“O mais importante não é a força da pancada que você pode dar, e sim a força da pancada que você pode suportar, para levantar e bater de novo.”
Mesmo de baixo custo e filmado apenas em 28 dias, "Rocky – Um Lutador" é um dos melhores filmes da história do cinema, e com certeza o principal responsável pela fama de Sylvester Stallone.
No filme, conhecemos a história de Rocky Balboa, um lutador medíocre que sobrevive à custa de pequenos serviços braçais e que tem a oportunidade de mudar de vida quando recebe o convite do boxeador Apollo Creed (Carl Weathers), que traz no currículo 44 vitórias (todas por nocaute!) para uma disputa valendo o seu título de Campeão Mundial. Para Apollo, é apenas uma jogada publicitária, mas para Rocky é a chance de uma vida digna. O importante, para ele, não é ganhar a luta, é simplesmente terminá-la sem ser nocauteado. Assim, Rocky recebe a ajuda de seu antigo treinador, Mickey Goldmill (Burgees Meredith), para ajudá-lo em sua preparação.
A história do filme foi criada em somente três dias pelo próprio Sylvester Stallone e originalmente continha apenas 90 páginas. O ator teve a idéia para a história ao assistir a uma luta de boxe entre Muhammad Ali vs. Chuck Wepner. Durante a luta, Wepner fez algo que ninguém nunca havia feito antes: nocauteou Muhammad Ali. Mesmo não ganhando, Wepner ficou marcado na história do boxe mundial por nocautear um campeão. E foi aí que Stallone teve a idéia de Rocky. É uma pena que o ator nunca mais escreveu roteiros tão bons quanto este.
Claro que a história de Rocky é também uma metáfora da vida do Sylvester Stallone (tanto que sua condição principal foi que a história só seria filmada se ele fosse o protagonista). Isso porque, naquela época, Stallone estava fracassado e descrente de sua vida em Hollywood, com pouco dinheiro no bolso e morando em um pequeno apartamento 3x4m, junto com seu cachorro (o próprio Butkus, do filme). A situação estava tão grave que chegou uma certa época em que ele teve de fazer um filme pornô para não passar fome. E logo, quando ele teve a idéia de Rocky e surgiu a oportunidade que ele esperava, ele conseguiu mostrar seu verdadeiro potencial ao mundo. Até o filme pornô que ele havia atuado antes trocou o título para “Garanhão Italiano”, que é o apelido de Rocky no filme.
Aliás, acho que nunca conheci alguém que seja imune à história de Rocky. Todos no mundo sabem quem é ele. Rocky é um arquétipo, e por isso é universal. Porque todos nós podemos nos identificar com esse tipo de personagem. Afinal, quantos de nós já tivemos sonhos que não conseguimos realizar? Quantos de nós não tivemos capacidades para grandes coisas, mas no decorrer da vida não conseguimos a oportunidade que esperávamos?
Por isso a história de Rocky conquistou tanta gente. É uma historia que você pode encontrar todo tipo de metáforas para a vida, que você leva no dia-a-dia e refletirá nas pessoas, em qualquer estágio de vida. É uma história sobre perseverança e desafios.
Alguns pensam que é apenas um filme de boxe. Podemos até dizer que sim, mas não é nada tipo um campeonato de boxe na qual o protagonista só fica dando porrada o filme todo. O foco do filme não é o boxe, e sim a luta de um homem tentando conseguir algum valor próprio, um homem tentando tornar-se o que não é e assim alcançar as estrelas. É um filme querendo mostrar que todos nós temos uma chance em um milhão, e enquanto perseveramos há a possibilidade de alcançarmos muito em nossas vidas.
Uma coisa que eu gostei no Rocky é que, apesar de estar trabalhando como capanga de um agiota, ele tem um certo senso de justiça. Podemos perceber claramente isso quando Rocky vai cobrar daquele sujeito e acaba não lhe quebrando os polegares, que é o que ele deveria fazer se o sujeito não pagasse o que deve. Existe a bondade no personagem, sem que ele deixe de ser violento. Aliás, acho que a violência de Rocky sofre uma certa dicotomia, ou seja, uma divisão em dois. Há a violência inseparável do homem (sem dúvidas) e a violência intensa quando ele está no ringue. Mas repare que, fora do ringue, ele é a metade completa do que é dentro do ringue.
