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Críticas

Cineplayers

Vida inteligente no mundo dos filmes de ação.

7,5

Duro de Matar 4.0 prova que há vida inteligente nos blockbusters de ação de Hollywood. Sabe rir de si mesmo, não derrapa na maioria dos clichês (pelo contrário, é original e criativo), os diálogos apresentam coisa melhor do que o piegas e melodramático habitual das grandes produções – na verdade, tira sarro deles, pois o adolescente da vez usa as famosas apelações “eu te amo, pai” para convencer o sistema de segurança a ligar um carro roubado.

Mais: Duro de Matar 4.0 tem um personagem construído e conhecido, dos três filmes anteriores, com personalidade e, comparado a outros filmes de ação, até relativamente denso. Assim, não é um estereótipo ambulante, como sói acontecer, ou adolescentes fuinhas, como o ator principal de amargar de Transformers.

O grande diferencial de Live Free or Die Hard para os demais é que os efeitos especiais estão a serviço do roteiro, não o contrário. Tudo lá é físico, muito bem trabalhado, o detetive John McClane não tem superpoderes nem seu carro vira robô. Ou seja, os efeitos visuais são praticamente invisíveis, servem para complementar a cena (o que dá mais realismo ao filme), e não um exagero visual novo-rico dos grandes filmes das últimas décadas.

Ou seja, Duro de Matar 4.0 é um filme de ação das antigas, com roteiro, sacadas de roteiro, inteligência, humor, personagem, atuação, atores – essas coisas do velho cinema, que Hollywood faz questão de esquecer a cada novo arrasa quarteirão. Tudo é feito em enormes cenários, com o ator tendo de se desdobrar em socos, tiros e correria, seguindo a surrada e ainda eficiente formula de pegar o vilão, fugir da polícia e ainda conquistar a mocinha.

Além disso, vilão e mocinho, pelos métodos, possam trocar de lado vez ou outra – afinal, filme de ação que se preze sempre trás alguma discussão ética, e esse filme tem também. Isso não é possível se os atores não têm carisma: e Bruce Willis, apesar de seus recursos dramáticos limitados, os explora bem, ajudado por um sósia do Keanu Reeves, Justin Long, garantindo uma dupla eficiente no decorrer do filme, nas elaboradas seqüências de perseguição.

A grande ameaça agora é o terrorismo digital, na figura invisível de hackers que entram nos sistemas de energia e trânsito das grandes cidades americanas, levando o caos à população. Enquanto isso, os vilões querem se apoderar, claro, dos arquivos financeiros de Wall Street e roubar o dinheiro das aplicações financeiras. Para salvar o país de criminosos tão sofisticados, o pobretão, envelhecido e “analógico” policial, que perdeu a esposa, a filha não quer vê-lo nem de longe e seus colegas não lhe dão o devido reconhecimento.

Mas Duro de Matar 4.0 não é uma aventura nostálgica, da época em que Hollywood sabia fazer filmes sem ofender a inteligência de ninguém, até porque os filmes eram destinados a um público maior, e não apenas aos adolescentes, hoje os maiores consumidores de cinema (pipoca e refrigerante, além das toneladas de bugigangas). Filme como esse, divertido, satírico e sarcástico, parece ter ficado na história. Enfim, um excelente contraponto à barulheira infernal e estúpida que entope as telas atuais, o que deixa a oferta de filmes de verão/ férias muito mais rica.

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