O curioso caso de Benjamin Button
... ou não subestime um David Fincher
por Claudio Roberto Sauceda
Quando se começou a falar que David Fincher estava criando um filme sobre um homem que nasce velho e vai com o passar dos anos tornando-se mais jovem, por si só deixou cinéfilos e fãs do diretor com curiosidade e expectativa máxima, sem ver a hora da estréia do novo trabalho deste diretor que até agora só entregou à Sétima Arte poucas, mas geniais obras filmicas. Mas o que parecia uma obra autoral, livremente baseada no conto do cronista americano F. Scott Fitzgerald, que por sua vez se inspirou na frase célebre de Mark Twain, que dizia:”A VIDA SERIA INFINITAMENTE MAIS FELIZ SE PUDÉSSEMOS NASCER AOS 80 ANOS E GRADUALMENTE CHEGAR AOS 18”, esse grão de idéia tornou- se um gigantesco e árido terreno para que David Fincher exercitasse sua genialidade artística confeccionando um épico romântico sobre amor e perdas através de uma linguagem poética, e artesanal, aliado a visual de comercial. Mas seus fãs mais radicais que esperavam um novo Seven ou Clube da Luta não baixaram a guarda reclamando da longa duração da fita, de alguns momentos vazios e também pelas diversas subtramas, perdendo um pouco da com parcialidade do público. Alguns até o criticam por ter escolhido como roteirista Eric Roth o mesmo de Forrest Gump, mas a semelhança fica por aí. David Fincher não é um Robert Zemeckis e Benjamin Buttton é melancólico e apaixonado , ao contrário do idiota Forrest Gump. O único elo de ligação entre os dois filmes é somente o fato de Benjamin também participar dos acontecimentos históricos americanos enquanto sua jornada ao contrário é contada. Não deveriam menosprezar um David Fincher, ele é um cineasta confiável, todos os seus filmes subvertem o gênero tratado. Seven elevou ao coliseu dos deuses os filmes sobre serial killers, Clube da Luta é uma das obras-primas modernas do cinema e seu ultimo filme Zodiac elevou a outra dimensão o filme de suspense policial. Assim como seus filmes anteriores Benjamin Button é original, e a visão de Fincher fala com a nova necessidade de um superespetáculo de cinema aliado a uma boa história que possa levar o público ao cinema e consequentemente influenciar a mídia tendo sobrevida durável.
Os 166 minutos de duração do roteiro épico contam a história de amor entre Benjamin Button e Daisy, de 1918 a 2005, interpretados por BRAD PITT e CATE BLANCHETT. Ele nasce como uma monstruosidade, um bebê velho que vai remoçando a medida que se desenrola o fio de sua vida. Idoso, Benjamin conhece a garota Daisy. Vivem vidas invertidas. Durante sua jornada espiritual Benjamin observa a vida alheia com interesse voluntarioso, como se cada decisão e acontecimentos relacionados àquelas pessoas fossem atos de grandeza divina. Mas esse velho enrugado com doenças decorrentes da idade vai progressivamente rejuvenescendo ao longo de 80 anos e sua amada Daisy vai sendo tomada pela idade cronológica. Benjamin Button tem uma vida fantástica e na sua existência ao longo do século passado percorre a segunda guerra, apaixona- se a primeira vez por uma mulher casada na Rússia, cuida do asilo para velhos onde cresceu, convivendo sempre durante esse tempo de vida ao contrário com a presença do amor e da morte.. Tudo isso filmado na mágica, misteriosa e mística Nova Orleans, em Maryland, EUA.
O Curioso Caso de Benjamin Button é o mais estranho filme produzido por Hollywood nas últimas décadas. Está na praça e à apreciação de lobos e cordeiros, conforme a sensibilidade do espectador terá um conceito final. Um filme tão curioso ao espectador que não se satisfaz simplesmente com as interpretações, com a fotografia, com a música. Aquele espectador que realmente quer viajar na magia dessa história escrita no século passado, mas que graça a um diretor visionário torna- se belamente arquitetada numa união perfeita entre romance, filosofia e apuro tecnológico.
Benjamin... está cotado para 13 Oscars deste ano e será impossível sair sem nenhum. Seu concorrente de peso é Slumgdog Millionaire de Danny Boyle, que brinca com o cinema de Bollywood produzido na India e aos poucos vem galhardeando todos os prêmios que possa existir, mas quem conhece David Fincher e Danny Boyle sabe que não há homogenia entre esses dois cineastas. Fincher é confiável e até agora só entregou obras primas revolucionárias ao cinema e Danny Boyle é um cineasta irregular com apenas um trunfo em sua manga, o moderninho Trainspoint de alguns anos atrás. Só resta aos membros da academia novamente ignorar um gênio do cinema, só que no mundo de David Fincher não há lugar para conservadorismo acadêmico, que assim o diga toda a alma de sua obra. Não subestime o homem que iniciou a era das “câmeras virtuais” no cinema- inicialmente em clube da Luta-Maestro da qualidade técnica , impressionante de tão sofisticada.
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