O romance entre Rocky e Adrian é outro ponto forte do filme. Adrian é uma jovem simples, tímida e desastrada, a qual todos tendem a deixar de lado. E foi preciso um homem como Rocky, que vê as pessoas de um modo diferente, para ver uma beleza nela que os outros não viram. Ele conseguiu enxergar Adrian por baixo dos óculos e do chapéu. E acho que ninguém poderia ter incorporado Adrian melhor do que a Talia Shire.
Várias cenas do filme são clássicas e inesquecíveis, mas vou comentar apenas aquelas que não foram comentadas antes por aqui.
Tem uma cena no frigorífico que Paulie está discutindo com Rocky e acaba provocando-o. E Rocky, em vez de acertar o Paulie, acaba batendo na carne. No roteiro original, o Rocky realmente deveria bater no Paulie, mas acho que ficou muito melhor ele descontando tudo naquela peça de carne, pois lembra-nos de quando, muitas vezes, alguém que amamos ou gostamos muito nos deixa furiosos de raiva,e antes de sermos agressivos, a gente acaba refletindo que ama a pessoa, e se ainda a quiser em nossa vida precisamos moderar essa raiva de certa forma. Foi o que o Rocky fez nessa cena. Mas, pelo jeito, ele acabou gostando de socar a carne e repetiu esse processo muitas vezes como uma forma de treinamento.
Outra cena que eu também achei muito bem feita foi a cena em que Apollo Creed está procurando seu adversário em um livro. Sem dúvidas, esta uma das cenas mais difíceis de se fazer, pois Creed deveria justificar a escolha de Rocky de uma maneira clara e coerente, sem deixar o espectador confuso e mostrando de verdade o que ele está pensando nesse momento. E isso não é uma coisa tão fácil de se fazer em filme.
Mas o filme, as cenas e os personagens nada seriam se não contassem com esse grande elenco trabalhando em grupo, todos totalmente dedicados e insubstituíveis.
Sylvester Stallone interpretou Rocky de maneira fantástica e verossímil, fazendo-nos acreditar que ele é realmente esse fracassado. Talia Shire também está de parabéns, pois fez um excelente trabalho. Ela é muito segura no que tem que fazer, sabe o que tem que fazer, e sabe como transformar-se em pouco tempo de uma desajeitada, meio titia, em alguém que acaba se tornando atraente e simpática no final. Quanto aos outros atores, como Burt Young, Carl Weathers e Burgess Meredith, não tenho o que falar. Estão todos simplesmente impecáveis!
John G. Avildsen dirige o filme com experiência e perfeição, e Bill Conti, o compositor, soube escolher muito bem a hora, o clima e o ambiente para cada musica. A cena de Rocky subindo nas escadarias do Museu de Artes da Filadélfia ao som da canção Gonna Fly Now, é clássica, sem dúvidas. Lembrando que esse museu, que nem todos notavam, agora virou um ícone, e milhares de pessoas sobem as escadarias imitando a cena do filme.
Mesmo seguido por mais cinco filmes, nenhum nunca vai superar este. Foi um filme que tocou o coração de milhares de pessoas e ganhou vários prêmios, incluindo o Oscarde Melhor Filme de 1977.
Bem, acho que nem preciso dizer que este é um filme altamente recomendado e obrigatório para todos os cinéfilos. E, enfim, encerro minha crítica com um diálogo entre Rocky e Mickey, que para mim, representa claramente a mensagem que o filme quis transmitir:
“Mickey: Você tinha talento para se tornar um bom lutador, mas em vez disso virou capanga de um agiota barato de segunda categoria!
Rocky: É um modo de vida.
Mickey: É um desperdício de vida!”
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