Não sou contra a ficcionalização de eventos reais pra exploração cinematográfica não documental, pelo contrário, desde que constitua um produto ideologicamente coerente. Seria cegueira artística pregar a fidelidade de um filme ao real, diminuir seu potencial artístico a puro didatismo, diminuir o público a acrítico e diminuir a sociedade como incapaz do ensino.
O maior pepino da crítica com o filme então se desfaz, as altas baixaria do núcleo ficcionalizado poderia nas mãos do diretor certo e artisticamente consciente gerar um grandioso filme, um santo graal argumentativo formalista tão frequente em especial no cinema brasileiro que parece encontrar os menos inspirados autores pra manobrar seus projetos mais potenciais. Me lembra os dramas políticos de Hollywood nos anos 40 e 50, com suas tramas ideológicas envoltas do argumentavelmente produto principal na ação física extrapolativa, nomes já óbvios como Ford, Wilder, Fuller. Se quer maiores ambições por que não a postura consciente quase satírica destes num Gordard em começo de carreira? Mas o filme, como de praxe dos Globo Filmes históricos (Marighella, Getúlio) se perde numa incompetência ingênua trabalhando em modo automático a estética noveleira doentia, esta caracterizada ultimatamente pelo individualismo. O filme só se torna viável a partir do ponto de vista de um triângulo amoroso.
Aí tenta uma psicologização extremamente desconfortável da figura política de Brizola como esse "homem de família" (apelando pra um emocionalismo individualista talvez inconciliável com a política para além do conservadorismo. Céus, no Vietnã revisam historicamente o casamento de Ho Chi Minh como forma de exaltar a impessoalidade inerente do revolucionário ideal) que simplesmente não consigo caber dentro da sua discursiva. O núcleo ficcional que rouba a cena parece surgir mais por necessidade de se tapar o tempo em que nada visualmente estimulante é apresentável com hipnotismo Global e escorrega pra lugares que por mais bem intencionados que sejam não possuem qualquer consciência cultural. Seria irônico criticar o filme como propaganda (ao enxergar propaganda como sinônimo de secura e não didatismo) pois não consegue ser mais que entretenimento.
Por fim o filme encontra algo quando a partir da chegada de Jango adota uma postura pessimista (realista?), quase derrotista sobre o destino fadado da empreitada democrática brasileira e desmitologizador sobre a parceria entre Brizola e Goulart (suas brigas nunca entram nos documentários sobre história. Ponto pro filme). O curso final com as lições de Brizola e uma tentativa de conciliar ideologica-historicamente-mitologicamente o brizolismo com a guerrilha comunista demonstraram não apenas tato como também plena noção política. Aí entendeu mais que o ingênuo PCBista novato cursado em Twitter, que o rejeita como trabalhista ou o adota cegamente: Brizola não era marxista, mas foi talvez o maior deles no Brasil.
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