Lupas (69)

Falando por cima, soa como 'Condenados a Viver' batido com 'O Enigma de Outro Mundo', logicamente que usados a serviço de uma apropriação estilística. Tem praticamente a mesma duração do 'Django Livre', mas a sensação de coisa enxuta aqui faz sentir.

É chapado/radical demais para ser resumido como uma tentativa de importar a sedução dos jogos eletrônicos para a linguagem do cinema (tomar apenas a câmera subjetiva para chegar a isso? hum). Os fãs da dupla Neveldine/Taylor têm tudo para gostar.

O horror de um país devastado representado na decadência das relações humanas, e como pano de fundo a tensão da divisão entre a opressão do isolamento e o medo pela presença do outro. O tipo de filme que deixa uma sensação incrivelmente estranha ao final.

Ainda é Walter Hill, porém extremamente burocrático principalmente se tivermos em mente que no ano seguinte ele viria com o sensacional 'Inferno Vermelho'.

Lee Marvin dando vida a um de seus melhores personagens em um filme verdadeiramente imprevisível e diabolicamente esquizofrênico - o trabalho de montagem aqui é único. Joia rara.

A sacada de 'Desmundo' está, como bem se sabe, na ambientação de uma época. Dá pra ver o motivo de tanto professor de história (principalmente) ver neste aqui uma espécie de amiguinho da sala de aula.

Como de costume, Kakogiannis e seus primeiríssimos planos - e aqui somos acompanhados por três interpretações femininas que eliminam a possibilidade de qualquer indiferença quanto ao poder de suas personagens. Os olhos de Irene Papas são hipnotizantes.

Kakogiannis quase não usa planos abertos, esmagando noções mais amplas do espaço geográfico onde a narrativa se desenvolve, colocando em destaque a crueza na captação dos rostos dos personagens e toda a dor que eles carregam. Tudo em p&b. Cinema mesmo.

A mão de Rob Reiner lança uma gama de cores em algo que já nasceu fadado a ficar no mantra da "adaptação de obra de Stephen King". Tem bastante valor aqui, como filme mesmo.

A frieza/pressa com que o filme de Eastwood se inicia pode causar certo espanto, mas o que vem a causar a real inquietação é a maneira como vai evoluindo e construindo uma intimidade (sob a pele dos personagens, acima de tudo) para além da tela. Ótimo.

Poucas pessoas sabem materializar o sentido de "visceralidade" como esse camarada. Que coisa...

É o personagem que busca criar paixões como uma forma de encontrar o sentido pra continuar vivendo. Nada de novo (antecede o próprio cinema); nada de errado. Mas o motivo de máxima relevância para ver esse aqui é o trabalho com os atores, realmente ótimo.