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Críticas

Cineplayers

Poderia ser mais enriquecedor quanto à história de Chico Xavier.

5,5

Quando escrevi sobre Lula - O Filho do Brasil, afirmei que deixaria de lado qualquer tipo de análise política em relação ao governo e que me ateria exclusivamente em comentar as qualidades artísticas do longa-metragem. O mesmo vale para Chico Xavier. Sem entrar no mérito do espiritismo e da existência ou não de vida após a morte, analisarei, aqui, apenas a história do mais famoso médium brasileiro e o modo como ela foi retratada.

Os trabalhos do diretor Daniel Filho costumam gerar controvérsia. Há os que consideram que o cineasta realiza cinema comercial de qualidade, e há a corrente que defende a total falta de conteúdo de seus filmes (suas obras recentes de maior sucesso foram Se Eu Fosse Você 1 e 2). Chico Xavier não se encaixa por completo em nenhuma das duas definições. Com problemas estruturais, a história não fracassa pela competência de Daniel Filho em dialogar com as massas. É impossível negar que sua mensagem chega ao público com facilidade e que, neste ponto, sua função como contador de histórias é feita de maneira impecável.

Contudo, ao mesmo tempo em que o modo como constrói a história se mostra eficaz, outros tantos problemas aparecem pelos exageros que o diretor insiste em cometer. Se na comédia ele consegue arrancar momentos irretocáveis de seu elenco, no drama isso não é uma constante. O início do filme desliza por deixar claro ao espectador que tudo é encenação - fruto das interpretações de profissionais -, faltando naturalidade aos atores, o que atrapalha o elo – fundamental – entre público e história. Logo depois deste começo, uma cena em que Chico Xavier caminha com seu pai soa estranha em função do áudio, que não soa diegético, ou seja, parece descolado da cena. E, com um pouco de atenção, percebe-se que há falas do pai de Chico que são ouvidas em momentos que o personagem, em tela, sequer abre a boca.

Mas, verdade seja dita, estes problemas são rapidamente corrigidos e os atores, quase em sua totalidade, seguram seus personagens com firmeza e convencem em suas atuações. Tony Ramos e Christiane Torloni, que protagonizam a única história paralela à do médium, estão excelentes em cena – principalmente na sequência final, em que, enfim, o longa-metragem consegue gerar certa comoção verdadeira. Nessa subtrama, a de um casal que perdeu o filho assassinado e que vê a mediunidade com receio, Daniel Filho inseriu, junto à história real de Chico Xavier, elementos puramente ficcionais, mas que, justamente, comprovam a habilidade do diretor em contar histórias. Os múltiplos casos de família que se sentiram reconfortadas por meio do trabalho de Chico Xavier são representados com eficiência por essa trama.

O que, por vezes, incomoda é a visão paternalista exercida sobre a figura do médium. Claramente uma pessoa boa e serena, Chico perde sua áurea humana ao ser sempre retratado calmo, paciente e excessivamente bondoso, inclusive em contratempos que desgastariam emocionalmente qualquer pessoa. Mesmo que ele tenha sido um homem diferenciado e até mesmo evoluído, caberiam momentos de explosão, o que tornaria o personagem central mais palpável.

O longa acerta em cheio nas transições temporais entre as três fases de Chico (criança, adulto e idoso). O movimento de câmera que, em um primeiro momento o mostra em determinada fase da vida, logo em seguida revela seu crescimento por pequenos gestos cotidianos. Outro mérito do filme é se abster do panfletarismo religioso, mostrando uma visão sóbria sobre o espiritismo e a diversidade de crenças sem fugir, sobretudo, do debate sobre a veracidade do trabalho de Chico Xavier.

Porém, uma cena específica prejudica bastante. A sequência em um avião, já mais para o final, é retratada de maneira cômica, o que a torna risível de vergonha e não pela sua graça. Quando o próprio Chico Xavier aparece contando essa história, já nos créditos finais, a situação ganha contornos realmente cômicos, com de fato é. Mas, com certeza, enquanto ocorria, foram minutos de grande tensão, algo bem diferente de como foi mostrado. Nesta cena, os diálogos com Emmanuel, o guia espiritual de Chico, são constrangedores. Até porque o ator André Dias, que interpreta Emmanuel, não consegue transmitir a essência desse personagem em nenhum momento.

Chico Xavier resume com eficiência a trajetória de um homem diferenciado, mas, mesmo assim, poderia mostrá-la com maior riqueza de simbolismos, evidenciando desafios e preconceitos. Pela falta de elementos enriquecedores, tornou-se um passatempo satisfatório.

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