Uma bela e comovente produção dirigida por Sidney Pollack, onde as lindas paisagens africanas quase roubam o filme para si.
Entre Dois Amores é um daqueles filmes interessantes de serem conferidos pela história que apresenta. O trabalho do diretor american Sidney Pollack baseia-se em um dos trabalhos de Isak Dinesen, pseudônimo da real escritora dinamarquesa Karen Blixen que viveu durante o ínicio do século XX e escreveu aproximadamente sete livros. E é justamente por um deles que esse "Out of Africa" se baseia. "A Fazenda Africana" foi o segundo livro da escritora européia, publicado em 1936. Nele, Dinesen conta a sua própria história, de quando ela se casou e foi morar com o seu mardio Barão em uma fazenda do Quênia, em meados de 1913, pouco antes da Primeira Guerra Mundial eclodir e no meio da colonização inglesa sobre os países africanos. No filme de Pollack, Karen Blixen é interpretada por Meryl Streep, com seu sotaque caprichado. Ela, que se casou com o Barão Bror Blixen-Finecke unicamente pelo interesse com o título de baronesa, e ele pelo dinheiro da rica família de Kaen, se instala comodamente na luxuosa e típica casa aristocrata européia do início do século passado. Ela passa então a comandar a arriscada plantação de café, que costuma não vingar em solos tão altos, como são as colinas quenianas onde a fazenda está localizada, enquanto o marido sai a procura de caças e mulheres. Sentindo-se terrivelmente solitária e abandonada, apesar de não querer demonstrar seus sentimentos a nenhum de seus fiéis empregados kikuios, ela conhece Barkeley (Michael Kitchen) e o jovem aventureiro Denys Finch Hatton (Robert Redford), com quem logo se tornam amigos. Demonstrando grahnde talento para contar história, ela parece seguramente certa de que não sentiria a falta de seu marido (um casamento sem amor algum). Quando a Primeira Guerra parece inevitável, seu marido parte junto ao Exército para defender o país. Sentindo uma certa inveja do liberalismo masculino da época, Karen atravessa o Quênia até o local onde todo o exército inglês está concentrado. Lá, ela recebe a terrível notícia que está com a doença sífilis e se vê obrigada a voltar para a Dinamarca com 50% de chances de cura. Ela volta porém, curada e pronta para recomeçar, mesmo sem poder ter filhos. Enquanto o marido se ausenteia por mais vários dias, ela passa a conhecer o homem individualista que é Denys e passam a ficar juntos, como amantes. Em meio ao amor existente entre os dois, nota-se a diferença entre os dois. Ela, que preza muito pela família e pela casa, e ele, que prefere ficar à solta, e ir para onde quiser. Como todo casal com pontos de vistas completamente opostos, os dois enfrentariam problemas sérios, menos sérios do que Karen passaria a enfrentar depois do divórcio com o Barão.
'Entre Dois Amores' é um grande filme unicamente por sua história envolvente e apaixonante. E coube ao diretor Sidney Pollack leva-la às telas de cinema. A idéia de adaptar "A Fazenda Africana" para os cinemas já foi cogitada pelos diretores Orson Welles (comandante do poderoso e revolucionário Cidadão Kane), David Lean (de A Ponte do Rio Kwai e Lawrence na Arábia) e Nicolas Roeg (de Inverno De Sangue Em Veneza). Mas foi o renomado e determinado diretor Pollack, que já dirigira grandes produções cinematográficas como Tootsie, A Noite dos Desesperados e Ausência de Malícia, que ficou a cargo de comandar essa importante história para o cinema. Para dirigir com afinco 'Entre Dois Amores', Pollack devorou inúmeros livros sobre as culturas, tradições e rituais, hábitos e línguas dos povos do Quênia, tão diversificados e opostos, quanto os sentidos que os atraem. Pollack decidiu filmar 70% do filme nos territórios quenianos, tendo que se submeter às diferentes leis do local, e que importar leões treinados vindos da Califórnia para o país, já que nã se permitiam o uso de animais locais em filmagens cinematográficas. O diretor quis também que o filme tivesse um impacto visual arrebatador, tal como Apocalypse Now de Francis Ford Coppola, priorizando a uma fotografia mais realista e uma direção de arte idêntica aos cenários europeus das décadas de 10 e 20 (verdadeiras réplicas). Segundo o próprio Pollack, para que esse seu desejo se tornasse realidade, ele teria que ser extremamente fiel ao livro de Dinesen, que "fez a África parecer tão maravilhosa e poética!". Toda essa vontade de causar impacto visual na produção foi justamente para amenizar temas mais profundos e complexos que vêm junto com o pacote no livro. Os sub-temas mais penosos como a Primeira Guerra Mundial, a colonização na África (que viria a render inúmeras Guerras Civis e lutas pela repressão européia no continente), assim também como as liberdades para homens e a condenação de mulheres na sociedade sairam até mais suaves e amenos, sem causarem tanto alvoroço quanto o desejo de Pollack, que também foi o responsável pela produção do filme, negava desde o início. "Produzo meus próprios filmes há 20 anos, o que significa que preciso falar com menos pessoas.", ele dizia. Em geral, a direção de Sidney Pollack está excelente, correta e muito realista, mantendo o clima e ritmo certo, apesar de deixar a atuação dos atores de lado.
