Antes de tudo Era Uma Vez na América (Once Upon A Time in America, 1984) é um filme sobre o tempo. Tendo isso como partida, são muitas as cenas que podem definir e sintetizar um pouco a obra de Leone, mas apenas uma é capaz de fundir todos os tempos e permanecer cada vez mais forte na memória do espectador: quando o quinteto de garotos está andando pelas ruas de Nova York calmamente, os quatros mais velhos jogando conversa fora, o menino mais jovem anda a frente mais rapidamente. É um momento de paz, de esquecer um pouco dos problemas, juntos como se fosse uma única família. Mas o que potencializa esse momento mais do que qualquer outro é a ponte ao fundo que parece marcar a barreira, fim, começo e principalmente transição de uma nova era daqueles amigos.
Iniciando como um filme de terror, os ares que observamos em Nova York – que nem se parecem com aquela que veríamos a seguir – são estranhos, sombrios, misteriosos de rostos até então desconhecidos para nós. Leone faz questão de focar em olhares, gestos que à medida que o tempo passa nós iremos compreender. Porém o que nos espanta primeiramente é como o silêncio é rompido por Leone de maneira drástica, rápida, filmando a violência como se fosse em um verdadeiro faroeste, só que dessa vez sem aquele clássico enfrentamento de cowboys, mas sim outro suspense: antes de alguma pistola ou metralhadora disparar, dessa vez não sabemos de onde ira sair o primeiro (e o próximo) disparo, qual lado poderá ser, de quem, onde e, sobretudo quando. Aqui a dúvida se sobressai diante dos relacionamentos a todo instante. Não sabemos o que ira acontecer, quem ira matar, os duelos não são mais diretos, são desleais, cruéis: a bala que perfura aqui é muito mais pesada e sentida, por que carrega consigo histórias e momentos únicos que são compartilhados um a um conosco.
Era Uma Vez monta de forma inigualável o tempo em sua narrativa, de forma camuflada – e talvez por isso também, a cena citada no início do texto também ganhe tanta importância por alterar o tempo de forma direta por meio do choque de conflitos que seguem a partir daquele momento. O tempo é o personagem mais importante da trama de Leone, que se foca não em diálogos e tiroteios memoráveis, embora eles existam, mas sim em olhares, rostos e pensamentos – dai que nascemos e envelhecemos com aqueles personagens conforme o tempo caminha e volta. A juventude e as amizades daqueles garotos importam mais para a lente de Leone, que observa tudo de forma meticulosa, paciente, cadenciada. Essa juventude, portanto, se torna especial pela forma carinhosa como é tratada: nada mais se lembra do que senão a nossa própria, a câmera de Leone busca a todo o momento uma intimidade conosco. Torna-se nostálgico não só para Noodles (Robert DeNiro), mas para nós a partir das lembranças, essas que atuam de forma constante, sempre confundido o tempo e espaço, atuando a todo instante no presente.
Leone renova o gênero, não apenas por meio de sua montagem, mas também por sua linguagem, narrativa que não se preocupa em analisar somente a ação daqueles homens, mas sim daqueles garotos, eternamente jovens para o espectador. Cada imagem, cena representa mais do que um pedaço na história daquela crescente América, mas também da vida de um homem, de seus desafios do dia-a-dia que combinam a música de Morricone tão bem quanto à marginalidade estudada por Leone em seus faroestes, mas agora de outra forma, criando um clima harmonioso e quase romântico, seja na dor ou na emoção, o que prevalece é aquela nostalgia dos velhos tempos, como quando de frente para um espelho Noodles se transforma ao som Yesterday dos Beatles.
Todos aqui são vítimas dessa vez não de um assassino implacável ou de alguma outra ameaça física, dessa vez o tempo é quem os torna reféns de seu destino: é duro e adorável rever aqueles quem criamos tantos vínculos no começo do filme e analisar a sua atual situação. Por mais que o tempo tenha passado, continuam de certa forma os mesmos, com suas respectivas personalidades, todos como eram antigamente, afinal qual a grande diferença daquela América que conhecemos para essa? Não a palavras suficientes que descrevam a obra de Leone, mas mais do que tudo, mais do que um filme gangster, policial ou mesmo sobre amizades, é um verdadeiro faroeste sobre a vida urbana.
Melhor ainda, então que siga a campanha! HAHAHAHAHA 😁
#RicardoParaEditor
Que a campanha comece! 😁
Eu fui o primeiro a pedir Chico haha! Falei até com o Cunha pra observar o Ricardo com mais carinho. A campanha começou não é de hoje não Chico😁
kkkkkkk valeu pela campanha 😁.