O filme mais ambicioso do aclamado e eloquente James Cameron estreou nos cinemas e em três semanas já é a segunda maior bilheteria da história. Os motivos? Rumores de que Avatar serviria como um divisor de águas para a sétima arte e a promessa de uma revolução no cinema em três dimensões, engrandecida pelo próprio diretor, fizeram do filme um verdadeiro e precoce fenômeno cinematográfico.
Eis um filme que deu o que falar antes mesmo de estrear nos cinemas. Afinal de contas, 'Avatar' é o trabalho que marca o retorno do diretor James Cameron, responsável pelo comando do filme mais rentável da história. E se Titanic continua sendo até hoje, 12 anos depois de seu lançamento nas telonas, o megasucesso que atraiu milhões de pessoas para as salas de cinemas, 'Avatar' tinha tudo para repetir o feito. Mas não foi do nada que surgiram os rumores antes mesmo da estreia do novo filme de Jim Cameron. O próprio diretor fez questão de divulgar para quem quisesse ouvir que este seria o seu mais importante e revolucionário trabalho, anunciando que o 3D teria um papel muito maior na indústria cinematográfica. Além disso, a promessa de que depois de 'Avatar' o cinema nunca mais seria o mesmo animou platéias do mundo inteiro e no dia 18 de dezembro de 2009, milhares de pessoas se encontraram nos cinemas para conferir esse tão esperado e comentado filme.
Os reflexos do sucesso que o longa causou na estreia reflete hoje, vinte e dois dias após o seu lançamento. Nos Estados Unidos, já beira os 400 milhões de dólares arrecadados, enquanto no mundo, a marca dos 800 milhões deve ser batida ainda nesta semana. Somando, são quase 1,2 bilhão arrecadados no planeta. Uma quantia assustadora para um filme que estreiou há apenas três semanas.
Mas eis que consegui ver o filme. Após dias tentando comprar, e nada de conseguir, vejo o filme com a sala lotada, todos pegando os óculos de três dimensões e correndo para pegar o melhor lugar possível. Quando o filme está para iniciar, a platéia aplaude e depois, segue o silêncio por 162 minutos. E durante as intermináveis duas horas e meia de duração, todos que estavam lá presentes puderam conferir um verdadeiro espetáculo visual.
Sinopse
Estamos em 2154, e a quatro anos-luz da Terra, uma corporativa exploradora de minérios desembarca em Pandora, um dos lugares mais hostis do universo, cujo ar tóxico para os seres humanos impede uma revista mais detalhada do planeta. A fim de exporar as ricas reservas do minério Unobtanium, pedra preciosa exclusiva de Pandora que vale cerca de 20 bilhões de dólares, a equipe coordenada pela Dra. Grace Augustine (Sigourney Weaver) cria o Programa Avatar. Para participar dele, é preciso anos de treinamento. Durante este período, os selecionados aprendem tudo o que podem e o que é conhecido pelos humanos sobre Pandora, seus habitantes e a cultura que eles carregam nas costas há tantos anos. Depois de preparados e armados até os dentes tanto de munição quando de conhecimento sobre os Na'vi, os pesquisadores podem aprovetar da arma mais poderosa que os humanos já inventaram nessa empreitada de exploração. Foram criados corpos híbridos humanos-Na'vi, que foram modificados com material genético compartilhado de um determinado humano para que ele possa ser mentalmente ligado ao corpo Na'vi, que passam a ser chamados de avatares. Através de conexões nervosas, os humanos passam a ter livre controle sobre os seus respectivos avatares.
Mas não se tratam de criaturas com outras. São seres muito parecidos com humanos. Bípedes, os Na'vi tem pele azulada e mais de três metros de altura. Possuem um rabo e ossos mais fortes do que os de humanos. O povo Na'vi possui o seu próprio idioma, tem uma ligação direta com a natureza e são conhecidos por serem muito unidos. Ao longo das eras criaram uma mitologia única, baseada em crenças divinas e na veneração pela deusa Eywa.
É dentro do Programa Avatar que entra Jake Sully (Sam Worthington), ex-fuzileiro que perdeu o movimento das pernas. Quando ele chega em Pandora, é chamado imediatamente para tomar o lugar do irmão Tommy, pesquisador da equipe da Dra. Augustine, que morrera recentemente. Por ter o genoma idêntico ao do irmão gêmeo, ele passa a substitui-lo e agora, conectado ao seu avatar, pode finalmente ter o controle dos membros inferiores novamente.
