"Heleno" foi outra estreia deste ano que prometia grandes repercussões. Incluindo no elenco Rodrigo Santoro e Alinne Moraes sob direção de José Henrique Fonseca (O Homem do Ano), é uma cinebiografia de Heleno de Freitas, grande jogador do futebol brasileiro.
Sinto que, a princípio, "Heleno" me iludiu com sua poesia. Mostrou-se, sim, muito bom em sua porção conceitual, mas aparentemente houve empenho apenas em destaca-la. Vislumbrei frequentes trechos artísticos inspiradores daqueles de encher o peito. A fotografia linda sempre bem montada em preto e branco, a música muito bem utilizada, as boas atuações... Há cenas maravilhosas, cada qual com sua beleza.
Porém, acho que se esqueceram da parte mais "filme", menos conceito. E não falo sobre os longas clichês que vemos todos os dias, mas de uma linha temporal agradável aos sentidos. De muitos pontos de vista, "Heleno" é um festival de sensações. Algumas das cenas românticas, as tristes, e as sexuais são bem inspiradoras, e vê-las num cinema foi mais do que envolvente: fui drenado, não queria sair daqueles momentos enquanto se desenvolviam diante de mim. Triste é que, majoritariamente, tais atmosferas eram interrompidas por diálogos mal encaixados aqui ou ali e um modo raso de conduzir a história.
Rodrigo Santoro provou-se ótimo ao papel, mas, assim como a beleza das cenas, é só desviar um pouquinho do foco artístico que já não possui o mesmo brilho. Hoje em dia, a sensualidade masculina é tida em dois extremos: o machão brucutu ou um frescor pós-pubescente que às vezes irrita. Ao manter-se fora dos padrões com interpretação singular, Santoro traduz um garanhão com personalidade, coeso com a proposta estilística do longa. Já Alinne Moraes produz impressões dicotômicas: até que imprime beleza e classe a sua personagem, mas não a singularidade necessária. Parece apenas projetar ao máximo sua natural beleza: seu trabalho é bom, mas não digno de fervorosos elogios.
É contada a história de uma personagem polêmica: usuária de drogas, promíscua, despreocupada, arrogante. No decorrer, revivi em mim as mesmas sensações negativas de assistir a "Maysa - Quando Fala o Coração". Ao apresentar o jogador, acredito que houve um tratamento muito superficial. Uma personagem problemática sempre exige alto grau de sensibilidade para que suas ações não caiam na qualidade de cinismos, o que foi ignorado. Assim como é moralmente incorreto exibir alguém como arrogante num todo - infantilizando seus motivos, tratando-o como miserável como se fosse sua natureza -, também diminui a possibilidade de aproximação do espectador para com o indivíduo e o longa. Até que houve momentos em que senti uma triste gentileza florescer no anti-herói, mas a exploração dele manteve-se rasa no resto do tempo a ponto de que parecesse mais um malandro de novela em crise do que uma pessoa real, com sentimentos.
E, de acordo com os diálogos, "Heleno" realmente pode parecer uma novela da globo. Não trazem nada de novo e, somados a atores que já nos acostumamos a ver, despertam cada vez mais a sensação de que já vimos aquilo antes. Bem o oposto das características boas, que inspiram superação dos preconceitos com o nosso cinema.
Parece que detestei a obra, mas não é bem assim. Acontece que o filme me despertou grandes expectativas desde a divulgação até seu belo início, mas que não foram saciadas. Faz-se acreditar um poço de inovação e personalidade, e continuaria deste modo não fosse o fraco desenvolvimento do enredo. Bem dito, foi tocante em várias passagens, e até no final mostra-se um filme decente, mas sem passar disto. Num roteiro bem construído, caprichado - sem o cinismo da celebridade fútil louquinha e aprofundando mais certas questões -, com certeza seria uma produção honrosa. Não chega a ser uma porcaria, mas não alcança um terço de sua capacidade.
(Texto escrito para meu blog, Beep Bop Boom - como visto em http://www.beepbopboom.com.br/2012/04/heleno.html - e adaptado às regras do Cineplayers)
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