SÃO BERNARDO
São Bernardo é uma adaptação do romance de mesmo título de Graciliano Ramos, gravado em Viçosa (AL), em 1971 e dirigido por Leon Hirszman. Traz como novidade algo inusitado - a personagem como narrador da história, o amargurado, frio e possessivo Paulo, interpretado fielmente como deve ser o homem descrito no romance por Othon Bastos. Protagonista do filme, ele começa sua narração fazendo uso de metáforas, pouco comum para um filme que se passa num ambiente seco e de vidas duras. A partir de seu nascimento, começa seus primeiros passos.
Ele compra a fazenda São Bernardo e logo arruma confusão com um dos seus confrontantes por ocasião de uma cerca derrubada.
Para Paulo a educação não havia de ajudar homem algum, para ele, “Deveria de meter o pessoal letrado na banha da mamona, hão de ver a colheita.”
Tinha um extasiante pavor aos comunistas e num certo dia, sem querer, percebe seus empregados falando sobre as ideias marxistas e ameaça que se ouvisse novamente tais conspirações não hesitaria em pô-los para fora do trabalho. Ele conhece a mulher que viria ser sua futura esposa. Ela diz ser professora, ele desdenha da profissão da mesma, diz que os funcionários dele, que não possuem nem o primário ganham mais que sua classe.
Ele começa a cortejá-la até o dia em que a mesma aceita o seu pedido de casamento. Os dias passam e Paulo começa a demonstrar as características ora latentes de sua personalidade, que vão se aflorando aos poucos. Não aceita opiniões alheias; mostrasse indiferente a seu filho; ciumento e possessivo, imaginando que sua mulher está a lhe enganar com qualquer um que frequenta sua casa. Ele não percebe que está destruindo a vida de sua esposa aos poucos, pois a mesma já não possui mais alegria, em sua voz, somente tristeza e leveza. Começa a falar de sua possível morte.
Ele diz que a religião não é necessária para o homem, mas para uma mulher sem religião seria algo terrível. Nessa concepção, seria para ele a religião algo como um freio para controlar as decisões da mulher, bem como, as noções de pecado, o conceito de família, mas Madalena era uma mulher á frente de seu tempo e não estava acostumada a viver presa a um homem bruto, sem cultura e sem nenhum tipo de formação, que lhe demonstrasse um pouco de carinho e amor.
Já no final do filme eles se encontram numa capela e conversam, Paulo acaba adormecendo ali mesmo. No outro dia ele vai para sua casa e encontra sua esposa morta em sua cama.
As últimas imagens do filme são de moradores de Viçosa em suas casas de adobo, construídas há mais de quatro décadas e que, com certeza, até hoje existem, continuam no mesmo lugar.
Paulo recita os seguintes versos
“Sou um aleijado,
Devo ter um coração miúdo
Lacunas no cérebro
Nervos diferentes dos nervos dos outros homens
E um nariz enorme.
Uma boca enorme.
Dedos enormes...” (e a luz vai se apagando lentamente)
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