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Críticas

Cineplayers

Um filme que prometia mas chegou decepcionando. Depp dá um Wonka burocrático e Charlie é um personagem totalmente subdesenvolvido.

5,0

O objetivo de Tim Burton com o lançamento desta nova versão de A Fantástica Fábrica de Chocolate foi o de se manter mais fiel ao material original do que o filme de 1971 - obra-prima de Mel Stuart, um dos melhores e mais bizarros filmes infanto-juvenis já lançados. Sendo assim, pode-se assistir, ao longo da produção, várias passagens diferentes em relação àquele filme. O objetivo desta análise, contudo, não é o de comparar os dois filmes - pelo menos não a fundo - então atenhamo-nos ao essencial: a visão Burtiniana sobre o menino que realizou seu sonho e conheceu por dentro a mais fantástica fábrica de doces do mundo.

O trabalho tem a cara de Tim Burton. O seu estilo visual é evidente em praticamente todas as cenas - desde a choupana paupérrima, caída para o lado, onde vive Charlie e sua família, até os apetrechos - óculos, por exemplo - que os personagens utilizam. O visual recria muitas facetas de uma de suas obras-primas, Edward: Mãos de Tesoura. Não é um filme alegre, é um trabalho obscuro, com um Willy Wonka de comportamento esquisito - não um alegre confeiteiro como as crianças poderiam esperar.

As crianças premiadas para fazer uma visita à sua fábrica - depois de anos fechada para evitar que espiões levassem suas maravilhosas criações para as fábricas de seus concorrentes - também são todas estereótipos: existe a metida, a que só pensa em chiclete, o gorducho que só pensa em comer, a viciada em televisão e videogames e, claro, a quietinha e humilde. Esta última é Charlie (Freddie Highmore, que já trabalhou com Johnny Depp em Em Busca da Terra do Nunca). É com Charlie que os problemas do filme começam a ficar evidentes. Vamos entrar neles, então...

Charlie é a figura central do filme - não Wonka. O título original do filme é seu, não de Wonka. Porém, durante todo o filme, não conhecemos os sonhos, os desejos, os sentimentos, não é possível aprofundar-se muito em relação ao personagem. A interpretação do garoto, portanto, aparenta ter sido ruim. Mas na realidade ela não teve, em momento algum, chance de ser boa. O roteiro simplesmente menospreza sua - teoricamente - figura central quase que o tempo todo.

O ato inicial do filme é todo incrivelmente subdesenvolvido. Burton parece querer correr contra o tempo para nos apresentar logo Willy Wonka, e mostrar - daí sim - as bizarrices que todos seus espectadores esperam dele. A cena de introdução ao seu personagem (não o flashback inicial) é a melhor de todo o filme. Um musical obscuro sobre sua pessoa. Ele dirá mais do que o resto do filme todo sobre o seu personagem. A partir daí, o que vê-se é um amontoado de cenas que tentam encantar (e aí fica complicado não comparar com o filme inicial, dedicarei um parágrafo apenas - garanto que é só um - mais para a frente, portanto), mas não passam de divertidos e coloridos quadros que de forma nenhuma farão as pessoas importarem-se com seus personagens, principalmente Charlie, que não consegue passar simpatia pela sua situação em momento algum - o que é o grande ponto negativo do filme.

Danny Elfman parece, em sua trilha sonora, repetir-se novamente (já o tinha feito, de certa forma, em Peixe Grande, recentemente) com o clima de Edward: Mãos de Tesoura. É uma ótima trilha sonora, apenas não é inspiradíssima como já foi em muitas ocasiões ou nem muito original. Outros personagens importantes do filme, os Oompa Loompas, não têm muita personalidade, e suas músicas - modernizadas e muito estilizadas - são, com exceção da última, também sem grande inspiração e nada memoráveis.

Johnny Depp faz um trabalho de grandes caras, mas não consegue criar, também, um personagem memorável (novamente fica difícil aqui NÃO citar o filme de 1971). Uma mistura de arrogância com desleixo marca seu personagem, mas sem um momento sequer de superação, e a sub-trama envolvendo seu pai (Christopher Lee, sempre marcante na tela) é, no máximo, chata. Não é um mau trabalho, de forma alguma, é bom deixar claro.

Em relação ao filme original, fica a saudade dos velhos e simples efeitos especiais (os deste novo trabalho são em um número muito grande e por vezes ficaram muito evidentes, tirando o brilho de algumas cenas), das músicas muito melhores dos Oompa Loompas, do primeiro ato, que cria uma relação de amizade entre o público e Charlie e, claro, de Gene Wilder, que fez um Wonka incrivelmente superior - mas ele era um gênio do gênero, e não esperava que Depp o superasse, de forma alguma.

A nova Fábrica chega aos cinemas trazendo muita diversão - seus quadros continuam divertidos e as situações "engraçadinhas". Alguns momentos mais obscuros fazem valer o seu tempo, porém, num todo, é um filme de personagens fracos, trama sem aprofundamento nenhum e momentos - muitos deles - simplesmente chatos. Não chega nem a ser um bom filme. Tim Burton já conseguiu convencer muito mais.

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | terça-feira, 26 de Novembro de 2013 - 15:32

Sou fã de Burton e de Depp, mas aqui ficaram devendo. Ficou muito Pop.

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