Sofia Coppola entende bem do mundo das celebridades. Filha do renomado cineasta Francis Ford Coppola (“O Poderoso Chefão”), esposa de Thomas Mars (vocalista da banda Phoenix), irmã do roteirista Roman Coppola (“Moonrise Kingdom”) e prima do ator Nicolas Cage (“Despedida em Las Vegas”), Sofia está mais do que acostumada com a ostentação de Hollywood. The Bling Ring, seu mais recente filme, conta a história real de uma gangue de adolescentes que se reuniu durante pouco mais de um ano para invadir e roubar mansões de celebridades em Los Angeles. Paris Hilton, Lindsay Lohan, Orlando Bloom, Audrina Patridge e Rachel Bilson estão entre os famosos que foram vítimas dos cinco jovens endinheirados da capital mundial da fama. O grupo não rouba para lucrar em cima dos pertences roubados, mas sim para imitar o lifestyle dessas personalidades que eles tanto admiram. Após invadirem as mansões com relativa facilidade – quem poderia esperar que grandes astros como esses deixassem a chave de casa sob o capacho da porta? -, os adolescentes ficam encantados com o mundaréu de roupas, acessórios, sapatos e joias que essas celebridades acumulam. São tantas coisas, aliás, que Paris Hilton teve a mansão invadida mais de cinco vezes e só notou que havia sido roubada quando dois milhões de dólares em joias desapareceram de seu closet. Sofia Coppola, que desde criança convive nesse mundo das aparências e do luxo ostensivo, acerta em todas as suas escolhas e entrega, por fim, seu melhor filme.
Dizer isso com tamanha segurança não é fácil. Sofia é uma das diretoras mais queridas da atualidade e cada novo trabalho seu é aguardado com ansiedade. Ela, que já venceu o Oscar de Melhor Roteiro Original por “Encontros e Desencontros” e o Leão de Ouro no Festival de Berlim por “Um Lugar Qualquer”, abriu a edição deste ano de Um Certo Olhar, principal mostra paralela à competição oficial do Festival de Cannes, na França, com “The Bling Ring”. Sofia, na verdade, é a grande responsável por todos os fatores que fizeram deste um filme bem melhor que a encomenda. Para escrever o roteiro, a diretora baseou-se em “Os Suspeitos Usavam Louboutins”, artigo publicado em março de 2010 na revista Vanity Fair pela premiada jornalista Nancy Jo Sales, que se especializou em perfis de celebridades. A matéria foi lançada poucos meses após os membros da gangue terem sido identificados pela polícia de Los Angeles e chamou a atenção de todo o mundo pelo fato de os ladrões serem jovens de aproximadamente 18 anos, nascidos em berço de ouro e frequentadores das casas noturnas mais badaladas da cidade. Além disso, o artigo também chamou a atenção da cineasta, que enxergou nele o potencial necessário para virar um filme típico de Sofia Coppola. Em “The Bling Ring”, a diretora retoma mais uma vez ao seu bom e velho estilo “voyeurístico”. Ela não pretende criticar ou fazer julgamentos morais, ela apenas observa – e essa é justamente sua principal característica e seu maior diferencial. A diretora mostra os personagens como eles são e cabe ao espectador interpretá-los da maneira que achar melhor.
Sofia também é uma cineasta excêntrica nos bastidores. Para preparar o elenco, por exemplo, ela fez os atores roubarem uma casa – na brincadeira, é claro. Segundo a produção, a ideia era observar que tipos de erros o elenco cometia durante o roubo, a fim de que fossem corrigidos para as filmagens soarem o mais natural possível. Emma Watson (a Hermione da série “Harry Potter”), a principal estrela do filme, debruçou-se sobre o papel de Nicki Moore e encarnou-o de forma impecável e até mesmo surpreendente. Para compor a personagem, a atriz admitiu ter ouvido o álbum Femme Fatale, de Britney Spears, e acompanhado diversos reality shows, inclusive “Pretty Wild” - estrelado por Alexis Neiers, a verdadeira Nicki. O resultado é uma típica patricinha de Beverly Hills, com direito à voz enjoada e tudo. Adeus, sotaque britânico. Adeus, Hermione. Emma Watson se revelou, pela primeira vez, uma atriz excepcional e merece todos os elogios que tem recebido. O restante dos atores, Israel Broussard, Katie Chang, Claire Alys Julien e Taissa Farmiga, também fazem bonito. Mas o destaque, inevitavelmente, fica por conta da transformação de Emma Watson.
Tudo é muito bom, tudo está muito bem. Mas há ainda um bônus: a trilha sonora. As músicas que acompanham o filme caem como uma luva tanto para a história quanto para o estilo de Sofia. Artistas como Azealia Banks, M.I.A., Lil’ Wayne e Rye Rye embalam as cenas e as tornam ainda melhores.
The Bling Ring – A Gangue de Hollywood é uma análise bastante eficiente do mundo dos famosos de Hollywood, um mundo que nos assusta e nos fascina a um só tempo.
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