A cooportativa comandada por Parker Selfridge (Giovanni Ribisi) envia então os avatares para a missão em Pandora. Lá, Jake conhece Neytiri (Zoë Saldaña), uma nativa que fica encarregada pelos seus pais de ensinar a Jake todos os costumes e conhecimentos de seu povo. Aos poucos, entretanto, o que era para ser uma missão que geraria na confiança dos Na'vi nos avatares, vira um romance entre Jake e Neytiri, e quando os humanos resolvem partir para o ataque, ele deve resolver de que lado pretende lutar.
Avatar: o sonho (quase) impossível
O título pode parecer batido, mas não existe frase melhor pra descrever o trajeto que o roteiro de James Cameron percorreu até estreiar nos cinemas. Anos atrás, antes mesmo do diretor ser mundialmente reconhecido pelo sucesso de Titanic, o esboço do que viria a ser o complicado roteiro de 'Avatar' já estava pronto, tanto no papel quanto para ser aceito por uma produtora. Disseram que, apesar da história ser interessante, não havia como filma-la. As explicações dadas a Cameron foram que não havia tecnologia disponível para tal "absurdo". Mas depois que o próprio Cameron revolucionou o mundo digital em 'Titanic', depois que os efeitos especiais ganharam cara nova e a tecnologia de imagem foi sendo aperfeiçoada pouco a pouco, o projeto de Cameron, engavetado porém nunca esquecido, poderia finalmente ser levado para frente.
O diretor então, com a verba necessária para o começo de tudo, iniciou o processo de elaboração do roteiro, criação do mundo de Pandora que ele havia imaginado tantos anos atrás. Eis que depois de cinco anos, ele está definitivamente pronto.
Cameron, seu ego e talento inigualável para divertir platéias
Este pode ser um páreo duro para Quentin Tarantino no quesito "arrogância". James Cameron já provou ser desprovido de humildade ao comemorar o Oscar de Direção por 'Titanic' com a frase: "Eu sou o rei do mundo", em uma nítida referência à fala do personagem Jack, interpretado por Leonardo DiCaprio no filme que consagrou o ator e Cameron. Hoje, lembrado como o diretor que comandou o filme com a maior bilheteria já arrecadada no cinema, Jim pode se dar ao luxo de se gabar. Mas o fato é que ele continua sendo o mesmo de sempre. Diretor como nenhum outro, capaz de divertir platéias com os roteiros mais capengas e piegas que a sétima arte contemporânea pode ver, ele é sem sombra de dúvidas, um cineasta de talento.
Cameron tem todas as qualidades de um diretor que cumpre as suas metas. É sempre perseverante e por vezes, brilhante. Se com 'Titanic' ele mergulhou nas gélidas e escuras profundezas do Atlântico Norte, a fim de pegar o melhor ângulo possível dos destroços do navio mais luxuoso do planeta da década de 10, com 'Avatar' ele foi capaz de construir uma câmera especial para filmar diretamente no 3D. É bem verdade que este tipo de filmodora já existe. O diferencial aqui é o peso. Ao contrário da antiga, esta projetada pelo próprio cineasta é portátil, leve e prática.
Não preciso nem dizer que 'Avatar' é o filme mais caro da história, assim como 'Titanic' foi na época de seu lançamento. Cameron parece não ter limites, ainda mais quando está por trás das câmeras, comandando seus atores, descobrindo novas técnicas de filmagem e procurando inovar a cada trabalho novo. Desta vez, até aqueles que não suportam o seu ego têm que admitir: ele se superou.
O lado "esquemático" de James Cameron
Não estou fazendo uma homenagem ao diretor, se é isso que está pensando. Acontece que, uma vez já analisada a direção de Cameron, chegou a hora de criticar aquilo que ele ainda precisa melhorar, e muito: seu trabalho como roteirista. Neste aspecto, é preciso reconhecer que jamais foi o forte de Cameron. Aliás, se tem uma coisa que incomoda nos seus filmes é justamente o script. Foi assim com o roteiro superficial, clichê e furado de 'Titanic', é assim agora com o texto batido, acanhado e recheado de falhas de 'Avatar'.
