Consegue divertir e provocar risadas, ainda que fique bastante abaixo do filme original.
Como toda comédia que se preze, o original Débi e Lóide, lançado há aproximadamente vinte anos, tem sua parcela de defensores apaixonados e seu time de detratores. Enquanto os primeiros consideram o filme um dos principais exemplares do gênero nos anos noventa, os segundos tomam o trabalho de estreia dos irmãos Peter e Bobby Farrelly por nada além de uma série de piadas de mau gosto e ofensivas. Humor é subjetivo, como todos sabem, o que torna difícil o julgamento sobre qual lado está certo e qual está errado. No entanto, é difícil compreender como é possível não se divertir e gargalhar com a aventura dos dois amigos idiotas pelo interior dos Estados Unidos, em um filme que trazia o frescor da originalidade dos Farrelly, Carrey em franca ascensão e passagens inspiradíssimas, citadas até hoje pelos fãs.
Depois de uma prequel, que não trazia realizadores e elenco originais e felizmente pouca gente viu, finalmente chega aos cinemas a aguardada sequência Débi e Lóide 2, com Jim Carrey e Jeff Daniels reprisando os papéis e os irmãos Farrelly reassumindo o comando. O resultado, ao contrário do que muitos esperavam, é positivo. Débi e Lóide 2 erra muito mais do que o seu predecessor, com algumas piadas repetitivas e momentos artificiais, mas, em geral, é capaz de arrancar boas risadas da plateia, especialmente de quem já costumava rir das imbecilidades protagonizadas por Harry e Lloyd, além de recapturar parte da química entre os protagonistas que foi um dos grandes acertos da obra original.
O roteiro segue uma estrutura semelhante à daquele filme, colocando novamente a dupla de amigos em uma viagem pelos Estados Unidos. Assim, Debi e Lóide 2 surge mais uma vez como um road movie, com os protagonistas em uma série de encontros nos quais podem exibir sua ingenuidade e baixa capacidade intelectual. Infelizmente, e aí começam os problemas da produção, não é apenas nisso que o texto bebe na fonte do original: uma série de elementos e ideias são trazidos de volta, como as sacanagens com o vizinho cego e a perseguição por bandidos. Algumas dessas repetições até funcionam como homenagens (a volta do carro “canino”), enquanto outras soam apenas como absurda falta de inspiração (a piada envolvendo o spray para o hálito é replicada exatamente como no primeiro filme).
Essa irregularidade também se faz presente na própria interpretação de Carrey e Daniels. Um dos fatores que transformou Débi e Lóide um filme tão querido foi a pureza dos personagens, a sensação de que, por trás das imbecilidades, idiotices e até um aparente preconceito, no fundo eles não passavam de duas crianças estúpidas, com bom coração – e boa parte disso vinha da atuação dos protagonistas. Agora, os atores nem sempre conseguem recapturar essa “construção” dos personagens – porque não deixa de ser isso –, preferindo dar foco apenas ao lado cômico de suas interpretações. Daniels, na verdade, ainda é capaz de convencer a plateia da ingenuidade de Harry, mas Carrey, por outro lado, parece mais disposto a imitar sua própria performance de vinte anos atrás do que fazer de Lloyd algo além de um veículo para suas caretas, o que se torna irritante em diversos momentos.
A pergunta a ser feita, porém, é a mesma de toda comédia: o filme faz rir? A resposta é: basicamente, sim. Débi e Lóide 2 conta com alguns diálogos afiados e diversas boas gags, ainda que nem todas funcionem. Peter e Bobby Farrelly e seus roteiristas trazem muitas piadas que atingem facilmente seu objetivo, seja simplesmente pela sacada inspirada, como aquela envolvendo o endereço de um remetente, seja pela surpresa, como a cena envolvendo um trem, ou seja simplesmente pela sagacidade de uma linha de diálogo, como o “He was survived by his parents”. E, mesmo que mantenham o estilo discreto de direção que se tornou comum em seus trabalhos, os Farrelly ainda apostam ocasionalmente em recursos visuais para conseguir a reação do espectador, como o uso de câmera lenta e de planos que se contrapõem, revelando algo que antes a plateia não via.
Por outro lado, os cineastas também exibem problemas na condução da história, perdendo o ritmo no terceiro ato, quando a subtrama de perseguição parece ocupar o primeiro plano em relação às piadas (um deslize comum em comédias). Mas o grande pecado dos Farrelly reside mesmo na forma como tratam os seus protagonistas: se no filme original parecia haver certo carinho em relação a Harry e Lloyd, aqui os personagens são tratados como meros motivos para as piadas – uma abordagem que, como já mencionado, os atores também parecem compartilhar. Nenhuma cena representa melhor essa mudança de valores do que aquela na qual os protagonistas surgem luminescentes após entrarem em contato com um material radioativo: ali, os Farrelly assumem descaradamente que enxergam a dupla como cartoons, e não mais como seres humanos.
Infelizmente, essa inconstância dura por toda a produção, o que faz de Débi e Lóide 2 um filme engraçado em diversos momentos, ainda que jamais a ponto de se equiparar ao original. Para quem nunca assistiu ao primeiro, trata-se de uma boa comédia. Para os fãs, é um filme que poderia ter oferecido mais. O bom é que, pelo menos, não se revelou uma pegadinha de vinte anos.
Pra quem viu o primeiro, nostalgia e boas piadas.
Pra quem (estava em Marte e) não viu, uma comédia bem acima da média das atuais.
Pra mim esta atrocidade de 2003 nem existe, até porque não o assisti e nunca assistirei. 😈
O primeiro, é uma das melhores comédias que já vi, conseguindo ser inteligente e descontraído ao mesmo tempo. Ainda não vi esse, mas estão comparando ao original, então deve ser foda!!! E aquele lixo de 2003 foi só pra arrecadar U$ com o título. Que bosta foi aquela?!!
Concordo com boa parte da crítica, especialmente o trecho em que se comenta sobre como os Farrelly veem os dois como personagens de desenho animado, expressando esse olhar ao mostrá-los verdes de radiação sem sofrer qualquer outro dano por isso.
De qualquer forma, dá pra se divertir um pouco.