Cobertura Cine PE - Dia 2: Um beijo para Cássia
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O sábado foi dedicado a homenagear uma das atrizes mais completas da nossa dramaturgia. Surgida para o grande público televisivo nos anos 80, Cássia Kis chegou num lugar de onde provavelmente não sairá mais, de excelência e meritocracia, cujos louros nunca diminuíram nem nunca deixaram de crescer. Não é de se estranhar que o cinema homenageie essa mulher, que tanto brilho continuamente reflete em seu trabalho e também na forma generosa com que ela pontua todos os outros.
Premiada em quase tudo que faz, seus momentos em Bicho de Sete Cabeças, A Festa da Menina Morta, Broder e Os Inquilinos lhe renderam inúmeros troféus, todos merecidos. Seu último momento no cinema veio ano passado como a mãe de Redemoinho, onde ela voltou a ser indicada a tudo e onde ela eclipsa não apenas todo o elenco como todo o filme, em mais uma composição formidável de uma atriz que se entende nesse lugar. No debate de hoje, Cássia soube dosar as certezas que a colocam no lugar especial onde ela está e o salto no abismo que ela mesma cita como sendo a única forma possível de lidar com a arte, ainda que sempre de maneira estudiosa e aplicada. Hoje Cássia só se sente à vontade quando consegue trabalhar em regime de equipe e a convivência com os membros de cada uma delas parece mais sintonizado e fino.
Cássia recebeu o troféu de um rapaz da novíssima geração, Gabriel Leone, que contracenou com ela na série Os Dias Eram Assim e desde então estabeleceu uma relação afetuosa com a mesma. Isso é uma característica que parece ser da própria, esse conceito de contatos diretos e trocas de afetos imediatos. Uma grande atriz que prefere abraços a fotos, Cássia encantou em sua passagem por Pernambuco e o Cine PE ainda coloca em rota de discussão o trabalho tão evidente de uma intérprete que deveria ter ainda mais prestígio e loas do que já tem.
Na tela, a mostra pernambucana trouxe um curta carinhoso, uma biografia que também homenageia o cinema, Uma Balada para Rocky Lane, de Djalma Galindo. Na competição nacional, os curtas Teodora quer Dançar de Samantha Col Debella, Balanceia de Juraci Junior e Thiago Oliveira, e Banco Brecht de Tiago Aguiar e Marcio Souza fizeram um painel da cena brasileira hoje, trazendo o olhar do Mato Grosso, Rondônia e do próprio Pernambuco para uma competição plural. Com temas que foram de uma construção metódica de gênero a um misto de esquete de humor com uma pegada forte de cultura pop, passando por uma declaração de amor à festa de disputa dos bois e ao próprio estado capital, os filmes mostraram carpintaria própria e uma pegada de direção acentuada, em projetos que mostram a força das escolhas de seus diretores.
A noite foi encerrada com a exibição de dois filmes que a primeira vista não conversavam nada, mas que as experimentações visuais e de linguagem acabaram por dar o tom da noite. Christabel de Alex Levy-Heller foi com certeza dos filmes mais enigmáticos da seleção e com certeza seus signos tiveram comunicação com a plateia local em sua tentativa de dialogar gradativamente com uma forma bem específica com os códigos cinematográficos vigentes. Com uma linha de distensão temporal ampla, o filme de Alex se comunica com a demanda feminista e justifica sua presença no momento atual.
O longa seguinte foi Os Príncipes, do veterano Luiz Rosemberg Filho, que trouxe até o Recife um filme de estrutura bem menos hermética que seus longas recentes. Os habituais Alexandre Dacosta, Patrícia Niedermeier e Ana Abbott se juntam a Igor Cotrim, Tonico Pereira e Orã Figueiredo nessa investigação bem atual sobre o estado das coisas na sociedade contemporânea, no que concerne também o viés feminista como ainda a repressão das cidades através da violência institucionalizada pelo estado. Foi definido por todos como um soco no estômago, e talvez tenha sido mesmo.
No domingo teremos mais um dia da competição, além da coletiva de um homenageado surpresa. Aguardem.
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