O protagonista, roteirista e diretor do filme "Hora de Voltar" mostra em um único filme o seu poderio criativo, oferecendo esse original drama com toques de comédia.
O longa estadunidense "Hora de Voltar" lançado em 2004 conta a trajetória de Andrew Largeman a partir da noticia da morte de sua mãe até as repercussões da sua visita a sua cidade natal para o enterro dela.
"Hora de Voltar" investe num andamento mais lento, porém pouco previsivel, utilizando de grandes idéias que formam um roteiro bastante original. O longa dá espaço para interpretações minimalistas, a começar pela do seu próprio protagonista interpretado pelo ator Zach Braff, que parece ser o próprio personagem que interpreta. Oferecendo um ar apático ao "entorpecido" Andrew Largeman, que, no decorrer de sua visita a sua cidade natal, ganha mais entusiasmo e um ar mais reflexivo, Zach mostra o seu domínio interpretativo.
O ar soturno de Large é uma sacada atrativa que leva o espectador desde o inicio da projeção a ansiar por descobrir quem está por trás do homem que não consegue se relacionar com seu próprio pai e nem chorar o enterro da própria mãe.
Em seguida, pontuando com firmeza a transformação vivida pelo seu personagem, temos um jovem vivo, mais sorridente e ativo, tudo por conta de uma jovem surpreendente, interpretada por outra surpresa do longa: Natalie Portman. Bem menos exagerada em suas expressões faciais do que em Sombras de Goya e num tom bastante adequado para interpretar Sam, ela inaugura uma nova fase dentro do filme, remexendo o passado de Andrew, ao mesmo tempo em que vai revelando o seu jeito expansivo de ser. O seu gestual, combinado com seu figurino e com o sentimento sempre entusiasta de sua personagem são apaixonantes e o exato contraposto do "semi-morto" Andrew do inicio do filme.
O roteiro traz situações diversas e variando a abordagem de temas pesados com momento de leve comicidade, o filme dirigido por Zach Braff é composto sempre economizando na via melodramática e apostando no rico argumento, transposto de forma direta e sem rodeios. Os movimentos de camêra aparecem em momentos realmente importantes da trama, normalmente, para marcar traços da personalidade dos personagens, como na cena do voo, logo no inicio do longa, onde o enquadramento do rosto de Andrew diante do caos e do pânico de passageiros por conta de uma forte turbulência demonstra toda a apatia do rapaz em relação ao mundo a sua volta. Outro momento a ser citado é a cena cartática retratada no cartaz do longa, onde a trilha sonora cresce e se destaca e revelando muito bem, junto com o grito de libertação, um novo Andrew que agora já é um personagem livre de sua enclausurante introspecção e de seus demônios que tanto o atormentaram desde os nove anos de idade.
Os diálogos trazem ótimas discussões e conclusões sobre a morte, a repercussão dela na vida, a culpa, o medo de fazer sofrer, o uso de medicamentos para evitar a depressão e muitos outros temas. Trata-se de um exercicio primoroso de reflexão. O filme conta também com um elenco interessante com participações de Peter Sarsgaard, Ian Holm, Alex Burns e Jackie Hoffman que dá vida ao ótimo roteiro, já exaustivamente citado por suas propostas.
Por fim, diria que o grande mérito deste filme é tratar a vida como ela é. Nem só de risos da Sam e nem só a tristeza de Andrew. Não só drama, nem só comédia. Apenas a vida.
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