A morte é um tema recorrente no universo cinematográfico e popular entre as mais variadas culturas. Nossa curiosidade é infinita, sobretudo quando se trata de algo desconhecido. Quem nunca parou e pensou: o que acontece depois que morremos? Para muitos a vida acaba de vez, voltamos ao pó e fim de papo. Para outros há uma sequência, o paraíso, o renascimento…
Por ser impossível saber para onde vamos (se é que vamos para algum lugar) é que a morte acaba tendo tanta popularidade. Inquietos poderia ser apenas mais um dentre tantos filmes que se apoiam nesta temática, mas Gus Van Sant vai além e busca alternativas ao lugar comum. A morte aqui é apenas um pano de fundo. O que importa, na verdade, é como as pessoas lidam com ela.
Logo de cara somos apresentados ao jovem Enoch, que tem como passatempo (acreditem!) acompanhar velórios de pessoas desconhecidas. Pode soar estranho, mas apesar do mórbido hobbie, Enoch tem problemas para lidar com a morte. É num desses velórios que ele conhece a igualmente jovem Annabel. Podemos dizer que Annabel é o oposto do seu par. Enquanto ele convive com a morte de uma forma secundária, mas psicologicamente problemática, ela encara seu destino naturalmente – Annabel tem câncer e está em estado terminal, tendo apenas mais três meses de vida.
O japonês Hiroshi completa a trinca de personagens principais. Difícil explicar ou entender o que passou pela cabeça de Gus Van Sant ao incluí-lo na história. Hiroshi é o melhor amigo de Enoch, mas um melhor amigo um pouco incomum – ele é um fantasma! Fica claro desde o início que existe um laço fraternal entre os dois, laço esse que é marcado por brincadeiras (batalha naval!), conselhos e também por uma pitada de ciúmes.
Falando assim até parece que estamos diante de mais uma daquelas tramas sem pé nem cabeça, mas a aparente loucura serve como alicerce para algo maior. Gus Van Sant faz um ótimo trabalho atrás das câmeras e consegue extrair o máximo de seus comandados – 0 casal está muito convincente! Mérito dos atores? Também! Tanto Mia Wasikowska quanto Henry Hopper transmitem uma bela dose de realismo, mas acredito que o diretor tem sua “culpa” neste aspecto – ainda mais por se tratar de uma dupla de jovens, menos experientes. Vale lembrar que Henry é filho do grande Dennis Hopper, ator e diretor que participou de dezenas de filmes em Hollywood e a quem o longa é dedicado (Dennis morreu em 2010 vítima de um câncer de próstata).
Esse realismo de que falo é retocado por diálogos inspirados. Geralmente este tipo de filme traz consigo doses carregadas de sentimentalismo ou piadas pasteurizadas. Inquietos é essencialmente diferente. O relacionamento entre as personagens é natural porque os diálogos têm identidade, originalidade. Claro que o perfil do casal contribui, pois ambos apresentam traços de personalidade incomuns em obras do gênero. O mérito neste caso vai para o roteirista Jason Lew. Falando nele, sabiam que a história do longa é baseada numa experiência real do próprio Lew? Coisa de doido mesmo…
Ah, e é quase impossível encerrar a crítica sem elogiar a trilha sonora de Danny Elfman, figurinha carimbada nos filmes de Tim Burton e autor da emblemática música de abertura dos Simpsons. Elfman bolou uma trilha discreta, recheada de baladinhas pop/rock e embalada pela clássica Two of Us, dos Beatles. Nem é preciso dizer que os acordes alternativos combinam – e muito – com os protagonistas, né?
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