Avalia-se que o cineasta dinamarquês Lars von Trier adota uma linha de abordagem que dissipa tanto com idealismos quanto conjecturas humanísticas sobre o homem.
Von Trier sistematicamente carrega na mão e expõe o drama existencial do homem trazendo para a superfície à culpa, a angústia, a agonia que invade o homem, único ser cônscio de suas múltiplas falências.
Sob essa lente analítica Lars von Trier traça o homem calcado por uma universalidade trágica em suas relações e ambientes sociais.
O diretor dinamarquês constrói suas obras na maior parte do tempo com doses abundantes de amargura, desencanto e sofrimento e os momentos alegres não passam de suspiros e de curtos intervalos que precedem o irremediável: a dor.
Essa perspectiva cinematográfica de von Trier causa profundo abalo psicológico no espectador porque vem revestida de um desconforto que rompe com todo o nosso pragmatismo e dogmatismo instalando o pétreo terror da existência do vazio e de um nada absoluto que dilui nossas afetividades e destrói nossas certezas racionais.
Nesse contexto “Dogville” é uma obra impactante que deixa marcas indeléveis causando implacável tortura ao retratar a condição humana.
O produto de Lars Von Trier transborda em traços intimistas sendo perpassado por um brilhante cenário teatral sem paredes e portas aludindo a um verdadeiro desnudamento da complexidade das relações sociais e da psique humana. Por conseguinte, cada personagem, ato e fato funcionam como uma espécie de terrível câncer ou de uma insignificante traça que corrói a fragilidade humana.
A fotografia que compõe a película exala invariavelmente um tom lúgubre que remete ao universo kafkiano.
O trabalho de Lars Von Trier é nauseante e incisivo ao flertar continuamente com o elemento fantasmagórico do trauma da diluição do eu, ou seja, a fragmentação da identidade no complexo jogo das relações sociais e das relações de poder.
A obra “Dogville” é um tratado cortante, profundo e cruel de caráter filosófico existencial delineado por sintomáticas situações de sadismo causando intenso conflito psicológico.
A ótica imprimida por Trier carrega como essência uma temática pesada sobre a natureza humana gerando puro desnorteio e não há como sair incólume a enorme carga dramática com a qual o filme é construído.
Lars Von Trier é original porque é personalista, por isso, sua genialidade é tão controversa, criativa e genuinamente indigesta.
“Dogville” é um filme grandioso que precisa ser visto e revisto, avaliado e reavaliado com o intuito de decifrar inúmeros aspectos desse universo de idéias, reflexões e metáforas que o seu polêmico conteúdo instiga e oferece.
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