Um filme que exemplifica bem o charme da clássica Hollywood. Hoje, uma comédia policial bobinha, mas ainda assim deliciosa em muitos aspectos.
Em 1934, nos primórdios da clássica Hollywood... ok, nem tanto! Na clássica Hollywood, filmes de detetive com histórias intrincadas existiam muito antes de O Falcão Maltês iniciar o gênero noir, hoje conhecido e já inexistente em novas produções. Muitos deles eram os filmes-pipoca da época, produções de orçamento quase modesto, com bons atores e, claro, com finais surpreendentes. “Então o assassino era ele o tempo todo?”. Isso mantinha o público aceso e interessado. A Ceia dos Acusados inaugurou uma série de vários filmes de sucesso sobre o “thin man” (embora o título original não fosse sobre o detetive, e sim sobre uma das vítimas – o que mais tarde acabou sendo alterado). O “thin man” é um detetive bem humorado e sarcástico – interpretado por ninguém menos que William Powell (você por não conhecê-lo, mas ele é ótimo ator), que tem mais competência que o Capitão da polícia de Nova York. Mesmo em férias.
Chamar, hoje, A Ceia de Acusados de um grande clássico de Hollywood seria um grande exagero. Trata-se de uma história policial bobinha, incrivelmente inocente e de interpretações boas, mas sem grandes destaques – a não ser o humor natural de William Powell. O filme é tão descompromissado que se dava ao luxo de parar a ação para mostrar cortes bruscos (e feios) do cão Asta aprontando gracinhas para entreter o público. Tudo gratuitamente. Hoje em dia isso seria imperdoável para os críticos, claro. Apenas uma curiosidade aqui: o cão Asta de A Ceia dos Acusados apareceu também, quatro anos mais tarde, no também divertido e descompromissado Levada da Breca (mas aquilo lá era uma comédia pura), “atuando” ao lado de Cary Grant e Katharine Hepburn.
A história, como já mencionei, é bastante intrincada, e pode ser complicado acompanhá-la, visto que àquela época em Hollywood os diálogos eram rápidos, quase corridos. Assistir a um filme assim hoje em dia, apesar de existir o charme natural de uma produção da época de ouro do cinema, pode ser frustrante. Mas mesmo sendo rápidos, os diálogos são bons. O personagem de Powell, Nick Charles, um detetive aposentado (segundo ele mesmo) tem carisma e sabe utilizar muito bem o sarcasmo, ao lado de sua esposa Nora (ah, como as atrizes daquela época mantinham seus narizinhos empinados, mesmo dentro das telas – hoje esse estrelismo existe, mas não em tamanha proporção).
Agora, acredito que a força que faz este filme ser razoavelmente bastante visto nos dias atuais, mesmo que com um público bem limitado (como eu mencionei, ele NÃO é um clássico, apenas um bom filme da época), é sua cena final. Não tendo certeza acerca da identidade do assassino de três pessoas, Nick resolve, com a ajuda da polícia, juntar (ou arrastar, no caso de alguns mais teimosos) todos seus suspeitos em um jantar em sua residência. A verdade iria surgir naturalmente. A cena é recheada de humor, e consegue manter a tensão até o momento da grande revelação. Méritos ao diretor W.S. Van Dyke – o responsável pelo Tarzan original também.
A Ceia dos Acusados é um filme para cinéfilos – amantes do cinema que adoram remexer nas prateleiras das boas locadoras atrás de jóias raras (eles vêem outros tipos de filmes também, claro). Esta é uma jóia rara. Um filme de mais de 70 anos que hoje funciona pela sua simplicidade e por remeter a uma Hollywood que ainda produzia inocência, pelo menos dentro das telas. Muitos dirão que é um porre – uma história de detetives bastante aborrecida. Oras, não deixa de ser. Mas a beleza, neste caso, está no bom conjunto do filme – embora o saudosismo (por uma época que não vivi) exista, e é bom senti-lo. Então, demos vivas à clássica Hollywood!
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