De vez em outra, o gênero musical volta com tanta força, que parece que haverá uma nova leva de filmes musicais no cinema, o que não acontece na verdade. O que talvez tranque a retomada por completo seja o preconceito de certa parte do publico, que não vê sentido algum dos personagens cantando em determinada parte do filme. Ora, isso é cinema, cinema é magia e, portanto pode-se facilmente se quebrar essa realidade “pé no chão” que tanto o publico de hoje gosta, para embarcar numa historia mágica, no qual os personagens, mesmo no momento mais angustiante de suas vidas, comecem a cantar.
Os Miseráveis é mais do que um musical, é um verdadeiro super espetáculo do começo ao fim, em que já no inicio temos uma vaga idéia do estará por vir. Baseado mais na peça musical da Broadway, do que do livro clássico de Victor Hugo, acompanhamos a cruzada de Jean Valjean (Hugh Jackman) na sua busca de paz e redenção, depois de ficar vários anos preso injustamente, mas em seu encalço estará o implacável inspetor Javert (Russel Crowe), que não medira esforços para capturá-lo. Nestes primeiros minutos de projeção, temos o maior acerto e o maior erro na escolha do elenco: Hugh Jackman se entrega de corpo e alma para incorporar o protagonista Jean Valiean, onde ele consegue transmitir a cada momento todo o desejo em buscar uma paz interior e ao mesmo tempo sempre seguir uma linha reta para o caminho da luz. Já não é a mesma coisa com relação a Russell Crowe, que não consegue passar a persistência, teimosia e tão pouco a justiça cega que carrega o inspetor Javert. Para piorar, Crowe mostra que não nasceu para cantar, pois chegamos até mesmo a nos contorcer quando ouvimos o ator soltando a voz.
Mas se por um lado temos esse passo em falso, por outro testemunhamos mais escolhas certeiras e Anne Hathaway é uma delas. Embora a sua Fantine apareça pouco em cena, é mais do que suficiente para Hathaway colocar o filme no seu bolso, já que sua interpretação é assombrosa, onde ela passa o verdadeiro peso do mundo em que a sua personagem sente nas costas. A cena em que ela canta e desaba em lagrimas (numa das melhores canções do filme) é digna de levar vários prêmios e o diretor Tom Hooper (O Discurso do Rei), foi habilidoso em criar esse incrível momento numa seqüência sem cortes, onde vemos a atriz nos brindar com um dos melhores momentos de sua carreira. Mas por mais que desejamos que ela continuasse em cena, a trama precisa seguir novos rumos e é ai que o filme se torna um tanto que irregular, principalmente quando entra em cena o casal de trambiqueiros vividos por Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen, que são tutores da filha de Fantine. Embora eles cumpram com louvor os momentos cômicos da trama, tem-se a impressão de que eles saíram de outro filme e embarcaram aqui como penetras. Principalmente Bonham Carter, na qual a sua personagem lembra por demais a sua outra encarnação em Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet.
Após isso tudo, o filme embarca em sua segunda parte, no qual a Revolução Francesa do século XIX se torna a alma dominante. Se por um lado esse fato histórico pouco nos interessa, por outro, o publico já está mais do que fisgado pelos protagonistas e pela sua riquíssima reconstituição de época, onde edição arte, fotografia e trilha falam por si. Surpreendentemente, embora o filme chegue perto da casa de três horas de projeção, uma vez que o publico é conquistado, não sente nenhum pouco de cansaço, principalmente com a montagem rápida, no qual sempre da à sensação de que algo está acontecendo a todo o momento (embora as cenas inclinadas tenham me incomodado um pouco até o final). Em meio a todas essas inúmeras sub-tramas, todos os personagens (sejam eles grandes ou pequenos), irão se colidir no ato final da historia e selará o destino de cada um deles. Embora o romance açucarado dos personagens Cosette (Amanda Seyfried) e Marius (Eddie Redmayne) seja um tanto que forçado demais, ele é essencial para colocar um ponto final na busca de redenção do personagem Jean Valjean.
Embora a trama se encaminhe para algo previsível, somos todos compensados por minutos finais grandiosos, no qual Hugh Jackman brilha como ninguém e o filme se encerra da maneira como começou, de uma forma espetacularmente grandiosa e que nos faz até mesmo nos esquecer de alguns momentos que ficaram aquém do esperado. Com o resultado mais do que positivo, não me admiraria que alguns dos envolvidos puder futuramente embarcar em mais um filme musical que é baseado num grande clássico. O Corcunda de Notre Dame seria sem sombra de duvida uma ótima pedida.
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