Não me lembro a última vez que um simples trailer de filme me fez sentir emoções. Mas isso é um sinal de que poucas vezes ocorreu. Pouquíssimas. No entanto, há mais ou menos dois meses, os singelos dois minutos da amostra grátis de Os Miseráveis (Les Miserábles) conseguiram muito mais que me causar emoções com a doce voz de Anne Hathaway cantando I dreamed a dream; aumentaram incrivelmente minhas expectativas.
Baseado no livro de mesmo nome do autor não coincidentemente francês, Victor Hugo, a história inicia com o injustiçado Jean Valjean (Hugh Jackman - vulgo: Wolverine) pagando por seus pecados (roubar um pão para matar a fome do sobrinho) no que parece ser a construção de um navio. A partir daí, o que poderia ser uma simples história de vingança de um pobre e maltratado homem contra aqueles (especialmente Inspector Javert, interpetrado pelo sempre impecável Russell Crowe) que roubaram anos de sua vida , se torna a história de um povo em busca de liberdade. Com ambientação na França pós-Revolução Francesa (nada mais natural, já que o livro foi publicado nessa época, ocasionando sua classificação romântica na escola literária de mesmo nome), o enredo se desenrola em meio à resistência da população parisiense contra o regime monárquico e autorítário vigente. Em outro plano, ocorre também o 'resgate' da pequena Cosette (inicialmente interpretada pela fofa Isabelle Allen e, posteriormente, encarnada pela, mais uma vez, convincente Amanda Seyfried) por Valjean, num ato de rendição perante a mãe da garota, Fantini, morta pouco antes.
Fazendo um papel desta vez de um homem sem grandes poderes, Jackman conseguiu algo na minha opinião, muito difícil: interpretar de maneiras distintas, mas sem perder o ritmo, cada quase interminável música presente no filme. Seu grito de liberdade ao rasgar sua 'carta de alforria' no ar me causou arrepios. Seu olhar intenso dado a cada personagem presente em cena com ele no momento no qual cantava era de prender o fôlego. Sua indicação, mais do que atrasada ao Oscar, foi muito merecida. Por outro lado, pudemos apreciar apenas poucos minutos da doce Fantini, interpretada pelo achado cinematográfico saido direto do inofensivo Diários da Princesa que atende pelo nome de Anne Hathaway. Entretando, esses foram minutos suficientes para ela mostrar como se faz. Destacando a última cena, na qual a personagem de Hathaway aparece no leito de morte de Valjean, na qual a comoção me invadiu a partir deste momento até a marcante cena final. Sem esquecer os secundários, gostaria de deixar meu profundo contentamento em ver Gavroche, interpretado pelo cativante Daniel Huttlestone, e Éponine, feita pela simpática Samantha Barks. Dois personagens que apesar aparecem na segunda metade do filme, me conquistaram rapidamente (tanto que suas mortes foram muito sentidas por mim).
Todavia, não só a perfeição reina sobre o mundo de Jean Valjean. Por ser um musical, logicamente, quase que o filme inteiro (exceto, no máximo cinco segundos de pausa) é feito por músicas. A maioria é boa, como a já citada I dreamed a dream, a cantada pela população antes de formar a barricada e a da última cena. Porém, as músicas românticas, interpretadas por Cosette, Marius (bem trabalhado por Eddie Redmayne) e Éponine são chatas e cansativas. A cena na qual os tres se encontram e começam a cantar "In my life..." parece interminável. Além disso, os primeiros trinta minutos de filme me pareceram corridos. A pressa de mostrar fatos, como o encontro de Valjean com Fantini e o daquele com a pequena Cosette, podem ser as causas. Mas isso pode ser explicado pela tarefa nada fácil de trazer para as telas um romance de mais de mil páginas.
Não li o livro, tarefa que pretendo cumprir em breve. Por esse motivo, não pude expressar minha opinião sobre a adaptação para a tela grande. No entanto, pude escrever minha humilde opinião sobre esse filme que, para mim, foi bastante marcante; desde os singelos dois minutos até a apresentação completa.
Eu sonhei que sentimentos diversos passariam por mim, que eu poderia me sentir sem palavras logo após de assistir ao que, para mim, já é um dos filmes do ano e que este me apresentaria uma visão de união sublime. E esse sonho se realizou.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário