A recepção de The Tourist entre a crítica está longe de ser das mais amistosas. Na verdade, o filme tem sido massacrado. Eu devo ter lido alguns trechos de apenas três ou quatro delas, mas basta observar as estrelinhas nas avaliações finais ou a média das resenhas especializadas para perceber que o filme é um completo fracasso. Algo assim já definitivo, queiramos ou não. Da mesma forma que Inception é um dos filmes mais visionários dos últimos tempos, segundo eles, The Tourist é uma bomba – antes mesmo de comprarmos os ingressos para esses filmes, o veredito final já havia sido dado, e ele estava lá no subconsciente de praticamente todo o público, de uma forma que ser contrário parece uma afronta rapidamente combatida com rispidez, sarcasmo ou estranheza quando se tem alguma credibilidade.
Eu mesmo já estava preparado para o fracasso de The Tourist. O que me fez resistir um pouco foi o nome na direção: Florian Henckel von Donnersmarck, o mesmo de Das Leben der Anderen [A vida dos outros, 2006], seguramente um dos melhores filmes dos últimos anos. Mas, claro, sempre há a possibilidade de um trabalho ruim, especialmente para aqueles cineastas que ainda precisam provar que têm, de fato, uma qualidade acima da média. De qualquer forma, tudo seria especulação até o momento de ver o filme – e, amigos, ultimamente nem sinopses eu tenho lido para não criar expectativas erradas: uma linha de conduta recomendável a todos.
Vamos, então, ao que importa: The Tourist está longe, muito longe de ser uma porcaria. É, para mim, por enquanto, um dos dez melhores filmes de 2010, ainda que com ressalvas. Vou logo adiantar: o twist final é, dentre as três opções que os realizadores deveriam ter na mesa, a pior de todas. Mas até este momento, tudo se encaminhava muitíssimo bem: o enredo cheio de reviravoltas, a trilha sonora, a beleza das localizações, do figurino e, claro, da musa Angelina Jolie, as tiradas cômicas, o pequeno romance lá no meio da história – enfim, uma bela homenagem a grandes clássicos como Charada, Intriga Internacional ou Ladrão de casaca, tão surpreendente e bem feita que, pensava eu na sala, mesmo com uma fatalidade inesperada, o filme não poderia ser tão ruim como anunciavam.
Realmente não dá para entender. Um filme como esse, feito para se ver em uma enorme tela de cinema, repleto de ângulos maravilhosos, que se abdica de forma admirável à megalomania dos efeitos especiais e que traz para o público personagens um pouco mais interessantes do que os bobalhões de sempre não merece tantas agressões. Mesmo com aquele twist final, tão bobo e absurdo – ainda que o gênero, por si só, seja alimentado por absurdos deliciosos – The Tourist não desmorona abruptamente porque há grandes momentos que não devem ser ignorados.
De fato, à primeira vista, o desfecho passa dos limites. Mas vale a pena se apegar tanto a isso? Creio que não. De qualquer forma, nós não precisamos de realidade quando vamos ao cinema. Dentre todas as maravilhas que ele pode nos oferecer, o entretenimento na sua forma mais pura – e até mesmo ingênua – e aquela sensação de otimismo cada vez mais apagada ultimamente, são das mais importantes – e The Tourist, mesmo com falhas, consegue consolidar suas intenções. Mas, claro, por bem ou por mal, vocês não verão muitas resenhas parecidas com esta aqui.
Esse filme conseguiu uma façanha: provar que é possível fazer um filme sem drama, sem romance, sem ficção, sem ação, sem aventura, sem comédia, sem suspense e portanto, sem a menor graça ...