers

Não usando um humor chato e idiota, Happy Feet se destaca das demais animações.

7,0

Sempre que se tem notícia da produção de mais uma animação, todos ficam vibrantes. Esse gênero que encanta muitos, porém, já chegou num certo ponto de saturação. Pelo menos no tocante à essência dos enredos, visto que animações são lançadas, em número cada vez maior, a cada ano. Portanto, o segredo mesmo está na inovação de algum tema, que faz com que esse enredo ganhe uma nova forma, um novo molde.

Felizmente, essa inovação é feita em Happy Feet: O Pingüim, nova animação cinematográfica que possui a distribuição dos estúdios Warner Bros. Sendo uma aventura que mais parece um musical, atrelado a boas doses de humor, esse novo desenho agrupa variados componentes que resultam, em conjunto, num bom trabalho técnico, afora ser, também, um ótimo divertimento para pais e filhos.

A trama gira em torno de Mano (ou Mumble, na versão autêntica), um pingüim Imperador que, antagonicamente aos demais companheiros de sua espécie, não possui a dádiva de cantar, e sim, de sapatear. O problema está justamente aí: sem uma canção do coração, um pingüim jamais será respeitado entre os de sua natureza, além de não conquistar o amor de uma fêmea. Sofrendo preconceito de todos, Mano chega até a ser incriminado pela falta de comida do lugar onde vivem. Ao encontrar acidentalmente um grupo diferente de pingüins, ele passa a elevar sua auto-estima, sendo respeitado pelos seus novos colegas, que, futuramente, irão ajudá-lo a descobrir a verdadeira causa do sumiço dos peixes que serviam, para sua sociedade, de alimento.

Como já dito, os filmes tido como infantis, e em especial as animações, possuem uma história que, para a imensa maioria, já se conhece o final, sendo, por isso, banalizada por muitos. É importante perceber que, dependendo da forma como a condução é feita, o filme pode ser, tranqüilamente, sublime. Happy Feet: O Pingüim, não chega a tanto, mas podemos considerá-lo como um dos destaques do ano. O preconceito, mais uma vez, é argumento de um filme. Mano é arrasado pela sua não aptidão ao canto, principalmente pelos mais tradicionais da comunidade, que não aceitam sua permanência entre o grupo. Aí se tem uma crítica explícita a forma como tratamos o diferente. O interessante é que Mano é aceito serenamente por outros pingüins de uma segunda sociedade, mostrando que o diferente para uns, não necessariamente é diferente para outros, merecendo todos, apesar de suas peculiaridades, o devido respeito. Ponto para o filme.

A invasão cada vez maior do homem ao ambiente natural que não lhe pertence, tema já verificado este ano em Os Sem-Floresta, é mostrado aqui aos poucos. Os ETs, como diz o próprio Mano ao referir-se aos humanos, influenciam negativamente na natureza, onde qualquer intromissão não necessária quebra o equilíbrio já estabelecido no ecossistema que, no caso, é o polar. Mais um ponto para o filme.

O roteiro, escrito pelas mãos de John Collee, George Miller, Judy Morris e Warren Coleman, é que não engata muito bem, não se sustentando plenamente devido ao seus constantes altos e baixos, fundamentalmente no desfecho que, além de ocorrer rapidamente, é deveras improvável. Ocorre que em algumas partes do filme sua condução é demasiadamente arrastada, lenta, sendo indevidamente compensada, repita-se, ao final da trama. Alguns outros errinhos, como a mudança, do nada, da cor das penas peitorais de Mano, apesar de bobos, não podem ser deixados de lado. Já a direção de George Miller, que já havia trabalhado com animais de verdade em Babe, O Porquinho Atrapalhado na Cidade, é inevitável reconhecer que houve muito esforço. Levando quase quatro anos para ser feito, os métodos tecnológicos utilizados garantem, concretamente, um visual ótimo para o filme, propiciando uma impressionante sensação de estarmos realmente no Pólo Norte. Sua delicadeza ao construir os personagens também é muito apreciável.

A trilha sonora, peça-chave da animação, impulsiona o filme de uma maneira incrível. John Powell faz um serviço espetacular, com direito até a "My Way", música consagrada na voz estupenda de Frank Sinatra, que aqui é cantada, em espanhol, por Robin Williams. As outras músicas são igualmente bem postadas. Não se surpreenda se você se pegar gingando no meio da sessão, acompanhando os personagens.

Para finalizar, falaremos da dublagem. Infelizmente, a maioria das salas de cinema aqui no Brasil só possuem a versão dublada, onde Daniel de Oliveira se destaca ao dublar o protagonista Mano. Sidney Magal é que exagera um pouco ao dublar o pingüim Amoroso, mas dá para engolir. Os demais estão corretos. Na versão original, percebe-se que todos (Hugh Jackman, Nicole Kidman, Robin Williams, Elijah Wood e companhia) dublaram bem, pois há uma ótima execução das músicas, todas interpretadas pelos próprios atores.

Happy Feet: O Pingüim, enfim, é mais uma animação boa nesse concorrido mercado. Não usando um humor chato e idiota, George Miller abusa de temas tradicionais que passam longe de serem vulgarizados. Mérito para o diretor e sua equipe, que nos presenteiam com um divertimento numerosamente agradável.

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