Se a música ou o que pode resultar dela acaba bagunçando a mente de dois corações, ela também pode levá-los a um novo começo de vida. Meio que perdidos fez o destino se encontrarem por uma música que vinha quase como uma despedida para quem a cantava. Já para quem a ouvia ela lhe injetara sangue nas veias despertando o dom em descobrir talentos. Assim, ambos embarcam nesse novo trem da vida mesmo que inicialmente para darem um troco na vida de então. Até porque não custava nada embarcarem nessa nova viagem pois seguindo a máxima: mesmo se nada der certo, pelo menos eles tentaram. Muito embora o título original é mais eloquente: de que não importa o quanto sinta tão por baixo, sempre é tempo de começar de novo! E quem seria esses dois corações feridos?
Antes o aviso de que para traçar o perfil desses dois corações terá alguns spoilers. Com isso se ainda não viu o “Mesmo se Nada Der Certo” assista primeiro! É uma linda história de superação, de encerrar um capítulo, de enfrentar os próprios fantasmas… Enfim, de um novo recomeço onde a música é o chefe de cerimônia! Agora sim, vamos conhecê-los!
“O amor é dar a alguém a oportunidade de te destruir, mas confiando que não fará isso!“.
Começando por aquela que cantou! Ela é Gretta! Uma jovem meiga sem planos para a fama. A ela já bastava traduzir em letra e melodia seus sentimentos. Baladas românticas para em especial uma outra voz cantar, seu então namorado Dave (Adam Levine). Por ele não se importava em ficar nos bastidores, desde que não apenas como uma fã. O acompanhara de Londres para Nova Iorque: ele estava na iminência de se tornar um pop star. Mas o sucesso mexeu demais com ele deixando Gretta para escanteio, e até no coração dele: trocando-a pela nova empresária. Sentido-se perdida Gretta encontra um antigo amigo que também viera atrás de um sonho na Big Apple, Steve (James Corden). Mas diferente de Dave que já chegara com todas as portas abertas, Steve viera com a cara e a coragem. Cantado pelas esquinas alternando com os dias onde cantava num barulhento bar. Steve é a outra ponta dos que estão em busca da fama. Mesmo assim, ele divide o pequeno palco com ela. Numa de expor seus piores pesadelos, Gretta aceita cantar em público naquele dia em especial.
Pausa para falar de James Corden e de Adam Levine. É que Corden desbancou o outro na performance. Não que Levine fez feio, fora mediano. Já Corden seguiu a máxima de que não há papéis pequenos. Muito embora Levine tenha seguido o esteriótipo do personagem: um canastrão. Enfim, dois personagens importantes nesse momento de Gretta em Nova Iorque! E já que falamos de atuações, agora sim a dela! Quem interpreta Gretta é Keira Knightley que confesso me surpreendeu até por deixar de lado as caras e bocas tão comuns em outros personagens que interpretara. Nesse filme ela está mais contida no gestual levando-a a uma excelente na performance. Enfim, até seus olhares fez jus a personagem! Gretta ficou memorável!
Seguindo agora com aquele que a ouviu na tal noite meio tenebrosa para ambos, ele é Dan! Um descobridor de talentos no campo da música. Ele encontra o caminho para que mesmo em estado bruto a música chegue as pessoas. Sem máscaras, na essência. O que faz dele ser ainda muito querido e respeitado por aqueles que já alçaram voos solos, como o Rapper Troublegum (CeeLo Green). Mas até pela efemeridade do mundo da fama, seus métodos ficaram arcaicos para Saul (Yasiin Bey), sócio e co-fundador da gravadora que ambos criaram com esse olhar no artista, e não no lucro com as celebridades momentâneas.
“Os tempos mudam. As pessoas têm que mudar com elas.“
Pausa para falar de Yasiin Bey. Ele até se desligou de uma outra ai sim de uma performance memorável, o Mos Def de “16 Quadras“, de 2006. Mas o seu Saul ficou no mediano. A ponto de me fazer pensar em algum outro ator ao travar esse duelo com Dan o deixaria memorável. Até porque Saul se rendera a fabricar sucessos pensando muito mais lucro. Até já tinha um método para isso. Enfim, Yasiin Bey não fez feio, mas não roubou as cenas. Ou mesmo que também poderia ter feito uma dobradinha incrível com Dan até porque havia uma trama importante nesses confrontos. Ali havia passado e presente de ambos passado a limpo, e mesmo que passando brevemente por essas histórias. É! O Saul de Yasiin Bey ficou a desejar.
“Por isso amo música. Uma cena banal de repente se enche de significado. Todas as banalidades de repente se tornam pérolas de beleza e efervescência graças à música.”.
Agora sim voltando a falar de Dan! Na e da performance de Mark Ruffalo que mesmo dentro de um esteriótipo comum a outros personagens que já interpretou, seu Dan ficou irretocável! Soube com maestria compor seu Dan. Alguém que do lado profissional não ia nada bem, o no pessoal mais ainda tanto que ficara sem um norte. Dan ainda sentia a separação. Sua ex-esposa Miriam (Catherine Keener) ainda estava presente em seus pensamentos. E sem saber o motivo certo da separação dos pais, nem mesmo o da fase ébria do pai, sua filha adolescente Violeta (Hailee Steinfeld) criara uma barreira ao coração desse pai. Com tudo isso, o Dan de Mark Ruffalo passa do drama carregado de um adulto amargurado à inocência da criança que ainda carregava em si, e sem tirar nossa atenção! Bravo, Mark Ruffalo!
“Mas sou eu quem tem que mudar.“
Não sei se Catherine Keener se sentiu intimidada com tamanha energia de Mark Ruffalo em seu personagem. Mas também não fez feio. Gosto muito de suas performances, mas não deu muita química com Ruffalo tal como a com Steve Carell em “O Virgem de 40 Anos“. Ou até pelo o que sua personagem fizera, ela mostrou-se sóbria demais. Se bem que devido as atuais circunstância, a queda do ex-marido a deixara pedante e ai sim compôs bem a Miriam. Em relação a Hailee Steinfeld em “Bravura Indômita” já mostrara que está no caminho certo: com talento para grandes ou pequenos papéis.
“Transformando esse tributo à essa grande louca beleza e fraturada bagunça que é Nova York.“
Em “Mesmo se Nada Der Certo” até pode transparecer que o Diretor John Carney partiu das músicas para então compor sua história de tão perfeita integração entre elas. Sem esquecer também que o Roteiro é dele. O que traz a lembrança de um outro filme de sua autoria, o “Apenas Uma Vez“, de 2006. Por também brincar, ousar com as músicas compondo uma história. Onde em ambos o destino levou dois corações feridos a se encontrarem e daí como numa parada para revisão tentarem fechar um capítulo e sem as bagagens já inúteis para o que virá a seguir. Acontece que mesmo tendo ambos os filmes esse pano de fundo, John Carney os fez tão únicos que o eleva à categoria dos grandes. Ou mesmo que ainda com poucas obras até pela criatividade ele já está a caminho desse panteão. São excelentes filmes! Onde “Apenas Uma Vez” está numa oitava maior até pela simplicidade da obra como um todo! Muito embora ele além de usar tudo que a Big Apple tenha para oferecer ao compor “Mesmo se Nada Der Certo” o fez de um jeito tão vibrante e ao mesmo tempo romântico no espírito que nos lava a alma! Um filme para ver e rever! Nota 10!
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