Ele os deixou trabalhar da maneira como queriam, apenas orientando a respeito do sotaque e de como deveriam se postar (como se Streep e Redford precisassem de algum tipo dessa orientação). De resto, confiou tudo o que podia e o que não podia no talento dos atores, que na verdade não decepcionam, mas simplismente não brilham. Só mesmo a sempre fantástica Meryl Streep, que é a melhor do elenco, com seu sotaque correto e suas ironias femininas a fazwm brilhar mais uma vez no cinema. Os minutos finais são realmente divinos, onde Streep demonstra ser tão grande quanto era anos antes de ganhar seu primeiro Oscar, e que foi incrivelmente garantindo mais talento e prestígio ao redor do mundo.
É interessante notar como a atriz é curiosa e multi talentosa, capaz de atuar em qualquer tipo de filme, fazer qualquer tipo de papel. "Interpretar não tem a ver com ser alguém diferente. Trata-se de encontrar similaridades no que é aparentemente diferente e depois se encontrar nelas.". É o que Meryl Streep revela cada vez que algum repórter ou jornalista a questiona de onde vem tanto talento. Ela ainda completa que quando não se sente confiante o suficiente para atuar um personagem à margem da perfeição no cinema, simplismente nem tenta, uma vez que se diverte com o que faz, segundo a própria atriz: "Acho tão divertido, que parece até ser ilícito ser tão divertido. Tenho curiosidade em relação às pessoas, essa é a essência da minha atuação. Estou interessa em como seria se eu fosse você.", revela ela em uma entrevista. O fato é, que nem esquecer a estaueta do Oscar que ela ganhou pela sua atuação de coadjuvante em Kramer Vs. Kramer de 1979, nos faz esquecer que ela é a recordista imbatível de indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro, disparada a atriz mais reconhecida e respeitada de Hollywood e em todo o mundo.
Meryl Streep é sem dúvida a melhor de todo o elenco, e mesmo o talento a ser posto em prática de Robert Redford não consegue driblar o da atriz americana. Redford se mostra ser melhor dirigindo filmes do que atuando neles. Seu verdadiero charme está atrás das câmeras, onde parece ter mais liberdades e que talvez esteja muito mais à vontade. O mais insosso do elenco é justamente aquele que venceu o Globo de Ouro de Melhor ator Coadjuvante pelo papel do Barão de Karen, Klaus Maria Brandauer. O ator austríaco é um verdadeiro fenômeno lá, assim como o futebol é no Brasil e o cinema é nos Estados Unidos. O ator é aclamado por todo o país europeu, mas neste "Out of Africa", apesar de sua indicação ao Oscar, não demonstra ser nada além de um coadjuvante normal, que não faz feio e que também não faz nada de mais, simplismente entra em cena, diz as suas falas e sai, do jeito que entrou.
