TEXAS BLOOD MONEY POSSUI IDENTIDADE, MAS NÃO RENEGA SUAS ORIGENS
Um Drink no Inferno, de Robert Rodriguez, foi um dos filmes mais marcantes de sua época por colocar o cinema trash em evidência novamente - coisa que havia acontecido com Uma Noite Alucinante, tempos atrás. Naquela ótima comédia, George Clooney, Harvey Kietel, Juliete Lewis, Salma Hayek, Michael Parks, Danny Trejo, Cheech Marín e Quentin Tarantino ajudaram a atrair a atenção da grande mídia ao comporem o grandioso elenco, trazendo credibilidade à produção. Três anos depois, Rodríguez abandona a direção e junta-se a Tatantino na produção da seqüência Um Drink no Inferno 2 - Texas Sangrento. O filme de Scott Spiegel (O Albergue 3) não é original como o primeiro, mas é tão divertido quanto e é a prova de que é possível se divertir fazendo cinema e que um filme modesto e sem nenhuma pretensão pode sim ser de qualidade.
Desta vez, uma quadrilha de criminosos ruma ao México para um assalto a um banco local quando um de seus integrantes é transformado em vampiro e planeja fazer o mesmo com os demais companheiros. Novamente colocando bandidos ao invés de mocinhos como protagonistas, este Um Drink no Inferno 2 possui um estilo próprio bem bacana e, embora mantenha uma boa dose de inspiração narrativa do primeiro filme, não se prende em referendar o original (embora cite os irmãos Gekho e o sheriff Earl) nem a explicações e em estabelecer elos com o episódio anterior. O personagem de Danny Trejo, por exemplo, reaparece aqui sem uma explicação. Apenas está ali, e isso é o que importa. Assim, Um Drink no Inferno 2 assume-se como uma seqüência sim, mas também como um filme independente dentro da série a qual pertence.
A maneira fanfarrona com que Spiegel comanda seu filme lhe dá a liberdade de inserir um pequeno filme (com a participação de Bruce Campbell, de Uma Noite Alucinante) dentro de seu filme, já demonstrando que apostará muito mais na comédia do que na tensa preparação do original. E Spiegel não tem medo - nem vergonha - de entregar cenas onde as tomadas fogem bastante do padrão, muitas vezes causando estranheza a quem assiste. Há um diálogo, por exemplo, em que só vemos um dos personagens através de um espelho retrovisor de uma caminhonete, enquanto o outro permanece em primeiro plano. Pode até ser que a cena seja um tanto longa, mas vista como um retrato ou quadro separado, fica muito bonita. Em outro momento, dois personagens conversam enquanto um deles faz flexões no chão, com a câmera adotando o seu ponto de vista, subindo e descendo enquanto a cena se desenrola. São cenas que retratam a liberdade com que Spigel dirige o filme, dando a ele o caráter de filme B de boa qualidade. Existem outras tantas tomadas não convencionais aqui, como se a câmera estivesse apoiada sobre o capô de um carro, ou acompanhando o movimento de um ventilador ou o giro da tranca da porta do cofre ou ainda tomadas do interior da boca de um vampiro acompanhando o movimento da mordida! Tudo isso sem a menor vontade de se sobrepor a narrativa, não sendo mais do que um embelezamento estético da obra.
E se mesmo depois de tudo isso, mesmo depois de todos os efeitos especiais toscos, situações inexplicáveis (como um absurdo eclipse que acontece do nada e os bandidos debatendo sobre o roteiro de um filme pornô) e sacadas típicas (como utilizar a cruz vermelha pintada na lataria de uma ambulância para espantar um vampiro ou refletir a luz do sol com a lente de um óculos para queimar outro) alguém ainda duvidava que o humor de Um Drink no Inferno 2 era voluntário, Spiegel zomba do próprio roteiro quando um personagem questiona o porque de vampiros assaltarem um banco.
Com uma boa dose de ação na parte final do filme, com direito a uma boa cena com os personagens envoltos em uma densa fumaça, Um Drink no Inferno 2 não deve em nada ao original quando o assunto é diversão. Apresenta bons personagens e diálogos curiosos, além de ser mais movimentado. Só senti falta mesmo foi de uma passagem maior pelo bar e seus "exóticos" freqüentadores.
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