Filmes sobre o Holocausto tem aos montes. Desde o documentário Noite e Neblina, lançado apenas cinco anos após o fim da Segunda Guerra, até O Menino do Pijama Listrado, diversas obras de diferentes nacionalidades abordaram os horrores que se passavam nos campos de extermínio de judeus na Europa durante a década de 40.
Nenhum diretor, no entanto, abordou o tema da mesma forma que László Nemes em O Filho de Saul, representante da Hungria no Oscar 2016 e, não por acaso, o franco favorito ao prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira.
Não que seus concorrentes sejam inferiores (o francês Cinco Graças -- falado em turco -- é uma obra-prima), mas O Filho de Saul não só levou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e o Globo de Ouro de Filme Estrangeiro, como também levou praticamente todos os prêmios na última temporada.
Mas por que todo esse bafafá? O Filho de Saul conta a história de Saul (Géza Röhrig), um prisioneiro de Auschwitz que fazia parte do Sonderkommando, uma unidade de trabalho dentro do campo que obrigava judeus a cuidarem dos corpos de prisioneiros mortos nas câmaras de gás. Certo dia, ele encontra o cadáver de um menino que ele toma por ser seu filho, e inicia uma estranha busca por um rabino que possa enterrá-lo decentemente.
A insistência de Saul em enterrar o corpo de uma criança que ele nem conhecia, em vez de levá-lo para as fornalhas onde seria cremado como todos os outros, é, na verdade, um prisioneiro procurando algum sentido em meio ao inferno. Para encontrar algum rabino, Saul chega a colocar em risco a própria vida e a de outros prisioneiros também.
Mas o que causou todo o furor em torno do filme foram as decisões certeiras do diretor, que entregou uma obra sufocante e que exige um certo tempo para reflexão após o seu final.
Nemes optou por filmar em tela 4:3, um tipo de enquadramento clássico que era muito usado no cinema até a década de 50. Da mesma forma, a câmera permanece colada no rosto do protagonista o tempo todo, alternando sempre entre as expressões sérias de Saul (que sorri apenas uma vez durante todo o filme) e as cenas que acontecem ao seu redor.
Assim, o diretor joga o espectador para dentro do filme, e todos os aspectos técnicos da obra -- desde a fotografia até os efeitos sonoros -- parecem contribuir para aumentar essa sensação.
O Filho de Saul surge, portanto, com uma abordagem diferente e original para um tema já desgastado. Não é o melhor entre os indicados ao Oscar, e tampouco é o melhor filme já feito sobre o Holocausto, mas sua vitória praticamente certa no domingo (dia 28) é 100% justificável.
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