Star Wars: Episódio VII - O Despertar da Força
UMA NOVA ESPERANÇA
Dentre tantos outros pilares que ergueram e sustentaram a saga Star Wars no topo da pirâmide formada pelas cinesséries de sucesso, três deles são os mais relevantes e frequentes na franquia, sem nunca perder forças e reinventando-se a cada episódio, mantendo-se a estrutura, alterando-se os caminhos abertos por eles: o mito do herói, o drama familiar e o confronto entre mestre e aprendiz.
Esse mito do herói, vindo desde a antiguidade e reforçado na Idade Média, tendo alguns expoentes na mitologia grega com Hércules, Perseu e afins, trazendo sempre a figura do pai como provedor de grandes habilidades as quais o filho acaba por utilizar para trilhar um caminho independente, foi ponto de partida para Lucas desenhar sua propria tragédia narrativa, que por ter sido lançada de forma inversa, pôs Luke à frente de Anakin nesse processo, criando nele uma imagem poderosa de mocinho incorruptível e inabalável. Processo repetido ao sermos apresentados ao passado de Obi-Wan na trilogia prequel. Em suma, Star Wars é um épico intergaláctico recontando a própria história a cada novo capítulo, até o fato virar história, a história virar lenda e a lenda virar mito. Foi sempre assim. Vem sendo assim e será sempre assim.
Os conflitos familiares impulsionaram todos os eventos de Star Wars desde seu primeiro take, geralmente colocando ambas as partes conflitantes em confronto intenso e decisivo. O medo enraizado em cada personagem e como ele lidará com ele é o que rege toda a saga. Sempre representado nas figuras de um pai e um filho, é nesse embate que se faz imprescindível a presença do mentor - ou alguém duvida que Obi-Wan seja o pai de Anakin bem como Palpatine o pai de Vader e Qui-Gon o pai de Kenobi? - na tentativa de restaurar a fé e redireccionar o caminho do jovem, tão facilmente manipulável.
E essa relação conflitante entre mestre x aprendiz, criatura x criador, quase sempre potencializada pela relação pai e filho, parece ao longo dos anos ter transcendido as linhas da própria narrativa e concretizado-se além das telonas, com George Lucas se vendo encurralado pelo monstro que criou. Como todo filho pródigo, Star Wars cresceu, ganhou força e superou seu pai a ponto de subjugá-lo e se fazendo necessário interferência externa poderosa para contê-lo outra vez. Assim como Obi-Wan, ao se mostrar incapaz de finalizar Anakin, acabou por colaborar com o surgimento de Darth Vader, e quando este tentou controlar Luke acabou por ser derrotado, ou quando Han Solo tenta - neste novo capítulo - trazer Kylo Ren de volta do Lado Negro e acaba encontrando a morte, Star Wars ficou grande de mais e poderoso de mais para que Lucas retomasse o controle sobre a saga e, quando tentou fazê-lo, acabou por encontrar o seu fim.
Ou quase.
Eis que surge então J.J. Abrams, que acompanhou sob a óptica de todos nós o nascimento, o crescimento e a quase queda de Star Wars e, compreendendo como muitos gostariam, mas poucos poderiam, a real magnitude do poder do nome Star Wars, assume as rédeas e recoloca a série no caminho correto em direção ao que sempre foi e nunca deveria ter deixado de ser seu: a consagração.
Muito mais do que uma enxurrada de referências saudosistas, que já seria o suficiente para enlouquecer os fãs que vêem Star Wars quase como uma cultura, uma religião, Abrams nos apresenta em Star Wars: Episódio VII - O Despertar da Força o SEU Star Wars, sua visão sobre o universo em questão e a expansão do mesmo. A realocação do trio principal (Han Solo, Leia Organa e Luke Skywalker), agora em funções atribuídas inicialmente a outros personagens - Luke como o ermitão Kenobi, Solo como mentor Qui-Gon, restando a Leia, numa irônica ligação com sua intérprete, manter-se no mesmo posto no qual foi apresentada para o mundo - serve não somente para nos pôr a parte do que aconteceu com nossos heróis favoritos e dimensioná--los dentro da mitologia (eles, bem como outros apenas citados, agora são para os demais personagens, aquilo que são para nós: mitos, lendas, mártires), mas também para ajudar a "virar a página" e introduzir os novos heróis dessa saga, sem que já, de imediato, houvesse uma rejeição para com os mesmo devido ao inevitável culto e adoração à esses nomes tão presentes e marcantes na nossa vida.
E esse trio "substituto", Rey, Finn e Poe, cai imediatamente nas graças do público que abraça a eles e suas histórias e motivações - muito convincentes por sinal - e já anseia por reencontrá-los agora em uma jornada própria já pré-estabelecida aqui. Sem falar na grande sensação deste O Despertar da Força, que é o droidezinho simpático e carismático - mas não menos importante na trama - BB-8, páreo nivelado para C-3PO e R2-D2, e dono de cenas engraçadas e emocionantes. E, finalizando essa explanação mínima acerca dos novos personagens, Kylo Ren, o vilão da vez, líder da temida Primeira Ordem (associação escancarada ao Nazi-Facismo) em nada assemelha-se a seus antecessores Darth Moul e o icônico Darth Vader. E isso é o melhor que poderia lhe e nos acontecer. De apelo visual bastante agradável e dono de uma personalidade única na série, Kylo Ren é um vilão ainda em formação, como os novos heróis, por isso está sujeito a falhas e destemperos - seus já bastante comentados ataques de furia são realmente impressionantes. Ren é como Finn, porém em lado oposto: ainda buscando desligar-se de seu passado para aceitar-se como seu novo eu. Excelente personagem que com certeza ascenderá para junto dos grandes de Star Wars. Sem dúvidas.
Com personagens compostos e estabelecidos, J.J. tem toda uma base concreta para apresentar seus cenários, no sentido físico da palavra, sendo um mais impactante que o outro. Seja pela grandeza de proporções, seja por arquivar os resquícios do que foi a ascensão e a queda do Império ou ainda por ser palco de grandes batalhas (o cosmos de Abrams e seus embates entre naves são os melhores da série) refletem o tamanho do cenário Star Wars em sentido mítico. A riqueza de detalhes, concebida através da preferência por efeitos práticos em detrimento ao CG, usado somente quando realmente necessário - e não à moda louca, como Lucas fez na trilogia prequel - nos traz lembranças e nos faz montar pequenas histórias em nossa mente sobre o que de fato teria acontecido naqueles locais.
E se Star Wars: Episódio VII possui algumas falhas minúsculas (questionar o uso do sabre de luz por Finn pode ser válido, mas não julgo necessário, sendo que o sabre não passa de uma arma simbólica e o que difere seu uso é a técnica do portador), como a falta de um tema forte como a Marcha Imperial ou certa pressa no terceiro ato - a qual eu não detectei por estar em estado de êxtase o filme todo - e a re-repetição da Estrela da Morte como símbolo sa poder podem impedir O Despertar da Força de ser um filme perfeito, mas não de ser o melhor filme da série até agora, ao lado de O Império Contra-Ataca, banhado em referências e reverências ao nome que carrega, mas dono de uma identidade própria absurdamente digna.
Colocando-se como o melhor filme do ano - preciso assistir Mad Max: Estrada da Fúria -, Star Wars Episódio: VII - O Despertar da Força é um tapa na cara de quem acredita que blockbusters não podem ser de qualidade e um afago na memória e no coração da legião de "fãnáticos" que mantém o nome de Star Wars no topo, próximo desta completar 40 de existência. Parabéns J.J.. Você provou, 3 décadas depois, que Uma Nova Esperança ainda existe para o Retorno dos Jedis.
"Grandes mentes deixam grandes legados."
(Ma Darswik)
Dedico esta frase a você Cristian.
Meus sentimentos à família e aos amigos!!!
Grande mestre.
Uma pena que ele morreu. Não sei quase nada sobre ele, não acompanho muito sobre ele, mas uma morte sempre é trágico e sempre foi admirável o respeito dele nas suas opiniões e ponderações, sempre muito bem pensadas. Eu não estava entendendo o porquê de eu enviar recados para ele sobre o novo filme e ele não me responder, mas agora descubro que a resposta disso é trágica, não deveria ser por esse motivo JAMAIS. Seria mil vezes melhor se tivesse me ignorado do que ele morrer. Cristian, vá em paz e com Deus.