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Artigos

Festival de Cinema de Brasilia - Curtas #3

Geru (Fábio Baldo e Tico Dias, 2014)

Desfazer primeiras impressões pode ser muito proveitoso. Às vezes o rumo prometido por um filme em seu início pode levar a conclusões injustas. Quando logo no começo de Geru vemos um senhor de idade sob um sol forte em uma paisagem rural, confesso que imaginei em prosseguimento um retrato condescendente, talvez bucólico demais, de um homem do campo. Contudo, quando notamos um detalhe em particular em sua anatomia que está diretamente ligado à sua voz jamais ouvida, malgrado o movimento dos seus lábios, surge uma saudável desconfiança de que há bem mais neste curta a ser descoberto.

Zé Dias, o admirável protagonista, apresenta sua rotina dividida entre atividades possíveis conforme sua idade avançada e suas necessidades mais básicas, sendo estas evidenciadas de modo pitoresco e espirituoso a um só tempo. Nota-se que vive cercado por uma família zelosa ao cuidá-lo. E sua rotina logo reaparece em cena. Aos poucos, nota-se uma expressão personalíssima dos realizadores Fábio Baldo e Tico Dias, semeadores de elementos inesperados em imagem e som que abrem espaço em Geru a questionamentos tanto sobre a herança cultural acumulada ao longo de décadas quanto a finitude humana e das limitações à existência quando se está perto do seu final.

Embora seja preferível não antecipar as analogias presentes na segunda metade da projeção, não há nada de mais em dizer que o ponto de virada na trama está ligado também a uma discussão pertinente quanto à representação da vida humana. Quem sabe estejam a nos lembrar os diretores, por meio do venerável Zé Dias, que não custa nada cogitar sobre as possibilidades que uma vida longeva pode trazer àqueles que tiverem o bônus (ou o ônus) de seguir vivendo bem acima da média etária? As vidas passam. Geru fica. E merecidamente.

Nota: 8.0

Vento Virado (Leonardo Cata Preta, 2013)

Vemos objetos metálicos pendurados no que poderia ser um ferro-velho ou o quarto de algum acumulador obsessivo. O sujeito em questão, com tatuagens pelo corpo todo, é seguido por uma câmera que se gruda às suas costas por mais tempo do que o tolerável. Uma mulher reza com um terço na mão em um quarto imaculadamente branco. Seguem-se alguns eventos apresentados em um clima pretensamente onírico. Há algumas leituras psicanalíticas que caberiam quanto aos significados do tatuado (Paulo André), do vento que gera música e dos demais sujeitos com quem se depara. Porém, forçoso dizer, e apesar da minuciosa direção de arte, toda essa simbologia não garante a sustentação deste filme, que parece rodar em torno de si próprio até exaurir os espectadores mais benevolentes.

Nota: 3.0

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