Escrever sobre este filme traz um peso consigo. O peso de honrar esta saga iniciada há mais de dez anos e concluída há outros dois. O número de fãs que a tanto a série de livros quanto a de filmes conquistou é enorme, assim como a ‘devoção’ destes fãs para com as obras. E eu como um destes fãs sou levado pela nostalgia e gratidão toda vez que reassisto ao filme.
Harry Potter e a Pedra Filosofal, o filme, foi responsável pela introdução de milhares de pessoas ao universo do bruxo e, consequentemente, à entrada de outras milhares de crianças no mundo da literatura. Crianças maravilhadas pelo mundo e pela magia do filme que ao saber dos livros logo correram atrás dos mesmos. Depois de ler os outros volumes ficava fácil entender como a leitura é uma atividade divertida e gratificante. A partir desse ponto, pular para outros livros seria fácil.
O mundo criado por J.K. Rowling é uma reunião de velhos traços conhecidos da literatura fantástica e personagens bastante carismáticos. A missão de A Pedra Filosofal é apresentar todo o universo de Hogwarts, suas regras, características e seus personagens. E mesmo levando mais de 150 minutos para tal (metragem muito alta para um produto infantil), o filme se sai bem de modo geral.
Para tomar conta da tarefa foi chamado Chris Columbus, o homem por trás de clássicos como Os Goonies, Gremlins e os dois primeiros Esqueceram de Mim. Ao adaptar o livro, Columbus acerta ao prezar pela fidelidade. As passagens do livro necessárias para o entendimento da história estão lá e as características encantadoras de Hogwarts também. O diretor claramente dá valor ao universo que está adaptando e, assim como Harry, ficamos impressionados a cada nova descoberta. Desde a primeira cena a magia já está presente, com Dumbledore aprisionando luzes, McGonagall se transformando de gata para mulher e Hagrid voando numa moto.
Junto com Columbus veio o mestre John Williams para compor a trilha. O tema principal do filme (e de toda a série) é a famosa “Hedwig’s Theme”. Épica, magistral e eterna. Dificilmente você poderá encontrar uma pessoa que não conheça a música. Qualquer fã se comove de apenas escutá-la. Mesmo assim o restante da trilha não deixa a desejar, pontuando com maestria as cenas do filme.
Mas o maior acerto fica mesmo por conta do elenco, tanto que veio a se tornar um ponto comum a todas as sequências e marca da série. Os adultos da história são representados por grandes atores do cinema, televisão e teatro britânicos. Aqui temos ninguém menos do que Maggie Smith, Richard Harris, Warwick Davis, John Hurt, John Cleese (sim, aquele de Monty Python!) entre outros. E quem se destaca é Alan Rickman. Seu Severo Snape é ameaçador, imponente e misterioso na medida certa. Em frente a tanto talento fica difícil para os novatos que interpretam as crianças. Não que Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson (ah, Emma!) e os outros se saiam mal. Mas fica a sensação de que poderiam ser melhores.
Como nem tudo são flores, uma análise mais fria do filme revela um problema grave: a narrativa episódica. Por várias vezes somos apresentados a um problema para na cena seguinte os personagens já encontrarem a solução, e logo já estamos em outro lugar cuidando de outras coisas. Se não fossem pelas datas comemorativas, ficaria a impressão que tudo ocorreu no intervalo de uma semana ou duas no máximo. Em outras palavras, o filme não flui naturalmente. Além disso, o número de coincidências e conveniências encontradas é elevado, até para os padrões de um filme fantástico. Por fim, a parte inicial em que Harry mora com seus tios repulsivos é muito apressada. Uma maior exposição do sofrimento de Harry amplificaria os efeitos das maravilhas de Hogwarts.
A escola, aliás, é dos personagens mais importantes da história. Motivo de encantamento para Harry e consequentemente para os espectadores. A produção do filme acerta em cheio ao retratar o castelo e seus arredores. Um chapéu que fala, escadas que se movem, quadros ‘vivos’, aulas de magia, centauros e o esporte bruxo quadribol são algumas das maravilhas que nos inserem tanto neste universo.
E com Harry nos identificamos. O garoto pula de um verdadeiro inferno no nosso mundo trouxa direto para Hogwarts, e fica estupefato diante de tudo. Cada curva nos corredores, cada nova pessoa conhecida, cada livro na biblioteca pode conter uma nova surpresa deste mundo bruxo. Mundo que nos impressiona, encanta e envolve, que nos faz imaginar o que ainda está por vir, assim como Harry ao olhar da janela de seu quarto no primeiro dia de aula.
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