Com Edward, o personagem, Burton configuraria tudo aquilo que a sua filmografia defendeu. Trata-se de um marginal, um ser estranho demais para habitar um comum bairro suburbano norte-americano. Aqui o diretor se utilizaria de clichês típicos de filmes de colegial para excluir seu personagem do mundo funcional. Com um sorriso no canto do rosto, o diretor traz para o seu filme: vizinhas fofoqueiras, adolescentes cruéis, preconceitos de gente que sempre enxerga defeito na grama alheia.
Edward é o protagonista ideal, no sentido de que é uma criatura muito boa vestida numa pele terrível. Um monstro de bom coração. Tudo que ele quer é expressar sua paixão, mas suas deformações não o permitem. Belo por dentro, mas aprisionando num corpo que o impede de tocar outros seres humanos – e o toque, por tradição, é a forma mais íntima e terna de se expressar amor.
As pessoas do bairro observam-no como um aberração; a nova tração. Eles o olham com medo inquisitor. Uma das vizinhas inclusive chega a sentir tesão pelo monstro. Há algo de errado, não com a aparência de Edward, mas com a crueldade que existe no ser-humano. Segundo Burton, são poucos os verdadeiros seres belos.
Edward Mãos-de-Tesoura é a metáfora perfeita para o cinema dele. É filme cheio de ternura pulsante, ainda que escondida sobre um aparência gore e bizarra. Antes que seja dito que o diretor é incapaz de criar imagens apenas belas – sem ter que fantasiá-las de maquiagem escura – lembremos de uma das maiores cenas dos anos 90: Edward (Johnny Depp) esculpe o gelo enquanto Kim (Wynona Ryder) dança imersa nos flocos de neve.
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