Invasão à Casa Branca (2013) - Review
As décadas de 80 e 90 sem dúvida foram um grande celeiro de filmes de ação. Em plena guerra fria, o mundo assistia a espetáculos bélicos (práticos ou retóricos) como a Guerra do Vietnã e a crise dos mísseis cubanos. Num cenário beligerante e com o medo da iminente destruição total entranhado no consciente da coletividade, o cinema foi terra fértil para a ascensão de uma nova geração de astros como Bruce Willis, Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone, apenas para citar alguns dos novos Deuses do Olimpo da ação.
Porém, os anos passaram e com isso o tempo, este rio implacável que jamais pára de correr, foi lavando pouco a pouco o brilho dessas estrelas. Seja por razões biológicas, pessoais ou comerciais, a verdade é que esses astros não mais mobilizam as multidões de outrora, limitando-se a reeditarem antigos personagens e produzirem filmes como "Os Mercenários", verdadeiros fósseis de uma época quando os dinossauros andavam sobre a Terra em toda sua glória.
O Olimpo dos blockbusters de ação estava em ruínas, e seus Deuses não eram mais adorados pelo povo como antigamente. Finalmente surgia a urgência de uma renovação. Nesse contexto, "Invasão à Casa Branca" (no original Olympus Has Fallen) surge como fruto de uma destruição criadora que de tempos em tempos oxigena as indústrias e recoloca o mercado nos trilhos.
A estrela do filme é Gerard Butler, no papel do ex-agente do serviço secreto Mike Banning. Sentindo-se responsável por um acidente grave que custou a vida de uma importante figura, Banning agora trabalha mergulhado na infindável burocracia governamental. Insatisfeito, sonha com seu retorno ao serviço secreto. Quando a Casa Branca é atacada por dezenas de comandos norte-coreanos no outro lado da rua, Mike se encontra novamente na ação, armado somente com seu profundo conhecimento do prédio e com a vontade de se redimir pelo passado.
Tal história improvável é plausível o suficiente para manter a verossimilhança do filme, sintonizada com o cenário geopolítico atual. Altamente influenciado pelo "Duro de Matar" original, o filme de Antoine Fuqua não ganha pontos por originalidade mas presta reverência ao clássico de 1988 principalmente por sua temática e estrutura narrativa. Assim como John McClane, Banning está sozinho e conta apenas com suas habilidades e experiência, fazendo uso de qualquer equipamento que possa obter dos terroristas. Essa solidão cria uma tensão que perdura durante todo o filme e torna a experiência empolgante, a despeito dos eventuais clichês e excesso nas "homenagens" ao ja mencionado "Die Hard".
Poderia parecer, então, que o longa fosse apenas uma paródia do passado. No entanto, "Invasão à Casa Branca" é um filme do presente e Gerard Butler é a maior prova desse argumento. O ator constrói aqui um protagonista crível, um herói bem preparado mas que não é invencível e sangra como qualquer pessoa, o que facilita a identificação com o público. Além disso, Butler é carismático e faz jus ao destaque que recebe, sustentando sozinho boa parte do filme sem maiores problemas. Mais uma vez o ator de "300" (2006) prova sua vocação para filmes de ação e se consolida cada vez mais no panteão de ícones do gênero.
Também faz parte dessa renovação o diretor Antoine Fuqua, que conduziu Denzel Washington ao Oscar por "Dia de Treinamento" (2001). Aqui o cineasta novamente faz um filme de ação simples e direto, sem deixar de exibir novamente seu talento para o gênero. Seu estilo de direção não é confuso e aproveita bem o orçamento, o que resulta num filme ágil, empolgante e divertido, embora o tom nacionalista (normal da própria natureza da história) possa afastar alguns. Em tempos que grandes ícones como Roland Emmerich e Ridley Scott também apresentam sinais de desgaste, Fuqua é um expoente da nova geração responsável por empolgar as massas, fazendo pela direção o que Butler faz pela atuação.
E é assim, saudando o passado mas renovando o presente, que "Invasão à Casa Branca" vêm atraindo um bom público. Não é pra menos: produzido por pessoas que entendem do riscado e com grande elenco, sua qualidade não é nenhuma surpresa. A ironia fica por conta do fato de que, mesmo bebendo da fonte dos clássicos, o filme brilha mais em comparação com os últimos lançamentos das franquias antigas. Este pode ser o crepúsculo dos antigos Deuses da ação, mas também é o alvorecer dos novos integrantes do Olimpo.
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