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Críticas

Cineplayers

O último voo.

6,5
A despedida dos personagens que tanto encantaram as crianças em Como Treinar Seu Dragão (How to Train Your Dragon, 2010) vem quase uma década depois para fechar uma trilogia irregular criada pela Dreamworks em cima da historinha de um dragão banguela e sua amizade com um jovem vicking desloucado. Tema muito em voga nas animações dos últimos anos, inclusive na recente WiFi Ralph: Quebrando a Internet (Ralph Breaks the Internet, 2018), o desapego entre amigos tem sido enfatizado como abordagem para tratar do amadurecimento, mas Como Treinar Seu Dragão 3 (How To Train Your Dragon: The Hidden World, 2019) se mostra ainda mais urgente em mostrar a separação como parte essencial para o fortalecimento dos laços. 

Tal como a finalização da trilogia Toy Story, da Pixar, o que prevalece na narrativa de Como Treinar Seu Dragão 3 é a iminência da perda. Agora que Soluço é um jovem adulto responsável e a paz está estabelecida entre homens e dragões, tudo pode se perder com a ameaça de invasão de um caçador de dragões que descobriu a localização da ilha onde todos se escondem. Percebendo que ele não será o último caçador interessado em extinguir os dragões, cabe a Soluço entender que está na hora de achar um novo esconderijo para seu amigo, mesmo que nesse novo lugar não haja espaço para os dois. 

Diferente dos conflitos dos filmes anteriores, agora tudo está mais adulto, por assim dizer. Soluço enfrenta a decisão do casamento se aproximando, da liderança de seu povo deixada vaga desde a morte de seu pai, assim como o inesperado interesse romântico de Banguela por uma fêmea que surge no pedaço. O universo infantil e adolescente do personagem dá lugar a um mundo cheio de decisões grandes e riscos ainda maiores. 

A grandiloquência de se fechar uma trilogia de sucesso se reflete também na nítida evolução técnica que esse terceiro episódio traz – e esse é o ponto mais forte do filme. Impressionante, a Dreamworks traz um espetáculo visual como nunca ofereceu em nenhuma animação anterior, explorando ao máximo a beleza de cenários impossíveis, em ângulos e movimentos regidos como numa sintonia. O senso estético do diretor Dean DeBlois nunca esteve tão inspirado, fechando a trilogia com uma evolução senão em roteiro, pelo menos em direção. 

É uma pena que tamanha potência visual se desperdice em um roteiro genérico e manjado, com final digno de telenovela, algo sintomático da Dreamworks, que avança em técnica, mas jamais arrisca enredos novos. Isso faz de Como Treinar Seu Dragão 3 uma espécie de sub Toy Story 3 (idem, 2010), uma tentativa de trazer a despedida de seus personagens e mostrar o crescimento deles através da abordagem tristonha da separação dos amigos. Se a despedida de Soluço e Banguela talvez não emocione tanto quanto a de Woody e Andy, talvez esse terceiro filme funcione mais para lembrar a singeleza do primeiro e levar o espectador a rever o princípio dessa história de meninos e dragões. 

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