Albert Frederick Arthur George, ou George VI, ou simplesmente rei gago. Integrou a escola naval britânica, foi Duque de York – título de nobreza geralmente atribuído ao segundo filho do monarca reinante – e finalmente, em 1936, rei do Reino Unido, substituindo Eduardo VIII, que abdicou do trono por motivos pessoais – ele casaria com uma mulher duplamente divorciada, o que era proibido na época.
George VI foi coroado às vésperas da II Guerra Mundial. Na vizinha Alemanha, Adolf Hitler vinha ganhando cada vez mais poder apoiado na ideologia nazista. É nesse cenário que temos o filme "O Discurso do Rei", de Tom Hooper. Apesar do período retratado, em nenhum momento vemos armas, combates ou coisas do tipo. O enredo se foca nos problemas pessoais de George VI, sobretudo sua gagueira, que o impedia de falar em público.
Num panorama geral, temos um roteiro bem simples, mas eficiente. Ponto para o roteirista David Seidler, que conseguiu contar a história de George VI sem nós. Seidler também leva o mérito por construir ótimos diálogos, alguns deles divertidíssimos. O mérito maior, no entanto, é mesmo de Tom Hooper, que soube dosar como poucos o humor e a ternura de seu filme. Podemos dizer que "O Discurso do Rei" é uma obra correta, sem exageros e paradoxal, pois mescla a pompa da monarquia britânica com uma história simplista, quase que escondida num cantinho qualquer da Inglaterra.
Hooper também merece elogios por conseguir extrair o máximo de seus comandados. Colin Firth está magnífico e só uma grande zebra será capaz de roubar sua estatueta de melhor ator. O mesmo vale para Geoffrey Rush, menos brilhante, mas ainda assim muito bem no papel do “médico” Lionel Logue – responsável pelo tratamento de George VI. O destaque negativo fica por conta de Helena Bonham Carter. Embora seja uma das minhas atrizes prediletas, em "O Discurso do Rei" ela está um pouco apagada, retratada sempre como esposa excessivamente compreensiva. Talvez seja a falta de costume, pois estamos habituados com a Helena Bonham Carter de "Clube da Luta", "Sweeney Todd" e mais recentemente "Harry Potter" e "Alice no País das Maravilhas".
Ainda sobre a história, gostaria de tecer alguns comentários sobre o clímax da obra, o qual achei especialmente emocionante. Talvez tenha faltado uma dose extra de sentimento, mas confesso que o discurso perfeito de George VI, comunicando o início da II Guerra Mundial ao povo britânico, me atingiu em cheio. Tom Hooper evitou cair nos clichês do gênero, talvez por isso tenha sido direto, novamente simples. É o tipo de coisa que agrada alguns, desagrada outros… eu gostei! No mais, destacaria o figurino caprichado, praxe nos filmes de época, e a boa trilha sonora do compositor francês Alexandre Desplat. Ambos (figurino e trilha sonora) concorrem ao Oscar em suas respectivas categorias.
Por fim, outro ponto positivo do longa foi mostrar de forma detalhada o desenvolvimento do laço afetivo entre o rei, aparentemente intocável, e um britânico qualquer. George VI se identificou com Lionel Logue justamente porque ele o tratava de igual pra igual - como todos os outros pacientes. Numa época em que parte dos relacionamentos eram construídos por interesse, a figura de uma pessoa comum despertou um sentimento praticamente inédito na autoridade máxima da monarquia britânica: a amizade. Por essas e por outras, "O Discurso do Rei" é muito mais do que um filme sobre um homem que superou suas dificuldades. Vai bem além disso; trata de amizade, amor, perseverança e sobretudo valores.
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