Seja como exercício de um olhar, seja como uma homenagem sarcástica, Ed Wood continua de onde Edward Mãos-de-Tesoura havia parado. Burton usa a história daquele que é considerado o pior diretor de todos os tempos para tomar figuras bizarras no colo. Mais do que o registro de um interessante acontecimento do cinema americano, o filme toma a figura de Edward Wood como um bibelô, permitindo que Burton se aproxime do personagem afim de justificar sua própria afeição por coisas estranhas.
A pespectiva de Tim Burton sempre foi aquela que está fora-do-eixo. Para ele, entrar de cabeça numa história real sobre um sujeito que realmente entendia suas obras ridículas como arte, significa um pedido de compreensão. É como se a todo momento Burton cobrasse respeito por obras que não se constroem com tipos ideais – heróis ao estilo moderno. Talvez porque na filmografia do diretor, o humor grotesco sempre venha acompanhado de certa melancolia, de um vontade de justificar sua afeição por seres que não se ajustam aos padrões.
O salto dentro da marca autoral de Burton acontece quando ele deixa o tom de fábula do filme anterior, para ir à uma forma de tristeza até mais crua. O final não oferece ao personagem nenhum conforto – trata-se de um filme bem fatalista. O que era humor passa a machucar. Daí que o ternura toda se justifica ainda mais conforme percebemos que personagem jamais ultrapassará a mediocridade. A própria interpretação de Johnny Depp dá a entender que o personagem usa suas demonstrações de comédia como escape do fundo real de sua dor artística.
Esquiva-se aqui, então, o tom infantil que recheava e tornava mais soft a dureza do drama de Edward – não o Wood, o que tem mãos de tesoura mesmo. É o filme mais intenso da carreira do Burton pois durante a sua longa execução, ele nunca esconde o personagem, nunca oprime seus hábitos imbecis e suas expectativas inviáveis. O que o filme acompanha é o caminho engraçado e mórbido que um sujeito vai trilhando ao lado de companheiros que já não estão mais no auge de suas vidas, prontinhos para sumir, prontinhos para serem dados como mortos.
Era para ser uma homenagem simplória à uma figura cômica, Burton transformou numa espetáculo alegremente deprimente sobre um homem tentando expôr um talento que desde o princípio só possuía sentido para ele mesmo.
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