O que há de repugnante em “Blonde”, novo filme da Netflix sobre a lendária Marilyn Monroe, é que a obra explora a imagem dela de uma maneira trágica e reducionista. Desse modo, é possível até fazer um paralelo entre toda a dor evidenciada no longa-metragem com a maneira como a atriz foi aproveitada e descartada por homens célebres do entretenimento.
Contudo, isso não significa que a obra seja um desastre. “Blonde” tem como diretor de fotografia Chayse Irvn, que já trabalhou com artistas como Beyoncé e Spike Lee, e compõe saltos temporais e mudanças na paleta de cores de uma maneira inquieta e propositalmente antiquada. Além disso, compõe uma dobradinha interessante com a música de Nick Wave e Warren Ellis, em fragmentos impressionantes de imagem e som.
Da mesma forma, o elenco apresenta vários destaques, desde a interação entre Lily Fisher, comovente e equilibrada como a protagonista na juventude, e Julianne Nicholson, no papel da mãe abusiva e assustadora. Assim, se analisando em momentos isolados, “Blonde” consegue emocionar. Principalmente, quando Ana de Armas está em cena com uma entrega impressionante. Afinal, ela consegue transmitir tanto a ambição quanto a vulnerabilidade de Marilyn em um filme que ignora várias nuances que a tornam uma personagem extremamente complexa.
Aliás, “Blonde” tem direção e roteiro de Andrew Dominik. Inclusive, o cineasta teve como base a narrativa ficcional sobre a estrela registrada no romance de Joyce Carol Oates. Assim, o cineasta entrega aos espectadores uma série de momentos chocantes e artisticamente ousados. Porém, ele acaba passando da linha tênue entre o incômodo plasticamente criativo e reflexivo e o desconforto gratuito que beira o grosseiro e insuportável. Desse modo, apesar de tantos talentos envolvidos, a produção revela-se um emaranhado torturante de sofrimentos. E, para piorar, abre margem para críticas acerca do fetiche relacionado ao sofrimento feminino.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário