É fato que a Dreamworks entrou de vez no radar das animações de primeiro escalão depois do sucesso que fez o personagem ogro de Shrek (idem, 2001). Depois dele e de sua primeira sequência, o estúdio só fez errar constantemente, em trabalhos que vão de ruins à no máximo medianos. Filmes como O Espanta Tubarões (Shark Tale, 2004), Madagascar (idem, 2005), e Monstros vs. Alienígenas (Monsters vs. Aliens, 2009) não passam de bobagens rentáveis que apelam em tempo integral para piadinhas toscas, personagens abestados que vivem de fazer macaquices para entreter o público a qualquer custo, e lições de moral sentimentalóides. A exceção em meio a tanta bobeira foi Como Treinar Seu Dragão (How To Train Your Dragon, 2010), uma animação de inesperado vigor, beleza visual e frescor, que surpreendeu todos os que acreditavam que o estúdio já não tinha nada mais de interessante a oferecer.
A história do garoto Soluço, um viking magricela e deslocado, que não se dá bem com seu pai e que faz amizade com um dragão procurado pelos caçadores de sua comunidade, rendeu um dos enredos mais bonitinhos e charmosos do estúdio, uma pequena pérola. Embora Soluço não seja nada além do que uma variante do mesmo personagem-padrão do estúdio (aquele que não se adapta ao seu meio e procura ser diferente dos demais), sua história de amizade com o dragãozinho Banguela tem um quê a mais, fora o capricho visual que também superou as demais animações da Dreamworks.
Como não poderia deixar de ser, fez um sucesso inesperado e com isso garantiu a continuação Como Treinar Seu Dragão 2 (How To Train Your Dragon 2, 2014), lançada recentemente no Brasil. Infelizmente, seria exigir demais da Dreamworks deixar o primeiro filme lá quieto e intacto, mas havia certa esperança de que a sequencia fosse um pouco mais digna. O que não é o caso. Não contentes em cutucar uma história que não dá muitas margens para continuações, os produtores e roteiristas acabam por descaracterizar tudo o que havia de mais singelo e bonito no filme original.
Transformando tudo em um potencial produto licenciado, os roteiristas deturpam a essência do primeiro filme, que apostava em personagens deslocados aprendendo a conviver em harmonia e a amadurecer em um mundo pouco tolerante a mudanças e novidades. Agora tudo precisa ser mais acelerado, dinâmico, épico, estrondoso, heroico. Soluço deixa de ser um outsider para se transformar em um galãzinho com pinta de herói, carregando aquele conflito batidíssimo do jovem tentando descobrir quem realmente é. Banguela deixa de ser o dragão aleijado e ingênuo para se tornar uma máquina veloz e performática. Astrid deixa de ser a garota ousada e sisuda para se transformar na típica mocinha no cargo de interesse romântico do protagonista. Os demais coadjuvantes permanecem como bocós desastrados, colocados ali para arrancar risadas das criancinhas (pelo menos as menos exigentes) através de pancadas, quedas e demonstrações de baixa inteligência.
Até mesmo algumas passagens belas, como os passeios aéreos de Soluço e Banguela pelas nuvens, foram recicladas e dinamitadas na continuação. Fora isso, o roteiro segue exatamente a cartilha estrutural de todos os filmes da Dreamworks, começando por apresentar os personagens felizes na nova rotina de paz entre vikings e dragões, passando pelos conflitos tediosos de Soluço e sua procura por sua identidade, para então surgir uma ameaça do meio do nada, um conflito inicial em que os bonzinhos perdem, pra depois reunirem forças conjuntas para encarar a batalha final, da qual obviamente sairão vencedores. No fim, uma breve reflexão ao som de música ambiente mastigando as lições aprendidas, para depois continuar a dopar a plateia com uma ultima exibição das acrobacias aéreas de Soluço e Banguela, com narração em off terminando de mastigar a moral da história, e música alta e moderninha que dá a sensação de algo muito incrível e empolgante acontecendo. Nesse meio tempo, a insuportável cena de reconciliações familiares, exatamente idêntica a de todos os filmes recentes do estúdio, vide Os Croods (The Croods, 2013).
Nunca ficou tão evidente a pobreza criativa da Dreamworks, que conseguiu manchar o único título decente que lançara desde Shrek 2 (idem, 2004), corrompendo sua singeleza para dar lugar a um amontoado de clichês surrados, e provando mais uma vez que nunca soube montar roteiro nenhum. Apenas segue uma fórmula chata que já não cola mais há anos. Se a ideia era pegar carona no sucesso do primeiro e ganhar muito dinheiro, eles a executaram com maestria – desta vez, não por ensinar a treinar o dragão, mas sim estraga-lo.
Eu fiquei bem contente com o resultado dessa animação . Talvez seja pelo fato de que não vejo nenhuma boa animação da Pixar/Dreamworks desde 2010. Desde toy Story 3 e como treinar seu dragão 1 só saiu coisa mais ou menos/ruim desses estúdios. Desse filme eu não tava esperando nada e foi uma grata surpresa! Foi bem mais que uma mera sequência caça-níquel , visto a coragem da Dreamworks em tratar com seriedade o publico alvo(crianças) , não subestimando a capacidade delas . Dei nota 7 . Mas essa critica abriu meus olhos pra alguns detalhes que eu não tinha reparado
Não li sua crítica ainda, depois vou ler. Mas assisti o filme e achei a melhor animação desse ano.. História muito madura e muito melhor que a do 1º. Tanto que a nota no IMDB está 8,5.. por enquanto, achei a nota MUITO injusta.
Filme ótimo, crítica péssima. Decepção, Heitor 🙁
Hahaha, concordo plenamente com a crítica. "Como estragar seu dragão" hahaha!
O filme é muito muito muito inferior ao primeiro. Dreamworks não resistiu mesmo em fazer uma sequência enlatada sem qualidade.