Beirando ao surrealismo crônico, o filme dirigido por Julie Taymor só vale a pena pelas diferentes e deliciosas versões das músicas dos Beatles.
Se Frida já agradou pela forma como a criativa diretora Julie Taymor conduziu o filme, este Across the Universe prometia pelo menos um musical à altura daquilo que prometia, contar duas histórias paralelas ao som das canções frenéticas do grupo de rock britânico, The Beatles, estouro dos anos 60. E assim foi feito, muito embora essas duas histórias se misturem em um roteiro onde só se aproveitam os números musicais, adaptados das canções originais pelo mesmo produtor musical do último trabalho de Taymor.
Contando a história de amor entre Jude e Lucy paralelamente à história dos anos 60 em si, desde a liberação sexual dos gays, os problemas raciais,a Guerra, e outros acontecimentos marcantes da década, os personagens mostram o conteúdo da boa música e a forma como ela pode mudar a estética de estórias verdadeiras e inclusive banais. Infelizmente, talvez seja esse o principal problema do filme, que não soube exatamente encaixar as canções da maneira mais apropriada possível, embora suas versões melódicas sejam dignas de aplausos. Tudo isso, graças a um surrealismo desnecessário que podia muito bem ter sido evitado e quem sabe, apelando para uma forma mais comum de se fazer um musical. Taymor, que acerta em algumas vezes, mas peca ao exagerar na criatividade em outras situações, desta vez consegue atingir o básico do exigido, mas nem por isso, 'Across the Universe' é um filme para ser lembrado, seja como uma homenagem aos Beatles, ou a uma forma mais descontraída (ou em certos momentos de maneira mais violenta) de se contar os "perrengues" que o povo americano sofria na década que esse mesmo grupo esbanjava sucesso por onde passava.
Em momento algum o filme se perde no seu contexto musical, ele simplesmente usa de uma forma diferente para montar os números, mas consegue fazer com que a história se torne deliciosa e muito real, uma vez que 90% das canções foram gravadas ao vivo em estúdio, sem qualquer tipo de dublagem, somente as afiadas vozes dos intérpretes.
Falando neles, uma pena que não possamos elogiar a atuação de nenhum. O elenco é de uma inexpressividade impressionante, nem uma passagem rápida e praticamente despercebida de Salma Hayek é capaz de salvar este grupo, uma vez que só fiquei sabendo que ela faz uma ponta muito tempo depois de assistir ao filme. Porém, para minha surpresa, Evan Rachel Wood estava um pouco menos péssima que o de costume do papel de Lucy, e quem sabe em O Lutador, filme no qual ela interpreta a filha de Mickey Rourke, ela esteja um pouco melhor e talvez na linha acima do ordinário.
Em quesitos artísticos, é tudo muito bonito, tudo menos a fotografia e os efeitos especiais grotestos. Os figurinos (indicados ao Oscar pela sua criatividade) e a direção de arte são muito bonitos, mas o que realmente impressiona é a qualidade musical. Das 33 músicas que Julie Taymor selecionou para o longa, todas elas foram muito bem preparadas por Elliot Goldenthal.
Músicas como "Hey, Jude", "Dear Prudence", "I Want To Hold Your Hand", "All My Loving", "I Want You (She's So Heavy)", "Let it Be", "Because", "Strawberry Fields Forever" e vários e váris clássicos dos meninos de Liverpool se encontram neste filme, em versões atualizadas e de uma originalidade fantástica. Inclusive a passagem da canção-título, "Across the Universe" é talvez a mais bela do longa.
O filme mesmo só vale a pena mesmo pelas canções e para relembrar os bons tempos, em uma época que os Beatles com John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr embalavam a trilha sonora do mundo com suas músicas contagiantes e omitidas pelos gritos insassiantes das fãs. Across the Universe nos convida a voltar no tempo e relembrar o que aconteceu naquela época, assim como Os Reis do Iê, Iê, Iê fez, só que o filme de Julie Taymor parece mais um quadro sendo retratado no cinema.
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