Quando o filme começa parece estar diante de um remanescente da Geração Prozac… Para em seguida ter a constatação de que é alguém recém saído de uma crise de depressão que a levara a se licenciar do emprego. Onde só não se desmoronou de todo por conta da própria família: de um marido que segurara a barra até ali. Incansável, se dividindo também em ser pai e mãe de um casal de filhos menores de idade. Crianças que até poderiam entender a gravidade da situação, mas no fundo sentiam por essa “ausência” presença da mãe. De qualquer forma o filme nos leva a caminhar com cuidado num final de semana de alguém que acha ter saído dessa crise e que tenta ter o emprego de volta. É que pelo médico até recebera alta das medicações, mas para ela parecia que ainda não tinha chegada a hora: ainda se fiava neles.
“Dois Dias, Uma Noite” traz como pano de fundo a invasão dos produtos chineses e numa Bélgica proletariada. Pois é! Produtos esses que chegam com preços muito baixos, levando a uma crise as indústrias locais. Assim, veem como saída corte de pessoal… E foi por aí a solução encontrada para o dono da fábrica de placas solares onde ela trabalhava. Onde o gerente abusou do poder com um ultimato: ou aceitariam um abono no valor de 1000€ (Mil Euros) ou ela de volta. Só que para essa segunda opção um deles seria demitido no término do atual trabalho. E seria com essa certeza deles até já terem garantido o próprio emprego, que ela teria que “concorrer”. Se para alguém calcado em valores éticos já pesa, imaginem para alguém ainda tentando sair da depressão!
Da parte deles a entrada dessa bela quantia no orçamento familiar já era muito bem-vinda: tinham até feito planos onde ou como usar. E a possível fragilidade da tal funcionária meio que os abonaram na tal decisão. Muito embora não fora uma decisão unânime. Contando também que o filme traz como pano de fundo o peso de ser um imigrante mesmo já estando legalizado. Onde esses “não lourinhos” já eram preteridos em admissões de empregos. O que não de deixa de desestabilizar a ética pessoal. Perder um emprego ou mesmo um abono como esse… É! Ela teria um peso “pesado” pela frente.
Essa nova chance para voltar ao antigo trabalho partiu de uma das funcionárias, e por amizade a essa outra. Ela conseguiu do dono da empresa uma nova votação se baseando de que foram todos coagidos pelo gerente. Sendo já entardecer de uma sexta-feira, ele então marca para a manhã da segunda-feira, e dessa vez em uma votação secreta. Onde a maioria dos votos que então decidiria o destino dela na firma.
Bem, essa funcionária licenciada é Sandra, personagem da sempre ótima Marion Cotillard! Sandra então terá dois dias inteiro para procurar um por um em suas próprias casas e pedir que reconsiderassem o voto dado. Escolhendo pela volta dela ao trabalho nessa nova votação. Sem esquecermos nós público, e até por alguns desses personagens, de que ela realmente ainda não vencera de toda a luta contra a doença… Onde cada um desses empregados eram de classe média nada alta, alguns de menor poder aquisitivo ainda, enfim não viviam tão abonados assim para menosprezarem tal quantia. Por conta desse fator, Sandra vivenciará cenas meio de horror…
Assim, nesses dois dias Sandra além dessa amiga que por telefone tentava animá-la, tinha a presença do incansável marido (Fabrizio Rongione) e até da própria filha pesquisando na internet os endereços dos funcionários… E assim entre azedumes, patadas, choros, raiva, discussões, brigas… Sandra ainda teria pela frente mais uma noite inteira para então saber o que sairia dessa nova votação. É! Para alguém ainda fragilizada, não seria difícil desistir de tudo de vez…
Mais do que gostar de se ver a performance dessa atriz – Marion Cotillard -, se faz também um querer ver a história de alguém tentando sair da depressão. Que comprovadamente é uma doença, e séria o bastante porque pode até levar ao suicídio. “Dois Dias, Uma Noite” é quase um estudo de alguém com esse problema. Que mais que julgá-la, que mais do que dá vontade em dizer: “Acorda pra vida, mulher!“, “Sai dessa!“, “Vire essa página!“… Há de se tentar entendê-la nessa corrida até contra si mesma.
Mais do que um Drama comum, “Dois Dias, Uma Noite” é um filme que nos deixa em Suspense até a cena final! Nota 10!
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