Mesmo com o evidente apreço por um tom mais cômico nas incursões em retratar seu país, com o conhecido humor-negro, já típico, os Coen sempre souberam caminhar firmes nos retratos mais brutais e sombrios que se despuseram a fazer, como em Miller’s Crossing, seu exercício noir moderno, True Grit ou Blood Simple, seu debut, porém vale dizer que ainda haviam registros daquele traço cômico. Por isso No Country For Old Men me parece tão particular na filmografia dos irmãos, mesmo quando surgem situações nas quais poderiam se tirar um humor-negro refinado, só se sente no ar um clima puramente doentio e psicótico, como quando Chigurh lança sua moeda ou quando confere se as suas botas estão sujas do sangue da vítima. Por isso, trata-se aqui, de uma escalada de violência realista, sem pausas para respirar, a iminência do mal constante e o final trágico sempre previsível.
No Country é desenhado como um gato e rato, um homem que vê uma oportunidade e sem nenhuma inocência aproveita-se, mas quando decide ter sua única boa ação, diante de um homem velho - também pouco inocente - implorando por água, é jogado no olho do furacão, posto em fuga, muito mais do que isso, posto para lutar pela própria vida, pois a morte vem atrás dele. O filme já começa em tom de lamento como o monólogo ao mesmo tempo que saudosista, fatalista do xerife de Tommy Lee Jones, personagem um tanto pragmático devido a maneira que é inserido na história de forma transversal, quase paralela, funcionando como uma espécie de constatador dos novos e violentos tempos que chegam sem avisar, mas apesar disto, sua presença, com suporte do excelente ator, é capaz de conceder ao filme boa parte de sua carga dramática, fundamental a esse painel de incredulidade sobre um mundo decadente, onde a desumanização é crescente.
E quando se fala em desumanização, No Country é categórico, a vida humana perde, a cada surgimento do assassino de Bardem, muito do seu valor, a morte é atalho certo para seus objetivos e ele age de modo imperdoável, não há qualquer piedade, e junto a essa desvalorização do ser humano, surge um dos pilares da obra, a banalização da violência, além de toda sanguinolência em série, Chigurh ainda decide o destino de suas vítimas na sorte, a já citada cena em que ele lança a moeda é a total perca de valores e de qualquer senso de humanidade, o filme poderia ser resumido, e por que não, na passagem na loja de conveniências, quando Bardem aborda o senhor no balcão.
E toda essa falta de sanidade instalada é contaminante, Moss, o protagosnista, é a própria representação de um espírito deteriorado, sua aparência, que vai de mal a pior ao longo do filme, é apenas a representação do que há dentro dele. Em meio a sua fuga, ele percebe que o melhor é resistir e revidar, então de repente o chumbo é trocado, e só sairá vivo o mais forte, definitivamente não é uma terra para homens velhos.
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