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Aliens - O Resgate

(Aliens, 1986)
7,9
Média
480 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Conflito materno entre Humana e Rainha insectoide alienígena

8,5

Aliens - O Resgate
Aliens - O Resgate

Sequência de ação do James Cameron usando do material base como forma de expansão da franquia e tendo em vista alguns temas já antes reiterados e optando por propor outros novos – a maternidade de Ripley –, e assim montando uma fita que dê espaço para seus esquemas de ação megalomaníaca, que aqui davam seus primeiros passos mais vultuosos. O que não deixa de ser um campo fértil para tal, já que apesar do sensacional material original, ainda haviam questões que poderiam ser pesquisadas e bem estruturadas para que a saga seguisse adiante (obviamente que o sucesso destas respostas ressoaria dali em diante noutras obras). O tangenciamento do diretor para ação de qualidade já havia sido muito decentemente demonstrado em O Exterminador do Futuro (Terminator, The, 1984), e aqui ele se apropriara do espectro militarista como oportunidade e forma de proposição a uma ação mais proeminente e densa, num aporte de que os alienígenas eram uma raça extremamente perigosa e incontrolável e que nem um grupo de fuzileiros coloniais experiente seria páreo para os babosos monstros. Um aceno esperto para o tesão militar norte-americano invasivo por sobre outrem. O que não deixa de ser uma continuidade coerente acerca do tratamento dado à empresa Weyland-Yutani, responsável por grande parte das empreitadas coloniais assim como pela busca por sobre esta suposta arma biológica. Novamente uma repetição da temática da empresa inescrupulosa. Que serve aqui mais como uma necessidade metodológica do que como ponto nevrálgico da narrativa, mas Cameron soube citar bem sem parecer um troço jogado.

Diferentemente de Scott, Cameron aposta mais no ritmo das ações e menos na proposição de um horror mais frontal, porém não visa subverter porra nenhuma de Alien, O Oitavo Passageiro (Alien, 1979). Evidentemente que algumas estratégias e cacoetes do material anterior são usados aqui espertamente. Como o crescimento de Ripley à condição de liderança novamente. Aqui este esquema é calcado mais nas ações do que em posicionamentos na imagem ou comportamentos mais discretos. Ela simplesmente vai tomando a frente diante do avançar do desespero da equipe de fuzileiros. É o estabelecimento bruto da figura de Sigourney Weaver/Ellen Ripley como heroína de franquia de terror/horror. E dentro de um período cultural muito cercado do cinema brucutu masculinizado com tramas vinculadas a pura, e excelente, pancadaria dos caras. E Ripley que já havia tido seu puta debut em 1979 como uma mulher escrota, sobrevivente e líder, partia agora para a ação propriamente dita. E o que cerca esta personagem vai além da ação, com justificativas protecionistas de uma mulher com uma prole, afinal Ripley era mãe e perdera a filha ao passar 57 anos vagando no espaço (a versão estendida deixa isso bem claro inclusive), e para cobrir esta lacuna, passa a exercer proteção por sobre a garota Newt, que sobrevivendo estava numa colônia planetária lotada de aliens. O que não deixa de ser uma sagaz rima para com o final acachapante. As mães em breve entrariam em conflito.

Aliens - O Resgate
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O tom de ação militarista, inspirado é no livro Tropas Estelares (1959) de Robert A. Heinlein, com ritmo mais acelerado em proposição narrativa à ação com os mais variados trejeitos desse tipo de filme – desde os personagens arquetípicos do acovardado, do ignorante, e outros tantos, repetitivos e carismáticos. O exercício dos sujeitos fuzileiros a cumprir uma missão e o que isto traz a reboque. E a encenação é proporcionada sem firulas até ali. Utilizando bem dos espaços [criação de clima montado nisso que é altamente importante aqui, indo do aspecto laboratorial das colônias, perpassando por um externo de planeta desconhecido, até um clima de pura morbidez artrópode quando se percebe o trabalho alienígenas por tetos e paredes] como construção cênica e preparo da tensão, juntamente uma trilha sonora marcante para todas as intenções ajambradas pela fita. A colocação de diversos personagens de forma orgânica, sem sofisticações diversas. Fazendo-se entender. Isto nos leva ao preparo da ação final continuada em terços finais, que é um maneirismo de filmes de ação, mas Cameron busca dilatar ainda mais essa característica. Propõe algumas surpresas e monta uma encenação mais sofisticada atrelada. Um grand finale. E é aí que mora primeira aparição da Rainha Alien. O “Algo que ainda não vimos”, como é afirmado em certa monta. Um aprofundamento expansivo da mitologia alien, trabalhando em cima do aporte biológico originário desses animais, mostrando um ninho dos mesmos e a responsável que punha os ovos. Uma colônia alienígena – o que não deixa de ser irônico por esta própria ter estraçalhado uma colônia de humanos também invasores. Um aumento de choque e imposição desta nova criatura. A Rainha Alien. Com todo seu tamanho e poder. A justeza da figura é peça chave da gestação dessa perigosa vida alienígena. Uma criação marota de James Cameron que aliara o caráter esperto desses desgraçados para a sobrevivência, a um convívio pela coletividade mirando o insectoide visual das carcaças apresentadas, e pela nojeira explicitada obviamente. Desde sua cauda/carapaça geradora de ovos (alcunhados de ovomorfos) estupidamente grudentos aos seus longos braços, chegando numa enorme cabeça com chifres que simbolizam um reinado de um ser que busca a conservação de sua espécie a todo custo, e que seus artifícios diversos buscam este intento. E diante disso se estabelece o conflito entre duas fêmeas poderosas a defenderem não só suas raças, mas suas crias. É o começo de um acontecimento final. Cameron sempre a esconder algum malabarismo em suas produções, neste caso uma alien rainha. Que aqui fora projetada com calma mediante o que se era explicitado em diálogo e exposições soltas, lidando com a memória do espectador. Vulgarmente conhecidos como foreshadowings, já que os personagens vão se perguntando que existe algo a mais naquelas paragens. “Quem põe os ovos?”

Aliens - O Resgate
Aliens - O Resgate

O conflito continuado entre Rainha Alien e Ripley acaba por ter seu derradeiro encerramento numa contenda grandiosa, bruta e inesquecível. Com mais uma surpresa extra do diretor ao propor um corpo a corpo entre Alien e Humano. Este último, ela, munida duma empilhadeira a servir de armadura para esta pancadaria final. Numa empolgante e altamente bem arquitetada peleja (agora, citando novamente, com uma encenação mais sofisticada), com direito a ótimos caminhos vivos de câmera a perscrutar com proximidade os combatentes, com movimentos de parte a parte que inferem o caráter internalizador do espectador dentro da bagaça. E funciona. Um intimismo grandioso, que por mais contraditório que possa parecer. E é neste quesito que o enfrentamento se insere, pôr na porrada duas raças, a permanência vitoriosa de uma num certame corporal. Na paulada. Encaixa de maneira coerente ao tom militarista com o qual a produção versa em ação desde o seu início, mas se coloca como definidor pelas mãos não de uma fuzileira, mas de uma soldado, líder e mãe que é Ripley. A disputa das mães. A proteção das crias. Uma disputa entre espécies. Instinto materno e vingança também materna. Além de funcionar bem e de referendar novamente o citado anteriormente Tropas Estelares, e de ter como inspirações até tokusatsus japoneses talvez, o que não deixa de ser engraçado pela próxima citação, é o fato do Cameron estar ciente disso (?): Existe uma cena similar (salvas as devidas proporções) em filme bagaceiro de dinossauros chamado A Volta ao Mundo Pré-Histórico (Dinosaurus,1960), de Irvin S. Yeaworth Jr., que possui uma luta entre um Tiranossauro Rex e uma escavadeira que é similar em sua ideia de findar de embates. Se Cameron sabia ou não, não tenho como afirmar categoricamente, mas que talvez essa copiada marota tenha sido também paga já que os trashs Carnossauro (Carnosaur, 1993) — uma cópia do Jurassic Park — O Parque dos Dinossauros (Jurassic Park, 1993) de Steven Spielberg — e Carnossauro 2 (Carnosaur 2, 1995) copiaram descaradamente a cena (este último copiou o clima, alguns personagens e a narrativa até) num misto da obra citada de 1960 com o Aliens de Cameron. A cinessérie Carnossauro foi toda produzida pelo mestre do cinema de terror B Roger Corman, para quem James Cameron trabalhou em início de carreira. Tudo em casa. Tudo na amizade. Este excerto de cópia de parte à parte não apaga a grandiosidade certeira da fita de Cameron ao usar deste exagero como demonstração de poder de uma raça alienígena, tornando os bichos ainda mais míticos dentro de seus cavernosos afazeres.

Filme pautado numa demonstração certeira para ação com total controle de Cameron daquilo que ele queria como expansão mitológica no que se confirmou como uma sequência interessante que apesar dalguns pontos em repetição óbvia, seguia seu próprio caminho. Algo que meio que serviu por um tempo para manter uma certa legitimidade autoral dos filmes da saga sem que parecessem estar numa maldita linha de montagem.

 Aliens - O Resgate
Aliens - O Resgate

Comentários (1)

Rudemir Duarte | domingo, 08 de Setembro de 2024 - 15:55

O melhor da franquia, incontestavelmente!

Ted Rafael Araujo Nogueira | quinta-feira, 12 de Setembro de 2024 - 00:40

Eu não o acho o melhor, mas é foda. Inclusive tenho uma opinião que consideram polêmica sobre a saga. A versão estendida do Alien 3 acho melhor que Aliens O Resgate. Por vários motivos. Escrevi sobre ele também no site inclusive. Mas este segundo já histórico por fazer crescer a mitologia Alien e se mostrar como um puta filme de ação.

João Pedro Duarte | sexta-feira, 13 de Setembro de 2024 - 19:16

Acho Aliens O Resgate melhor que o primeiro. Alien 3 é bem subestimado.

●•● Yves Lacoste ●•● | sábado, 14 de Setembro de 2024 - 00:02

Eu gosto da quadrilogia, sem excessão. E isso do segundo ser superior, considero os 2 empatados...

Rudemir Duarte | domingo, 15 de Setembro de 2024 - 06:27

Vou rever Alien 3 e sua versão estendida. Assisti na época do lançamento e na minha memória é um filme muito ruim.

Ted Rafael Araujo Nogueira | terça-feira, 17 de Setembro de 2024 - 00:39

Independentemente da ordenação qualitativa dos filmes, creio que cada um deles possui (mesmo com todas as supressões nas quais hollywood costuma fazer) um trato autoral interessante e distinto dos outros. E com temas diversos além de tropos conhecidos do horror tradicional e da ficção científica. O primeiro se debruçando sobre política trabalhista, colonização e estupro; o segundo sobre militarismo e maternidade; o terceiro sobre religião e sacrifício; o quarto sobre clonagem e individualidade em confusão...

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