"O cinema nunca foi tão atrevido, que bom por isso".
Uma montanha seria perfeita para um romance. A montanha na encosta de uma pretuberância ainda mais. De noite o ar gélido, cabanas prontas. Fogueira acesa. Ao redor, nada, só a natureza. Seria uma paisagem deslumbrante para um lindo romance de um homem e uma mulher. Seria o mesmo para um romance de um homem por outro homem? Vou distinguir.
Ang Lee (direção), diretor fúnebre de cenas melancólicas e impressionantemente sárcasticas (o uso do duplo sentido, enigmatismo e fala falada). A sequência não existe, é uma alongada cena com duplo som e câmera lenta (paradona). A cena é regida por uma trilha camponesa-sertaneja, arrastada e sonolenta. O som ainda provoca o mínimo que seja no expectador um desvio de atenção para a paisagem campestre, diluída numa fotografia naturalista e sobre-humana (isto concorre á imperfeição, é usada a fotografia de modo bem primário, novatismo e central). A montagem de Lee é controvertida. A centralização de objetos permitem ao expectador melhor visualização dos personagens (a mistura de objeto e personagem: um entrega a pessoalidade do outro; muito bom). Lee estica o roteiro (Larry McMurtry, Diane Ossana e do conto de Annie Proulx) e inverte certas medidas que foram cabíveis em sua adaptação. A liguagem antes psicódelica do conto de Proulx é transformada em uma séria e satisfatória interferência de códigos de linguagem e entendimento de um roteiro super-mega bem-elaborado, pelas mãos geniais de McMurtry e Ossana, essa bela adaptação valeu aos dois o Oscar de Melhor Adaptação. Ang Lee fez de O Segredo de Brokeback Mountain um filme quase que perfeito, banais erros compõem qualquer obra, erros que dão um clima mais independente ao filme.
O elenco é composto por novos e talentosos atores. Não tanto nem pouco conhecidos pelo público. Uma das mais conhecidas é Anne Hathaway (faz o papel de Lureen Newsome; menina rica e bonita que casa-se com Jack Twist, personagem de Jake Gyllenhaal). Ela é deslumbrantemente atrevida, quer mostrar-se, que falar e revelar para a crítica que não é somente um rostinho bonito e que seu carisma relevante esconde cárates e cárates diversos. Ela mostra o seio em uma cena altamente sensual, mas nada pervertida. Heath Ledger, do jovem Dez Coisas Que Eu Odeio Em Você brilha no papel de Ennis Del Mar, um verdadeiro cauboy americano. Uma revelação dos últimos tempos no cinema. O 'próximo Marlon Brando'. Jake não é por menos: se apresenta com exímia perfeição, com sotaque e postura excelentes. A incorporação dos dois personagens se deve principalmente pelo figurino acanhado mais bem vestido e por obséquio, usufruto da sexualidade e da sensualidade. A dupla encanta e desencanta o expectador com cenas fortes de sexo quase explícito. Os mais velhos (imagino) odiaram. A coragem não tem nada á ver, mas sim o amor á profissão. Aplausos para a dupla.
O enredo eleva-se. E o ódio da classe da época é revelada e o suposto assassinato é salvo. Contudo, o filme quer-se mostrar como um drama super pesado. E consegue isso. Arranca talvez até lágrimas dos mais preconceituosos. Ang Lee arrebenta. Ganha Melhor Direção. Melhor Filme é concorrido brutalmente. Quem leva com infortúnio é Crash - No Limite.
Sorrateiramente e com muita surpresa o filme O Segredo de Brokeback Mountain é inigualável em sua proposta: converter o pensamento preconceituoso e satisfazer a crítica e abalar á todos, sem exceção. Ele consegue tudo isso. Ele faz do cinema o amor, a paixão, e tem a coragem que muitos outros filmes não tiveram: ir contra tudo e contra todos, mas com muito glamour, muita classe e muita magia.
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