Bacurau é capa da Cahiers du Cinéma
A edição de setembro da Cahiers du Cinéma, que chegou nessa terça-feira às bancas francesas, traz Bacurau em sua capa. No enunciado, "O Brasil de Bolsonaro". Portanto, o filme de Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles é usado como ponto de partida para uma denúncia à "ofensiva reacionária e regressiva de Bolsonaro" contra o cinema em nosso país. Ao todo, a influente revista francesa dedica 25 páginas ao momento político e cinematográfico no Brasil.
O editorial da revista, disponibilizado online, interpreta o filme como uma "fábula e carga explosiva contra forças de destruição em massa" e o associa em seguida à "ameaça" que o presidente brasileiro representa ao cinema do país no momento em que "é um dos mais férteis" do mundo. A editora Stéphane Delorme exalta obras como Gabriel e a Montanha, cinebiografia de Fellipe Barbosa que ganhou prêmio em Cannes e foi um sucesso na França; As Boas Maneiras, multipremiado filme de horror de Marco Dutra e Juliana Rojas; e Aquarius, drama do mesmo Kléber Mendonça Filho que ocupou a riviera francesa, em 2016, com protestos sobre a crise política no Brasil.
A Cahiers #758 foi organizada por Ariel Schweitzer, professor de cinema na Universidade Paris 8 com família em São Paulo e laços acadêmicos no Brasil, como disse o crítico Inácio Araújo em julho, antecipando essa edição especial da revista francesa. Ele próprio assina o texto "Cinema brasileiro na era Bolsonaro", enquanto o documentarista Eryk Rocha (Cinema Novo), filho do diretor Glauber Rocha (Terra em Transe), fala sobre o presidente de extrema-direita e o legado do movimento cinematográfico contestador impulsionado por seu pai nas décadas de 1960 e 1970.
O texto ainda relaciona as intervenções de Jair Bolsonaro na Ancine (Agência Nacional do Cinema) com a recente indicação de um dos maiores doadores da campanha do presidente Emannuel Macron para presidir a CNC, agência francesa de cinema. Dominique Boutonnat é "um especialista de financiamento privado" acusado de se infiltrar no órgão "com a missão de desconstruir o serviço público por dentro".
A edição de nº 758 da Cahiers du Cinéma ainda apresenta entrevistas com Bruno Dumont (Camille Claudel 1915), Oliver laxe (Mimosas), Christophe e Julie Sokolowski (Paris 8), uma homenagem ao diretor Jean-Pierre Mocky (Litan) e uma matéria sobre os estúdios La Victorine, em Nice. Veja a capa:
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