A Mulher Do Lago, filme inserido no contexto do prolífico movimento cinematográfico japonês Nuberu Bagu, inicia-se com uma cena bastante sugestiva: uma mão feminina alçada ao alto durante uma relação sexual - cena cuja beleza pode facilmente ser associada àquela encontrada na beletrística, um certo deslumbre que vai se engrandecendo aos poucos pela sua desenvoltura visual, e que posteriormente vai se abrangendo para um conceito dúbio - não fica certo se esse movimento paradoxalmente brusco e sutil almeja representar pura e simplesmente uma explosão orgásmica ou denunciar uma espécie de suplício, suplício este caracterizado por um enclausuramento emocional que viria a ser discutido mais tarde na obra, estabelecendo posteriormente esse fluxo intrasponível de digressões incertas sobre as relações humanas que A Mulher Do Lago se propõe a destrinchar.
Algo interessante em A Mulher do Lago é como o filme se encaixaria perfeitamente no cinema contemporâneo, apesar de já ter quase cinquenta anos. O filme possui algo muito explorado no cinema atual - nomes como Apichatpong Weerasethakul, Tsai Ming-Liang e Manoel de Oliveira vêm a mente imediatamente - que é a exploração da perversão do olhar, o cinema adquirindo potência com a sua característica mais primitiva: o prazer em observar, a volúpia camuflada na qual consiste essa relação de voyeurismo proporcionada pelo cinema. Nessa obra prima de Yoshida, esse voyeurismo está caracterizado a priori na trama, que se inicia quando Mizuki, uma jovem mulher casada que tem relações extra-matrimoniais com um decorador de interiores, perde fotos dela nua, que caem nas mãos de um professor que já tinha uma certa obsessão voyeurística por Mizuki. Com isso inicia-se uma busca de Mizuki e Kitano (seu amante) pelas fotos, fazendo-os viajar até uma cidade próxima atrás do professor.
Nesse ínterim, uma mulher, amante de Kitano, os segue e inicia-se um conflito sutil entre os dois, conflito que se completa nesse verdadeiro caleidoscópio amoroso com os outros integrantes que permeiam essas relações, como o professor e o marido de Mizuki. O entrincheiramento presente nas relações de A Mulher do Lago é visível: a impressão que fica é que ninguém está completamente satisfeito nas relações que se estabelecem, e o caráter sufocante inexorável dos eventos que vão ocorrendo aparenta ir intensificando essa insatisfação.
Os planos de Yoshida são absolutamente deslumbrantes: a beleza devastadora da sua encenação, em conjunto com uma mise-en-scène impecável dão potência inestimável à essa obra prima, cujo valor reside em como todas essas características parecem complementar umas as outras.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário