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15 Minutos

(15 Minutes, 2001)
5,6
Média
94 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

15 minutos de famosidade estruturada na fuleiragem midiática

8,5

Força midiática, polícia investigativa, insanidade (?), cinema, televisão, jornalismo, assassinato, lei penal, código moral transtornado. Aqui são alguns dos temas utilizados por este grande filme policial do começo dos 2000, que, se tornaria, a meu ver, um grande expoente dos filmes do gênero. Pode parecer ingenuidade citar algumas palavras iniciais que adjetivem acerca das claras temáticas do longa como "cinema" e "assassinato", porém a forma como o filme nos brinda com esses elementos levando-os ao escracho metalinguístico em forma de turbilhão divertidíssimo valem como citações logo de cara. Diretas. Assim como esta cria do cinema o faz. 

Não há nada de tão novo no front em se alfinetar a televisão e o próprio cinema. A hollywood de outrora já se permitira a isso em seus anos de ouro. Porém aqui há uma modernizada em tais elementos, onde expõe-se a cultura do exagero das massas que se regozijam na violência por meio de programas reality shows sensacionalistas manipuladores (denominação óbvia, porém nunca envelhecida por demais). Manipulação concatenada por uma dupla de estrangeiros que viram como lucrar sendo assassinos fingindo psicopatia diante do American Dream e seus devaneios políticos e sociais. Onde a selvageria midiática é predominantemente cínica em seus mais absurdos pormenores. 

A história gira em torno dos emigrantes Emil Slovak (tcheco interpretado por Karel Roden) e Oleg Razgul (russo por Oleg Taktarov) que buscam encontrar um amigo que lhes deve dinheiro mediante um roubo passado. Como o amigo gasta o dinheiro, Emil o mata e sua esposa e incendeia o apartamento. O crime começa a ser decifrado pelo investigador dos bombeiros Jordy Warsaw (Edward Burns) e pelo famoso detetive Eddie Flemming (Robert De Niro). Os crimes de Emil vão num crescer e seu pensamento de conseguir vencer diante da fama, sobrepujando o sistema, enganando-o, projeta-se cada vez mais para cima.

 A forma como Emil percebe a manipulação midiática é hilária, desde programas de fofoca e reconciliação amorosa ao estilo Sônia Abraão, à programas policiais biográficos que contam os crimes e vitórias de determinados criminosos que conseguiram burlar o sistema falseando uma suposta inata loucura. A estranheza exposta por Emil, transforma-se em felicitação visto que o todo poderoso do capitalismo neoliberal permite à democracia profundos entraves jurídicos que se permitem a coexistir somando-se a vácuos morais. Isto é posto por todo o desencadeamento das ideias de Emil que ele colhe na própria cultura americana arraigada em uma substanciação cultural escrota e controladora das massas.

Órgãos estatais. Favores? A televisão, e seus meios. Controla largas parcelas de opinião pública, na crítica social da população, onde diversos órgãos estatais buscam sua aprovação. Seja esta para um maior nível de fundos que os sustentem ou para que o trabalho de determinado órgão seja facilitado através da exposição da mídia em certos casos, e, é claro, para ambos, que haja um clamor do público para um aumento estrutural de um pseudo-arraigado bem estar social transposto aos populares. Algo que viria a visar de maneira mais condescendente um apoio aos órgãos (Polícia e Corpo de bombeiros). Logicamente um apoio também do próprio sistema político.

Sempre a manipulação sócio-cultural dos meios de comunicação é mostrada de maneira sarcasticamente responsável por determinadas idiossincrasias populares em quesitos de formadores de opinião. Opinião esta em que a política se mostraria pautada pela mídia, diante do que fora citado no parágrafo anterior nas preocupações de órgãos estatais com aparições positivas nesta grande mídia.

Todos esses elementos são jogados na tela onde a ironia das falhas do sistema criminal americano sejam propiciadas pela mídia, num círculo vicioso que se mostra sibilante em 3 grupos: sistema político, mídia (principalmente aqui a televisiva, divertidamente representada na pilantragem de Kelsey Grammer) e população telespectadora. Que necessitem e persigam uns aos outros onde o último é manipulado pelos dois primeiros que trocam favores através apenas do ibope poderoso que pode ser gerado pelo terceiro grupo. Buscas por votos e por dinheiro. Pura manipulação viciada.

Tudo isso moldando-se em um caso policial extremamente bem conduzido pela direção de John Herzfeld, que modula sua dramaturgia a todo um mosaico político, social e cultural sempre mantendo um equilíbrio entre tudo que venha a acontecer. E com uma estrutura policial eficiente e não inovadora. O velho: descobriu/investigou/tragédia/fechou o caso. O grande lance aqui é ironizar o próprio gênero também, assim como todo o resto já o fora. Onde a morte de um personagem importante é refletida numa divertida piada metalinguística dita por Oleg Razgul: "Todo bom filme precisa de uma grande tragédia."

Um elenco afiado desfila personas por vezes bidimensionais, por vezes somente tresloucadas, e sempre cumprindo um papel na participação ao clima sarcástico perpetrado pelo longa. Robert De Niro aproveita a brincadeira com seu policial midiático Eddie Flemming onde o contraponto nervoso e explosivo de Jordy se encaixa de maneira positiva. Há o destaque formidável a dupla de vilões, onde a sagacidade cruel de Emil se une ao divertido new filmaker de Oleg Razgul, que ironiza o cinema com sua câmera nervosa e seu vício pelo cinema norte-americano.

Como comentário técnico destaque a ótima e frenética edição, que consegue expor toda a gama de elementos diversificados sem causar uma grande confusão e mantendo-se certeira e direta na ação.

Policial, diferente, político, pequeno louco, sacana e extremamente divertido. 15 minutos. Pra cada um que busque os seus na terra – auto-alcunhada – da liberdade.

Material escrito em Fevereiro de 2014, educadamente sem palavrões. Morroia.

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