Bacurau consiste numa obra corrosiva, composta por uma crueza dilacerante, uma potência nauseante e cortante sobre a realidade social, econômica e política. Aborda temáticas profundas envolvendo memória coletiva, tradições, expressões culturais e epistemologias interditadas. Rompe com esteriótipos e estigmas de povos e pessoas com suas subjetividades e conhecimentos em contraposição as mazelas políticas, a sistemática perpetração do absoluto, do hegemônico travestido de ciência moderna, civilização e progresso.
A película suscita reflexões por intermédio do seu roteiro composto por analogias históricas, de sobreposição de "tempos sombrios" e personagens híbridos, mestiços encarnados de significações entre lutas, resistências, insurgências e sobrevivência.
O filme é um caleidoscópio incessante que perpassa por colonialismo, militarismo, cangaço, guerrilhas, alude sobre milícias e todo o tempo parece fazer referência a necropolítica. Sem ser dicotômico coloca frente a frente em uma perspectiva simultânea os ritos antigos, o moderno, o "primitivo" e a tecnologia.
O elenco se traduz em afecções de devires não subalternos de múltiplas vozes e sujeitos, onde o vilarejo é o território mental e físico da insurreição.
O longa-metragem de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles oscila entre o local e o universal tendo como nódulo o periférico, colocando de cabeça para baixo a discussão de gênero, classe e raça.
A obra cinematográfica tem traços de teor apocalíptico, mas não chega a sê-lo, porque não é escatológico, Bacurau ao mesmo passo é distópico e heterotópico, afinal dialoga constantemente com corpos políticos oprimidos.
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