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Rodson ou (Onde o Sol não tem Dó)

(Rodson ou (Onde o Sol não tem Dó), 2020)
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Críticas

Cineplayers

"Passividade não leva a nada. Rodson agora crê que a solução é protestar violentamente pela paz"

8,5

Loucura lisérgica e absolutamente underground, existente como uma fita nas raias do inclassificável onde não visa em momento algum negar a precariedade na qual se insere, mas, sim, trata-la como ferramentaria raivosa numa produção escrotamente despudorada e esteticamente livre de amarras. Um material feito pra diversão grosseira de malucos.

Vontade de fazer filmes na marra. Câmera tremida. Cacofonia sonora. Seboseira. Planos fechados. Experimentos de montagem e colagem. Animação esquema Atari de 8 bits. Cores estouradas. Sobreposição de imagens. Robocop. Ciborgues. Sci-fi.

Acima algumas das várias técnicas narrativo-escrotais usadas nesse filme, que usa de seus arredores quaisquer que sejam para contar sua própria estória e que a mesma sirva de microcosmo crítico raivoso e sarcástico daquilo que se cerca. Uma metralhadora voraz que defenestra o que passa pela frente e mantém a trajetória de seu protagonista tão invasiva quanto suas imposições de desconforto moral que acaba por causar. Ao metralhar o todo, acaba por se inscrever num esquema de filme descalibrado brutalmente no experimento que ao invés de se esconder nisso, joga na tela a grosseria de sua deliciosa ignorância pensada para existir como tal. Primitiva. Bruta. Espetaculosa. Horrorífica.  

Existe como uma vontade irrefreável e primitivescosa de um tipo de realidade que é levada não numa alegoria acadêmico-clássica, mas numa overdose de gritaria, sujeira e marmotas a rodo, que dentro de sua insanidade funciona bem como experimento dilacerado de seu vômito existencial. Propõe-se na perspectiva de um sujeito tanto ingênuo/estúpido quanto vitimado por um seio social e econômico que o mantém distanciado e inutilizado. Servindo apenas para o entretenimento das massas quando é usado por uma influencer como parte de tesão pela cosmética da fome.

Aqui uma ignorante crítica na galerinha instagramer. Os insuportáveis aproveitadores das redes sociais. Inclusive há espaço para um sarro com canais de reza. Com de direito a um pastor cheirador de cocaína e cachaceiro, que em sua conduta moral própria julga os “cheiradores de cu”. Uma governança anarco-crente falsificacionista? Uma alusão às perseguições de parte graúda do neopentecostalismo aos homossexuais, ou sabe-se lá Satanás contra quem fora este recado.

Como é um material anti-orçamento por natureza, não precisa responder a nenhuma criatura ou tipinho inútil por sua conduta. Um tipo de material que um Bob Cuspe Real ou Rê Bordosa, iria se deliciar ao contemplar a destruição visual e sonora que este material abarca.

Apesar de não se importar com coesões clássicas ou fórmulas prontas que ensejassem algum tipo de resultado, o filme tem consciência da própria putaria e ao não se importar com isso, delicia-se a si mesmo. Uma autofagia gostosa na qual se come, se destrói, se alimenta e se ressuscita, independentemente da ordem. E ainda assim consegue funcionar como se fosse uma espécie de filme de cinema instalação. E na tela grande é que funciona mesmo. Com suas imagens – perigosas àqueles com astigmatismo e talvez chamativas aos alcóolatras e usuários de entorpecentes –, a fita cresce por sua cacofonia na qual impossibilita a saída do espectador curioso e com tesão daquilo tudo, mesmo que não interesse em porra nenhuma onde o material vai parar afinal, já que o interesse aqui é pela jornada insana. O sensacionalismo desse material é exigido dentro se sua proposição aberta, sem freios, com mortos, feridos, ressuscitados, doentes, tipinhos, marmotosos em geral, robôs, imundos e desgraçados. O filme abraça – e fresca com – a todos com a mesma democracia que dificilmente é vista para além de uma teoria política social existente. E que se lasque tudo também, nem esse assim o faz. É a piada gigante – e gritante de um cinema amoral e avacalhado, e que avacalhação é uma beleza e como diria Rogério Sganzerla em O Bandido da Luz Vermelha (Bandido da Luz Vermelha, O, 1968), já que vamos nos esculhambar já que avacalhados estamos.

Material partícipe da 1ª Mostra de Cinema Papo Meia-Noite
Fortaleza-CE

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