O roteiro de 'Entre Dois Amores', como já foi comentado, é extremamente fiel à obra original. A adaptação ficou a cargo do roteirista Kurt Luedtke, que já trabalhara com Sidney Pollack em 'Ausência de Malícia' de 1981. O script ficou um tanto longo e monótono, mas se é exatamente assim que o livro de Denisen é, o melhor é aproveitar e curtir cada momento de diálogos e cenas prazeirosas, como a cena do inesquecível vôo de avião, que sobrevoa as belíssimas paisagens do Quênia, passando por cima do azul Oceano Índico, as belas colinas e contornando o monte mais alto do país e o segundo maior da África, o "Quênia" com mais de 5.000 metros de altura, que só perde para a magnetude do Monte Kilimanjaro, situado no território da Tanzânia. A impressão que no meio para o final do filme, o roteiro deixa, é que ele demora um pouco para chegar à conclusão que o espectador tanto espera. Passa por detalhes importantes no livfro, mas que poderiam ser facilmente descartados na edição final.
Falando em edição, vamos falar dela. Na minha opinião só funciona nas cenas de golpes de imagens, como na do avião, ou em outras envolvendo os protagonistas, em cavalgadas e tiros. Em relação à duração do filme, como já dito, uns 10 ou 15 minutos poderiam ser tirados fora, caso houvesse uma esperta redução do roteiro, que tem esse problema como o principal defeito, além de ter ocultado importantes passagens do livro que poderia pelo menos entrar no lugar das descartadas, como a do aborto natural que Karen sofre ou no local exato (e mais provável), que ela e Denys se conheceram pela primeira vez.
Nos quesitos técnicos, 'Entre Dois Amores´é um primor de beleza. Cada cena é uma verdadeira pintura. A fotografia sensacional de David Watkin encanta os olhos de todos, com cores africanas, o nascer do sol, a silhueta de pessoas perante à imensidão da reserva nacional do Shaba, onde algumas cenas foram filmadas e amplamente melhoradas em imagem com o competente trabalho de Watkin. Quem também não merece desprezo algum é a equipe de diretores de arte, que incluem Colin Grimes, Cliff Robinson e Herbert Westbrook e o desenhista de produção Stephen B. Grimes, que demoraram mais de um ano para finalizarem os cenários perfeitos que enfeitaram as cenas internas do filme. Após uma profunda pesquisa de Pollack sobre cada detalhe dos locais, da decoração, eles trabalharam fundo e conquistaram, assim como o dietor de fotografiza Watkin, o Oscar em suas respectivas categorias.
Merece destaque ainda mais especial a trilha sonora de John Barry. Considerada pelo American Film Institute (AFI), a 15ª melhor trilha sonora já composta na história do cinema, Barry foi imensamente feliz ao criar um conjunto de faixas musicais que entraram para a história como uma imensidão de idéias e reflexões sobre os problemas que o mundo aflorava no início do século XX, em meio à paisagens exuberantes da África. As músicas de Barry também pontuavam o sentimento de solidão e aventura que a personagem de Meryl Streep, Karen sentia conforme o seu envolvimento com Denys, mostrando ao espectador uma mistura de temas com seus diversificados gêneros.
Os problemas que a produção de Entre Dois Amores enfrentou foram bem poucas na verdade. Eles teriam que conversar com mestres nativos como conseguir figurantes das localidades e como poderiam aproveitar a área deles para filmarem algumas cenas externas. O maior problema mesmo, deve ter sido a cena em que Meryl Streep tenta espantar o leão com o chicote. Naquela cena, o leão deveria estar preso a uma corrente de aço, para caso fosse atacar a atriz, mas ele não estava. Portanto o rosto de horror que Meryl demonstrava na cena era real, e ela estava de fato, correndo um sério perigo de ser atacada por um leão, que apesar de ser treinado, estava faminto de verdade.
"Out of Africa" é um excelente filme de amor, que mistura problemas e acontecimentos históricos em meio a uma paisagem belíssima e melhorada por uma equipe de arte altamente qualificada. Comprovando mais uma vez o talento da inaufraguável Meryl Streep, Sidney Pollack comanda um filme vencedor de 7 Oscars, dos 11 que disputava, além de 3 Globos de Ouro. com um orçamento de US$31 milhões, o diretor e também produtor esntre ao público mais uma adaptação de primeira linha, que como todo roteiro baseado em uma história famosa, possui os problemas de enredo.
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