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Críticas

Cineplayers

Uma das piores e mais imbecis experiências que o cinema comercial norte-americano pode proporcionar.

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Bem intencionados são os realizadores que buscam injetar no cinema contemporâneo norte-americano uma dose de originalidade, quebrando paradigmas e fórmulas da produção massificadora do cinema comercial com opções estéticas e narrativas inovadoras. Quando tais boas intenções são desenvolvidas e trabalhadas por mentes criativas e competentes, filmes inteligentes nascem e com eles uma faísca de esperança surge para os cinéfilos mais céticos, que desacreditam da possibilidade de se encontrar qualidade em meio ao cinema comercial feito hoje nos Estados Unidos. Mas como diz o ditado, de boas intenções o inferno está cheio, e é para lá que os criadores do pseudo-filme Gamer deveriam exibir sua criação.

Com uma trama que não poderia ser mais enrolada e cheia de furos, Gamer apresenta uma versão alternativa de nossa sociedade onde a fixação por jogos e realities é beneficiada por uma indústria de última tecnologia, que desenvolve os games mais realistas já imaginados. Capitaneados por Ken Castle, os jogos virtuais permitem que internautas controlem pessoas de carne e osso, como acontece no sucesso Society, uma espécie de Second Life em live action. Outro dos jogos perversos que saíram da mente de Castle é Slayers, versão macabra de Counter Strike onde condenados à morte são os personagens controláveis do game, que devem sobreviver em meio a uma guerra urbana.

Mark Neveldine e Brian Taylor, diretores que conseguiram uma legião de admiradores depois dos intensos Adrenalina, reúnem em Gamer os piores elementos de filmes como O Sobrevivente, Blade Runner - O Caçador de Andróides e congêneres, incluindo ainda algumas referências bastante superficiais à cibercultura e, com muita interpretação, pode-se identificar menções indiretas – e provavelmente incidentais – aos estudos do pensador francês Jean Baudrillard, que previamente já foram deturpados – segundo o próprio – na trilogia Matrix. Neveldine e Taylor acabam por descartar um melhor desenvolvimento de roteiro e fica evidente que a intenção principal dos realizadores para com a produção estava na direção do filme. Mas é justamente a combinação de uma trama enrolada executada de forma péssima que torna Gamer uma das piores experiências do cinema norte-americano recente.

Do roteiro de Gamer se tira uma ou outra crítica à sociedade contemporânea e suas escolhas no que dizem respeito a gostos culturais duvidosos, mas o filme acaba por sabotar tal questionamento justamente por ser um grande exemplo de entretenimento banal e idiotizante. Enquanto diretores, Neveldine e Taylor não se saem nada melhor, trabalhando em cima de uma estética que emula a jogabilidade de games em terceira pessoa e que não funciona de forma alguma no filme – pelo contrário, apenas cansa e confunde, ainda mais com a montagem que excede nos cortes rápidos, tornando alguns momentos praticamente ininteligíveis. Gamer também surpreende por não conseguir segurar a atenção em suas intermináveis sequências de ação, uma das principais propostas de um filme do gênero, causando apenas o enfado do espectador. Só a lembrança das cenas onde deveria acontecer o clímax do filme corresponde a um valium e um copo de leite morno.

Com performances terríveis por parte de seu elenco, incluindo Gerard Butler em uma versão risível do personagem habitual de Schwarzenegger em seus anos áureos, Gamer merece destaque entre o que de pior foi produzido por grandes estúdios nos Estados Unidos em 2009 – independente do que venha a ser lançado até o final de dezembro. Enquanto os mais fracos filmes do gênero trazem ao menos alguns momentos de distração, Gamer não merece nada além do esquecimento. Que não sirva de exemplo para nenhum cineasta bem intencionado que procura por inovação num segmento cada vez mais detestável da sétima arte.

Comentários (17)

Victor Ramos | segunda-feira, 08 de Julho de 2013 - 22:24

Os caras são os punks do cinema. Verdadeiros punks, rs

Como GG Allin falou uma vez em uma entrevista: "Meu corpo é um templo do Rock n' Roll e pertence ao povo, queira ele ou não."

Vinícius Aranha | segunda-feira, 08 de Julho de 2013 - 22:49

Motoqueiro Fantasma 2 é o filme mais difícil para eles, concordo. Mas ainda prefiro as sensações e subversões propostas por Gamer. E cara, sobre eles serem punks do cinema, tu achou a palavra certa, haha

Rodrigo Torres | segunda-feira, 08 de Julho de 2013 - 23:56

Adoro textos radicais! 😏

Matheus Duarte | segunda-feira, 06 de Janeiro de 2014 - 13:18

O filme não acerta em nada que se propõe. Se ele quer divertir, não diverte. Se ele tenta passar alguma mensagem social, não convence. Não tem clímax e os personagens são rasos. Um dos mais aborrecidos que já assisti e olha que já vi muita merda no cinema.

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