"O terceiro filme da trilogia busca amadurecer o personagem de Cruise de forma tão rápida que ocorre uma anomalia em seu caráter e em seu físico, agora de homem".
Em 1996 um grande filme, seguido sempre do nome do diretor, Brian De Palma (do ótimo Scarface de 1983), foi lançado, recepção, ótima; roteiro melhor ainda. E outra coisa, no elenco principal, central, o ator, até agora consagrado por obras lindas, Tom Cruise. O filme é Missão: Impossível (1996). Uma grande inovação no roteiro. Até aí tudo bem. Quatro anos depois, o segundo filme surge; agora dirigido por John Woo. Tudo bem, nesse segundo a ação foi maior, e no primeiro, o drama toma conta. Nesse segundo, a mesma coisa, quase o mesmo elenco, quase a mesma bilheteria (no primeiro US$ 457,696,359, no segundo US$ 546,388,105). Em 2006 a espera pelo terceiro filme da trilogia chegava aos cinema. Missão: Impossível 3 (2006), agora pelas mãos de J.J. Abrams (que também faz pontinha no roteiro) coloca mais ação, mais suspense e muito mais romance (David Fincher, de Seven - Os Sete Crimes Capitais de 1995, até foi cotado para a direção, mais por causa das constantes mudanças de roteiro e com a agenda dele, ocorreu um atraso de um ano; nesse tempo, Cruise indica o diretor Abrams). Na verdade, é o filme (dos três) mais romântico da trilogia. É boa junção de drama-romântico (aqui super bem seguimentado; muita emoção, muito desespero) e de uma ação alucinada, sequenciada e rápida. Em favor dessa ação ponho minha mão no fogo. É tudo que se esperava. São cenas explosivas, rápidas, bem desenvolvidas com fotografia ampliada e sistemática. O visual moderno do filme (nos anteriores aquela psicodélica áurea estilo Poderoso Chefão acaba aqui; graças á Alex Kurtzman, Roberto Orci, J.J. Abrams, Bruce Geller,série de tv; roteiristas) obtém forma superior aos demais filmes de ação; um uso grandioso de som poderoso, ininterrupto de variadas formas e estilos, uma imagem altamente colorida, diferenciada, surpreende o expectador. Agora, entretanto, a bilheteria (como não se esperava) foi um fracasso: total de US$ 397, 850,012. Em comparação com os dois anteriores, o filme deixou á desejar pelo expectador.
No elenco deste mais novo filme as mudanças foram significativas. Afinal, a equipe de Ethan Hunt (Tom Cruise) fora, quase que totalmente, massacrada nos filmes anteriores. O ótimo Philip Seymour Hoffman (do sucessinho Twister, de 1996), que interpreta Owen Davian, é o vilão da vez; aliás, é o melhor de todos os. O grandão Ving Rhames continua na pele do amigo de Ethan, Luther. As boas novidades desse mais novo é o advento da dupla de atores, que, como percebi, deixaram o filme muito mais sexy: o irlandês Jonathan Rhys Meyers, na pele de Declan (do curioso Alexandre de 2004) e a sinuosa Maggie Q, na pele de Zhen (do bom Duro de Matar 4.0 de 2007). É uma dupla de atores ótimos, que valeram os personagens com muito carisma e desenvoltura. Deixaram o enredo muito mais leve e gostoso. Nem muito boa e nem muito ruim, Michelle Monaghan faz o papel de Julia, mulher de Ethan. Por ela, sem comentários; atuação neutra demais, e fraquinha o bastante para não chamar a atenção.
Um bom outro ponto do filme é a sua duração estimada em duas horas e seis minutos. Nem muito nem pouco para o roteiro meramente dividido em partes. Por falar no roteiro, ele é absorto no curioso e mal-usado (por uns ruins filmes) flash back. Uma pequena amostra do final que torna a energia do filme recíproca, concluindo (apartir do expectador) mentiras, traições e contrárias conclusões; um jogo muito bom de memória e percepção.
Vale mencionar, entretanto, o absurdo de forçar os personagens na maturação que o tempo (tanto da história como o da vida real) trouxe á eles. Como se vê nada mudou, quer dizer, quase nada: uma montagem, antes descolada, bastante espiã agora é tecnologicamente sorrateira, na 'esquerdinha'; aquela fotografia escuríssima, horrenda, negra, agora é meta-forme, suspensa na imagem e contraindo os personagens; de todo o filme a edição é o melhor, juntamente é claro com a trilha que é pesada, como já disse explosiva. São poucos os efeitos visuais (como os da ponte), mas todos eles são de alto bom gosto; a falta de exagero nessa parte foi de ótimo acerto por parte da produção, que focalizou, gradativamente, no decorrer do filme, em diálogos e regras que deveriam obedecer aos princípios dos dois filmes anteriores. Um vai e vem de releitura e observação da equipe técnica e cenográfica.
Por fim, terminando com exasperado comentário, não posso dizer que Missão: Impossível 3 tenha sido o filme de estilo modernista de maior bom gosto do ano de 2006, quanto mais da década; sem exageros agora. Contudo, posso descriminar que o filme (apesar do desastre de público) tem seus belos pontos positivos, todos eles têm. O filme é uma enorme contradição no cinema, que insiste e persiste no público que é só dele. Uma luta com o marketing, com as constantes ondas de mudanças de enredo e gênero, e o maior desafio dele e de qualquer outro filme, uma luta com o tempo; este que sempre cruza a novidade e a renovação. O desafio de qualquer sequência, continuar agradando e sempre com muita simpatia, confiança e prezado zelo pelo expectador e seu gosto, que sempre é indecifrável. Acha difícil? Qualquer que seja a resposta, não entre no ramo se acha complicado. Ele vale á pena; mais dá um enorme trabalho.
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