Girls - S04E09 - Daddy Issues
A partir das repercussões do último episódio, encontramos Hannah às voltas com a recém divulgada homossexualidade de seu pai. As histórias paralelas nos mostram Jessa e Adam envolvidos na tumultuosa relação de Mimi-Rosie e seu ex-namorado; e Ray Ploshansky vencendo o pleito eleitoral que disputava há alguns meses, apenas para ver-se ainda mais obcecado por Marnie.
Mais uma vez Girls investe pesado em persoangens adjacentes afim de compor retratos mais profundos de seus protagonistas. Mimi-Rosie e Ace erguem-se como faíscas passageiras de esperanças para que Adam e Jesser encontrem rumos.
E mais uma vez na série, ambos dão de cara com um mundo regido pela confusão e pela falta de sentido total, nocauteados por dois sujeitos que revelam, através de carisma e excitação, uma camada corrosiva de autocentrismo.
Ray, prestes a tornar-se líder comunitário por voto popular, ppercebe que seus percalços durante boa parte da temporada integram-se inevitavelmente na figura de Marnie, uma mulher claramente fragilizada e insegura, pronta para receber a mesma “patronização” de que Shoshanna foi alvo (durante o breve relacionamento dela com Ray durante a segunda temporada), mas dando sinais cada vez mais audíveis de que é verdadeiramente capaz de caminhar por conta própria.
E finalmente temos Hannah em processo de aceitação da explosiva relevação de que seu pai é homossexual, ao mesmo tempo (e em se tratando de Hannah, uma garota livre e criativa, mas também extremamente egocêntrica), e de maneira preponderante, em processo de aceitação de seu novo lugar no mundo, cerceado e desiludido.
Hannah tomou a decisão, alguns episódios atrás, de não perseguir o sonho de ser escritora, por causa das experiências negativas que viveu em Iowa, mas estimulada também pelas conversas que teve com seu pai.
Essas decisões (Hannah desistindo de seu sonho e seu pai se assumindo gay) assumem caráter vinculante na narrativa, não podendo, por enquanto, serem dissociadas.
Por isso, quando ela diz que está fingindo o tempo todo, a declaração é mais profunda do que pode aparentar, especialmente em um episódio onde os personagens encontram-se num insuflado processo de negação.
O que parece extremamente pulsante em Girls em termos temáticos é o embate entre Ser versus Aparência, entre Verdade versus Percepção.
E as ideias dos personagens a respeito de si mesmos se reconfiguram o tempo todo, em razão da esperança que eles nutrem de formular alguma lógica sólida de um mundo que se embaraça e se contorce a cada piscada.
Essas autopercepções aparentam ser cada vez mais equivocadas e infundadas. Assistir Marnie encantada com um casamento-arapuca, Ray comprimindo seu pragmatismo niilista numa ordem político-eleitoral e Hannah recusando seu claro estigma de homofobia apenas escancara esse angustiante momento de negação, que já há quatro temporadas não cessa em permanecer.
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