"Cinema de propaganda: uma coisa que encolhe o mundo. Trata-se de encolher o mundo, colocá-lo na medida da freguesia que se pretende atingir, oferecer soluções simples, ou antes, simplistas, mas eficazes.
O cinema de propaganda é o inverso da arte."
- Inácio Araújo
Sendo cinema "um olhar que se substitui ao nosso para nos dar um mundo em acordo com nossos desejos", faz sentido o Kléber ter feito um filme tão afinado com a esquerda brasileira mais reacionária, elitista e desconectada da realidade, à qual ele adere sem ressalvas. Filme que se apresenta como metáfora social, mas ignora o materialismo dialético - parte de um idealismo em que o que molda as relações sociais são bem e mal, virtude e vício, e não qualquer contingência econômica/social/histórica.
Nesse registro poderia funcionar como filme fantástico, conjurando um certo desconforto e violência latentes na sociedade em um filme de gênero (como um Romero ou um Carpenter). Infelizmente fracassa, por ter tão pouca imaginação (diferente dos citados), e ficar tão preso a uma série de tipos muito facilmente identificáveis - o americano militarista racista, o capitão ex-nazista sádico, o sulista brasileiro entreguista que se quer europeu etc etc. Em dois segundos esses tipos contam toda a história e deixam pouquíssimo espaço para o mistério, para a tensão, para a descoberta. Valeria aos realizadores assistir "Halloween" e "The Crazies" repetidamente antes de voltar a um exercício de gênero desses.
"La culture c'est la règle, l'art c'est l'exception".
- Jean-Luc Godard
Excelente comentário. Também dei nota 2 para o filme. A premissa é interessante, mas o longa é demagogia do começo ao fim.