Difícil não se sentir irritado pelos buracos que Cameron deixa no roteiro. Aqui, mais uma vez, ele demonstra maior preocupação com os efeitos especiais e com a técnica em geral do que com o contéudo de seus filmes. É bem verdade que ele tem seus méritos por criar um mundo completamente novo, mas daí a não saber aproveitar uma excelente ideia e pior de tudo, apunhalá-la com situações clichês, piegas e até mesmo ridículas, chega a ser ofensivo. Diversos aspectos do filme ficam sem explicação. E vem aquela típica desculpa de que, com ou sem o esclarecimento, não faria a menor diferença e não afetaria em nada a história.
O fato é que 'Avatar' tem como seu pior defeito um roteiro canhestro, que desperdiça uma ótima ideia com cenas previsíveis, batidas e irritantes.
O mundo novo do cineasta
Deixando de lado a pieguice do texto, é necessário gastar algumas linhas para mostrar o universo que o diretor criou especialmente para o filme. Neste ponto, não há onde pôr defeitos. O resultado é o que vimos na telona, depois de anos de trabalho, o planeta chamado Pandora é tão real, que a sensação de mergulhar no mundo fantasioso criado por Cameron é a melhor experiência que o filme, na versão de três dimensões, é capaz de oferecer.
Os anos gastos com pesquisas e tentativas geraram um planeta habitado por criaturas interessantíssimas, de cultura avançada e ligações com a natureza e com a mitologia criada pelos seus antepassados. Para deixar tudo ainda mais realista, Cameron trabalhou em cima de um dialeto próprio para os aborígenes, o que resultou no idioma diferenciado e inédito que os Na'vi falam. Além disso, foram imaginados animais, plantas e localidades fantasiosas para deixar de Pandora um lugar lindo, misterioso e ultra-realista. Não à toa, o trabalho digital feito para criar o planeta são dos mais perfeitos que o cinema já viu.
Os efeitos especiais e a sua representação
Não é preciso dissertar muito sobre este que é o aspecto mais interessante de 'Avatar'. Os efeitos visuais que estão presentes em praticamente todas as cenas do filme são da mais alta qualidade. E para chegar no nível da perfeição, foram usadas técnicas inéditas para captação de movimentos e expressões faciais dos atores. Sam Worthington, Sigourney Weaver e Zoë Saldaña são alguns dos atores que tiveram que filmar, não sob pesada maquiagem para criar os Na'vi, mas com sensores implantados nos braços, pernas, tórax, rosto e outras partes do corpo. Flexíveis, eles não atrapalham a locomoção dos intérpretes e deles, saem os movimentos feitos pelos atores e as expressões de seus rostos direto para os computadores da produção, onde são inseridos nos avatares.
O resultado final, não só dos Na'vi, mas também de todas as criaturas que habitam a chocante Pandora, é explêndido. Um trabalho brilhante e engenhoso, que arrisco a dizer, já é o vencedor do Oscar de Efeitos Visuais.
Falando em Oscar, são grandes as chances do filme de James Cameron aparecer na lista dos dez finalistas ao prêmio principal da noite. O diretor, que já venceu em 1998 pelo seu trabalho em Titanic, é um dos favoritos à indicação. Além das duas categorias mais importantes do prêmio, nomeações técnicas também são esperadas. Efeitos Visuais, categorias de som (mixagem e edição) e a trilha sonora composta por James Horner também são apostas. A canção "I See You", em uma nítida referência à frase repetida diversas vezes por Jake e Neytiri no filme, também tem grandes chances de ser lembrada.
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Avatar, que prometeu marcar o cinema para sempre, não faz jus às expectativas que giravam em torno dele. É sem dúvidas um filme ambicioso e perfeito na parte técnica, mas cheio de falhas no roteiro. Conta também com atuações canhestras, artificiais e sem emoção. Com destaque para o rosto inexpressivo de Sam Worthington, tanto como avatar quanto como humano. O filme de Cameron não trouxe revolução alguma, já que a sétima arte não será marcada como "antes" de 'Avatar' e "depois" dele. É um filme que veio para ficar como aquele que inovou nos efeitos visuais e trouxe mudanças excepcionais para esta área do cinema. Um grande filme, que tem tudo pra bater 'Titanic' nas bilheterias mundiais, mas que peca em tantos aspectos que fica difícil não se sentir decepcionado. Vale pelo espetáculo e pela diversão.
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